"Aquarius" ganha classificação para maiores de 18 anos; diretor ironiza
"Aquarius", estrelado por Sonia Braga e que chega aos cinemas no dia 1º de setembro, recebeu classificação indicativa de não recomendado para menores de 18 anos pelo Ministério da Justiça. Segundo o órgão, o filme do diretor Kleber Mendonça Filho tem cenas de "sexo explícito" e "drogas". A distribuidora Vitrine Filmes chegou a entrar com recurso na Justiça, pedindo que a classificação fosse revista para 16 anos, mas o pedido foi negado.
No Facebook, o cineasta ironizou a decisão. "Alguém no governo fortalecendo o marketing desse filme. Incrível", escreveu Filho em sua página.
Ao UOL o diretor disse não poder afirmar que seja uma decisão política, relacionada ao protesto realizado pela equipe do filme contra o impeachment, durante o Festival de Cannes.
"Não tenho essa informação. Pelo que sei, a equipe de classificação fez um relatório completo e técnico. E está lá há muitos anos. Apenas acho que outros filmes recentes tiveram [classificação indicativa de] mais de 16 [anos] ou mais de 14. Não creio que 'Aquarius' pertença a mesma categoria de sexualidade de 'Love 3D' ou 'Ninfomaníaca."
Questionado sobre o momento de possível cerceamento ao direto a liberdade de expressão no Brasil, o cineasta afirma que está observando preocupado os recentes acontecimentos políticos. "Vejo que há motivo para estarmos alertas. Liberdade de expressão é essencial numa democracia."
Em seu post original no Facebook, Kléber se referia especificamente a "Boi Neon", que tem cenas de sexo e nudez semelhantes a "Aquarius" e recebeu classificação de não recomendado para menores de 16 anos, e "Para Minha Amada Morta", que recebeu classificação de 14 anos e apresenta uma cena de ereção em close, como o próprio diretor, Aly Muritiba, comentou na postagem na rede social.
Diretora da Vitrine, Silvia Cruz contou que a notícia da decisão foi recebida com surpresa. "Veio classificação de 18 anos para nossa surpresa. Eles alegam cenas de sexo e drogas, mas são cenas curtas e que não deveriam ganhar uma classificação de 18 anos. Chegamos a comparar com outros filmes, como 'Tatuagem' (2013) e 'Boi Neon' (2015), classificados como 16 anos. Nesse caso, eles foram irredutíveis."
Na página oficial do filme no Facebook, a produção também se manifestou. "É incrível ver que 'Aquarius' está se tornando o filme mais controvertido do ano, aparentemente por celebrar a vida de maneira generosa, por ter um ponto de vista social e político e ainda trazer como personagem principal essa coisa assustadora para muita gente que é uma mulher forte, que não leva desaforo para casa. Com essa censura 18 anos, 'Aquarius' torna-se, estranhamente, ainda mais forte", diz o texto publicado na tarde desta terça-feira (23).
Protestos contra impeachment
"Aquarius" foi o único longa-metragem brasileiro de ficção selecionado para participar do Festival de Cannes deste ano e se tornou um dos filmes mais comentados ao fazer uma passagem ruidosa pelo evento, que aconteceu em maio. No tapete vermelho, a equipe do filme aproveitou a visibilidade internacional para protestar contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Ao chegar ao topo da escadaria do Palácio dos Festivais, elenco e produção do longa exibiram diversos cartazes, em francês e em inglês, que diziam: "Um golpe está acontecendo no Brasil"; "54.501.118 de votos foram queimados"; "Misóginos, racistas e impostores como ministros"; "O mundo não pode aceitar este governo ilegítimo"; e "Dilma, vamos resistir com você".
Silvia acredita que a classificação alta pelo Ministério da Justiça não tenha relação com questões políticas. "Espero que não. As pessoas que trabalham na classificação indicativa estão lá há muito tempo. A classificação indicativa segue uma cartilha. Cenas de sexo, por exemplo, dão 18 anos, mas o entendimento da cena de sexo é subjetivo."
O filme
"Aquarius", dirigido por Kléber Mendonça Filho (o mesmo de "O Som ao Redor"), tem Sonia Braga interpretando uma crítica de música aposentada. Ela trava uma disputa contra um empresário que quer demolir o prédio onde ela mora —o último de seu estilo arquitetônico em Boa Viagem, no Recife— para construir um novo empreendimento.
Em uma das cenas, a personagem de Braga faz sexo com um garoto de programa, vivido por Allan Souza Lima ("A Regra do Jogo"). No elenco também estão Maeve Jinkings, Irandhir Santos e Humberto Carrão.
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