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Diretor de "Pequeno Segredo" pede "união do Brasil" para filme no Oscar

Diretor de "Pequeno Segredo", David Schürmann afirmou ter sido pego de surpresa com o anúncio - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Diretor de "Pequeno Segredo", David Schürmann afirmou ter sido pego de surpresa com o anúncio
Imagem: Reprodução/Facebook

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

12/09/2016 19h58

Em poucos dias, o filme “Pequeno Segredo” deixou de ser pequeno para se tornar o grande representante brasileiro ao Oscar 2017. O segundo longa-metragem de ficção de David Schürmann até então era apenas uma promessa, com exibições ocasionais, quando nesta segunda-feira (12) tomou o lugar que muitos julgavam ser de “Aquarius”.

Em seu escritório, em São Paulo, o diretor David Schumann recebeu o anúncio com surpresa. “Fiquei pulando uma meia hora”, afirmou, ao UOL. “Tinha filmes maravilhosos, como 'Aquarius', como 'Nise', como Aldo ['Mais Forte que o Mundo', cinebiografia do lutador José Aldo] e todos tinham chances de ser nomeados”.

Para traçar a estratégia de campanha do filme nos Estados Unidos, o diretor pretende reunir diretores e produtores brasileiros, que já passaram pela experiência de tentar uma vaga na categoria de filme estrangeiro, e faz um pedido: “É hora da indústria cinematográfica se unir, e todo o Brasil, a favor do ‘Pequeno Segredo’. Para que possamos ter a chance de trazer a estatueta”.

A tarefa pode ser difícil. Tão logo o anúncio foi feito, as redes sociais se movimentaram a favor e contra o filme escolhido. Direto do Festival de Toronto, onde apresenta “Aquarius” ao lado de Sônia Braga, o cineasta Kleber Mendonça Filho reagiu. “É bem possível que a decisão da comissão esteja em total sintonia com a realidade política do Brasil”, escreveu no Facebook. Já na página de “Pequeno Segredos”, comentários negativos eram apagados (o diretor afirmou ter repreendido a equipe de redes sociais quando soube).

Cineasta formado na Nova Zelândia, onde dirigiu programas de TV, David afirmou que respeita a opinião de Kleber, mas execrou o uso político na questão. “Acho que o filme tem seu próprio mérito. Nem eu, nem minha família temos filiação a nenhum tipo de partido. Quero falar do filme. É uma pena que tudo fique emaranhado embaixo desse peso todo. Não podemos falar nada. Tudo é política agora? Ou você é de direita, ou é de esquerda? Ou é golpista ou não é golpista?”, queixou-se.

"Tudo é política?"

“Aquarius” tem carregado esta energia política desde sua passagem pelo Festival de Cannes, em maio, quando sua equipe fez um protesto contra o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, gerando manifestações contrárias inclusive dentro do governo. O próprio ministro da Cultura, Marcelo Calero, chegou a condenar o ato.

A polêmica continuou com a formação do comitê que escolheu o representante, após declarações dadas por um dos membros da comissão, Marcos Petrucelli, contra as posições políticas de Kléber Mendonça Filho.

Sem citar Petrucelli, David afirmou confiar na independência do comitê: “Essa coisa de ‘já está ganho’, ‘[Aquarius] é o candidato natural’ é muito perigoso. Você coloca as pessoas contra a parede. Poxa, o Kleber é incrível, foi para o Festival de Cannes, qual foi a última vez que um filme brasileiro esteve lá? E 'Pequeno Segredo' está começando sua vida agora”, afirmou. “A pergunta era: 'qual filme vai representar o Brasil da melhor forma?'. Tirando a polêmica à parte de um votante, os demais são pessoas de alto gabarito, respeitadíssimos na nossa indústria”, disse.

Para ele, o filme "conversa" com a Academia ao mirar tanto no público comercial quanto no cinema de arte. “É uma estrutura diferente, na linha de ‘Babel’ [filme dirigido por Alejandro González Iñárritu, em 2006, com estrutura fragmentadas e múltiplas histórias]. Fala melhor com a Academia do que com [os festivais de] Cannes ou Berlim.”

"Pequeno Segredo" conta a história de Kat, a menina portadora de HIV adotada pela sua família em uma de suas viagens. Julia Lemmertz, Maria Flor e Marcelo Antony integram o elenco.

Há algumas semanas a página do filme no Facebook intensificou as postagens, ressaltando suas qualidades essenciais para o que consideravam um filme com “cara de Oscar”.

Ele resgata a história da própria família para explicar a confiança no filme: “Meus pais, em 1974, sonharam em dar a volta ao mundo com a família e nós fizemos isso. É uma família que acredita que o impossível é possível”.

Programado para chegar aos cinemas de todo país em 10 de novembro, "Pequeno Segredo" fará uma pré-estreia limitada antes de 30 de setembro, ainda sem data definida, para poder se qualificar a concorrer ao Oscar 2017.