Diretor lança 1° filme feito com iPhone no Brasil: "Surgiu da necessidade"
Entre faroestes e comédias, produções autorais e blockbusters, um filme brasileiro chega a nove salas (entre Rio, Curitiba, Porto Alegre, Salvador, Belo Horizonte e São Paulo) nesta semana como uma pequena anomalia. Feito sem dinheiro público, nenhum rosto conhecido e nenhuma câmera profissional.
“Charlote SP” é o primeiro filme nacional a ser gravado com um iPhone 5, o mesmo que o diretor Frank Mora utiliza no dia a dia. Não se trata, contudo, de reinventar a roda, a exemplo de “Tangerine”, do americano Sean S. Baker, que ganhou notoriedade ao ser inteiramente gravado com um smartphone. “Surgiu da necessidade, que é a mãe da invenção”, teoriza.
“Foi uma maneira que eu vi de passar por cima de editais, desse processo todo que eu não estava a fim de entrar. Queria gastar esse tempo gravando”, ele explica, ao UOL. “Fizemos uns testes no interior em uma casa de amigos, na época o ‘Tangerine’ não era nem falado. Eu logo vi que dava para gravar em full HD. Aí essa ideia não saiu mais da minha cabeça”.
Em duas horas, seu celular acompanha Charlote (Fernanda Coutinho), uma modelo internacional, filha de um empresário milionário, que, após anos morando fora do país, volta a São Paulo para se reconectar com a cidade e com a própria vida. Seu antigo amigo, Marcelo Scorsésar (Guilherme Leal), como sugere o apelido (uma brincadeira com o diretor americano Martin Scorsese), agora é cineasta e planeja gravar um filme com ela.
Os testes, claro, são feitos com celular, a exemplo do próprio diretor. Após fazer a série “Ponto de Virada” para a TV Cultura, ele construiu a história ao lado de Alexei Jorge, pensando na sua amiga Fernanda Coutinho como protagonista.
Adaptando a máxima do "cinema verdade" a “celular na mão e uma ideia na cabeça”, ele angariou R$ 80 mil com três investidores e comprou um estojo para o celular, com duas lentes, uma ocular e outra teleobjetiva, pela bagatela de US$ 40.
“O estojo deixa o celular mais robusto e dá estabilidade na hora de filmar. Chegamos a fazer algumas cenas com um iPhone 6 e com o modelo 4, mas basicamente eu usei o meu”, conta.
Com mais US$ 4, baixou o aplicativo Filmic Pro, usado também por Sean Baker no longa americano, e pronto: As filmagens começaram, mas não sem alguns perrengues.
“O áudio foi meu maior drama durante a produção. Captamos direto no celular e quando eu olhava [o material filmado] na ilha, ouvia uns chiados”, relembra. A solução chegou com a equipe de pós-produção e de um profissional especializado em atenuar as interferências.
“Charlote SP” também foi gravado com luz natural, e a bateria – reclamação constante entre nove em cada dez usuários do iPhone – foi das menores preocupações. “Recarregava nos intervalos das gravações”.
A equipe reduzida e a ausência de grandes equipamentos fez com que o filme trouxesse um olhar particular e discreto de uma metrópole grande como São Paulo – talvez o grande trunfo da técnica.
Com o filme nas salas, no entanto, ele se recusa a colocar a ferramenta de bolso no lugar de um set profissional. “Uma coisa não anula a outra, é mais uma possibilidade de cinema. Há algum tempo, era caríssimo tratar questões de luz e áudio e as pessoas já estão fazendo isso em suas casas”.
Por mais que o filme não chegue com o mesmo acabamento de um longa profissional, ele se diz orgulhoso com o resultado. “A coisa mais legal é receber uma mensagem de alguém de longe dizendo que achou bacana e quer fazer também. Com um celular, ele pode contar essa história.”
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