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Gregório Duvivier: Filme desconstrói "paulista chato" e "carioca legal"

Gregório Duvivier e Clarice Falcão em "Desculpe o Transtorno" - Reprodução - Reprodução
Gregório Duvivier e Clarice Falcão vivem casal em "Desculpe o Transtorno"
Imagem: Reprodução

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

15/09/2016 09h49

Gregório Duvivier e Clarice Falcão voltam a formar um casal, mas, antes que ocorra um novo racha no Brasil com a notícia, é bom avisar: é só nas telas. Os dois vivem um romance na pele de Eduardo e Bárbara em "Desculpe o Transtorno", que estreia nesta quinta-feira (15) nos cinemas.

Mesmo dois anos depois do fim da relação, há quem continue interessado em ver Clarice e Gregório juntos, principalmente depois que um texto em que ele relembrava o casamento com a atriz e cantora, publicado segunda-feira (12) na coluna dele na "Folha de S.Paulo", causou polêmica --e teve mais de 120 mil compartilhamentos.

Duvivier, que costuma chamar a atenção por suas opiniões políticas, disse ao UOL que, à sua maneira, o filme fala de uma certa divisão do país. "É sobre o coxinha e o petralha que há dentro de nós. E o país só vai avançar democraticamente quando os dois lados souberem dialogar", disse ele.

 

No filme, o personagem de Duvivier sofre de transtorno dissociativo de personalidade, ou só dupla personalidade. Um deles é Eduardo, um "típico coxinha paulista". O outro é Duca, o "carioca descolado". E os dois também estão divididos entre duas mulheres: a paulista controladora vivida por Dani Calabresa e a carioca divertida interpretada por Clarice Falcão.

Paulistas chatos vs. cariocas legais?

Em princípio, o filme parece assumir o partido dos cariocas. O trailer do filme evidencia isso, o que irritou muitos espectadores, mas a intenção, segundo Duvivier e Clarice, era desconstruir os personagens. "Você acha que o paulista é chato e o carioca, legal, mas você começa a ver que o personagem carioca é um babaca, inconsequente, egoísta", disse Clarice, que nasceu no Recife, mas cresceu no Rio de Janeiro. "Minha personagem parece superlegal, independente. Na real, ela é cheia de problemas e fica se escondendo no problema dos outros para não pensar na própria vida". 

Duvivier também defende que o filme aponta para a importância de assumir escolhas. "Para mim, a maturidade não vem de você assumir a confusão, mas de ter responsabilidade sobre o que você faz. Para mim, não dá para usar como desculpa a bebida, a TPM, o signo. Eu sou áries com áries, por exemplo. Não é porque você mudou hoje que você não tem que se responsabilizar pelo que fez ontem. Bancar as consequências das escolhas é muito importante", disse o ator. 

Na perigosa brincadeira de colocar pessoas nos papéis de chatas ou legais, o filme passa a impressão de desculpar o personagem de Duvivier pelas traições a Vivi (Calabresa). Ele discorda: "Naquele caso, é um casamento tão sem diálogo que dá a impressão de tanto faz, sabe? Tem gente que é meio surda e cega, e está bem assim. Mais do que ela ser chata, ela também não está nem aí para ele". Clarice também acha que o problema está mais na relação do casal do que na personalidade da personagem Vivi. "Ela também vai levando porque parece muito certinho esse relacionamento, mas ela não está mais apaixonada". 

Posição política e arte

Duvivier sabe que pode encarar uma possibilidade de boicote ao filme por conta de sua posição política. "Eu acho uma pena que as pessoas não consigam superar isso e ver que uma pessoa pode fazer um filme bom e pensar diferente de você. Eu aprendo muito isso no Porta dos Fundos porque discordamos muito politicamente, mas há muita admiração artística. Isso falta um pouco no Brasil. O outro não é inimigo porque ele pensa diferente".

Clarice também chamou a atenção para falar sobre lei de incentivo à cultura, que costuma ser motivo de mais ódio aos que captam dinheiro para produções. "Como se isso não envolvesse também o trabalho de milhares de pessoas, do cara da técnica ao projecionista do filme. É uma pena que as pessoas pensem assim".