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Produtora teria desviado US$ 100 mi para filmar "Lobo de Wall Street"

Do UOL, em São Paulo

20/07/2016 16h51

A produtora Red Granite, responsável pelo filme "O Lobo de Wall Street", está sendo acusada de desviar mais de US$ 100 milhões de um fundo público da Malásia para a produção do longa, estrelado por Leonardo DiCaprio e indicado a cinco estatuetas do Oscar em 2014.

Revelado em fevereiro pelo site "Deadline", o esquema de lavagem de dinheiro é investigado pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que apresentou denúncia nesta quarta-feira (20) em uma corte de Los Angeles.

Segundo a acusação, estão envolvidos nas investigações Riza Aziz e Christopher McFarlan, fundadores da Red Granite, o agente e financista malaio Low Taek Jho, um chefe de investimentos do fundo 1MDB (1Malaysia Development Berhad) e até um ator que participou de "O Lobo de Wall Street" em um "papel principal".

O valor total desviado da estatal estaria na casa de US$ 3 bilhões. Desde o ano passado, o 1MDB está no centro de um grande escândalo de corrupção, que teria participação de políticos, banqueiros e empresários. De acordo com o Departamento de Justiça americano, agentes do 1MDB usavam o fundo como "conta pessoal de banco".

Os envolvidos no esquema ainda teriam usado empresas de fachada para pagar dívidas de jogo em Las Vegas, iates de luxo alugados, um decorador de interiores, além de gastar US$ 35 milhões com uma empresa de jato particular.

O principal foco dos investigadores é Low Taek Jho, conhecido como Jho Lo. Ele é acusado de lavar mais de US$ 400 milhões desviados de fundos. No final de "O Lobo de Wall Street", o agente recebe agradecimento especial da produção dirigida por Martin Scorsese.

Criado em 2009 pelo primeiro-ministro malaio Najib Razak, o 1MDB tem como objetivo proporcionar bem-estar econômico e social ao país do sudeste asiático, que tem população superior a 28 milhões de habitantes. Jho Low foi um dos idealizadores do fundo. 

Rede complexa

Em entrevista coletiva realizada nesta quarta (20) em Washington, a procuradora da divisão criminal do Departamento de Justiça dos EUA, Leslie Caldwell, que está à frente das investigações, afirmou tratar-se de uma "complexa teia de transações usadas para lavar bilhões de dólares roubados do povo da Malásia".

Além de empregar o dinheiro para financiar o filme, orçado em cerca de US$ 155 milhões, a Red Granite teria usado o fundo estatal malaio também para adquirir imóveis em várias partes do mundo, avaliados em US$ 100 milhões.

De acordo com a Justiça americana, os direitos futuros sobre "O Lobo de Wall Street", que arrecadou US$ 392 milhões em bilheteria no mundo, estão agora sujeitos a confisco, assim como os bens da Red Granite.

"Nem o 1MDB nem o povo da Malásia viu um centavo de lucro a partir desse filme ["O Lobo de Wall Street"] ou de qualquer um dos outros bens que foram comprados com dinheiro desviado", disse Leslie.

Segundo o "Deadline", que não conseguiu contato com representantes da Red Granite, os escritórios da empresa em Los Angeles amanheceram fechados nesta quarta.

"Nada de errado"

Durante a tarde, a produtora divulgou um comunicado afirmando que a empresa não fez nada de errado e que seus executivos não utilizaram conscientemente de fundos ilícitos.

"Para conhecimento da Red Granite, nenhum dos financiamentos que a empresa recebeu quatro anos atrás era ilegítimo, e não há nada na ação civil de hoje alegando que Red Granite sabia disso", afirmou a empresa.

"Red Granite segue cooperando plenamente com todas as investigações e está confiante de que, quando os fatos forem revelados, ficará claro que Riza Aziz e a Red Granite não fizeram nada de errado."

Ainda segundo o estúdio, a ação não afetará as operações da companhia. "[A ação] limita-se a receitas futuras geradas por um único filme, e não foi apresentada contra a Red Granite ou qualquer um de seus empregados."