Renée Zellweger: Queria mostrar que Bridget evoluiu, mas também empacou
Lá se vai uma década e meia desde a primeira adaptação da série de livros "Bridget Jones" para o cinema. Para ser de fato exata, no entanto, esta escavação pop precisa retroceder até 1995, quando Helen Fielding, então com 37 anos, publicou sua primeira coluna no diário “The Independent” a partir do ponto de vista de uma jovem inglesa, cinco anos mais nova do que a autora, alguns quilos acima do peso, solteiríssima e às voltas com questões pertinentes para as mulheres de seu tempo: a busca pela independência, agora com valores e desafios diversos dos desbravados pelas pioneiras feministas dos anos 1960 e 1970; o equilíbrio entre crescimento profissional e realização amorosa; e, claro, Londres, Londres, Londres.
Pois “O Bebê de Bridget Jones”, a partir de quinta-feira (29) nos cinemas brasileiros, é a aguardada terceira parte, 12 anos depois de “Bridget Jones no Limite da Razão”, dirigido em 2004 pela inglesa Beeban Kidron. Neste intervalo, Hollywood foi dominada pelos filmes de super-heróis e as comédias românticas com estrelas de primeira grandeza ficaram em segundo plano. Bridget agora tem 42 anos e é vivida pela mesma Renée Zellweger, também cinco anos mais velha do que a personagem, exatamente como Fielding em 1995.
Mas Bridget Jones segue relevante após estes anos todos? É o que garantem, no vídeo acima, a protagonista, seus dois interesses amorosos e possíveis pais de seu bebê – sorry, este texto está isento de spoilers –, vividos pelo antigo amor Mark Darcy (Colin Firth) e o novíssimo em folha Jack (Patrick Dempsey), e Sharon Maguire, a diretora do original, de volta ao comando da história.
"É sempre assustador voltar a algo tão marcante e tentar que ele seja novamente um sucesso. Não vou mentir, fiquei assustada todos os dias das filmagens e ainda estou assustada agora (risos). Mas no set percebi que somos algo assim como uma amorosa família maluca. Conheço Renée e Colin muitíssimo bem, já há um tal conforto entre nós que podemos decidir cenas só no olhar, na base da telepatia, sem ter de falar um com o outro", diz Maguire.
Foram exatos doze anos entre o segundo e o terceiro tomo de “Bridget Jones”. Vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante por “Cold Mountain” em 2003 e indicada outras duas vezes, por “Chicago” e pelo “Bridget” original, Zellweger tomou decisão rara em Hollywood: deixou de lado o trabalho como atriz para investir em projetos pessoais outros, incluindo a produção de um programa de televisão e os cursos de roteiro na UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles). A atriz não pisava em um set de filmagem desde “A Minha Canção de Amor”, em 2009, um indie lançado diretamente em DVD.
Aos 47 anos, expressões faciais bem diversas das da mais recente Bridget Jones, que resultaram em uma polêmica sobre se ela fez ou não uma plástica mal-sucedida (a atriz nega), ela voltou à personagem com um assumido mix de apreensão e excitação.
"Foi assustador. Tenho grande afeição por ela e entendo que um monte de gente tem também, as fãs são bem vocais. Tenho que respeitar isso. É uma responsabilidade enorme fazer certo. Foi um desafio singular voltar a Bridget depois de tantos anos e tentar mostrar que ela evoluiu de alguma maneira e, por outro lado, também empacou em certos aspectos da vida, como todos nós, não?", pergunta, já senhora da resposta.
Bridget quarentona e feminista
No novo “Bridget Jones” a protagonista é uma produtora de sucesso em um dos derradeiros programas jornalísticos sérios da televisão britânica, e não está, como pode fazer pensar o título, vivendo uma clássica crise dos 40, infeliz com a solteirice e a ausência de crianças em casa. Mas surpreendentes noitadas – uma com o passado rondando a porta de Bridget, outra com um novo personagem, vindo do outro lado do Atlântico – podem ser as responsáveis pelo primeiro rebento da anti-heroína urbana mais engraçada do lado de lá do Canal da Mancha.
"Tudo acontece para ela de uma forma muito pouco funcional, bem à la Bridget. Quis ser verdadeira ao personagem na história da gravidez. Inconscientemente, eu, Emma e Dan criamos uma situação, creio, que nos leva a pensar nela como uma pessoa de seu tempo, moderna, e sim, feminista, embora ela não seja o estereótipo do que todo mundo imagina que uma feminista seja", diz a diretora.
A fala tem razão de ser. A Emma em questão é nossa velha conhecida Thompson, atriz premiada e roteirista de mão cheia. O Dan é o Mazer, roteirista de “Borat”. Eles trabalharam juntamente com Fielding para transportar dona Bridget para o século 21. E aqui, ao contrário das personagens de “Sex & the City”, não é o encontro do homem perfeito que motiva a trama imaginada pela dupla de roteiristas. A indecisão sobre quem é o pai do filho de Bridget, e até mesmo a possibilidade de um final feliz que una a protagonista com aquele que não a engravidou, ilustra bem as possibilidades outras de uma comédia romântica nos dias de hoje.
"Foi importante incluir novos personagens, e pra mim Patrick (Depmsey) surgiu de uma maneira engraçadíssima. Havia no roteiro um novo personagem, o Jack, que era americano. Queria alguém que fosse de fato claramente americano, que fosse um contraste total com o Darcy de Colin, que representava, muito claramente, o Velho Mundo. Pensei: alguém que represente o sonho americano, o sonho de um americano, McDreamy! Bora perguntar então para o próprio McDreamy da série televisiva 'Grey’s Anatomy'? Ele leu, concordou e pronto. Nosso triângulo amoroso estava completo", diz a diretora.
Completo, em termos. Hugh Grant, o eterno galã Daniel Cleaver, aparece no filme de um modo especial, ainda que não exatamente em carne e osso. O ator não quis participar do terceiro tomo, mas suas viúvas – dentro e fora da tela – batem ponto em “O Bebê de Bridget Jones”. Grant, que é fã do livro “Louca pelo Garoto”, de Fielding, afirmou em entrevistas ter achado o roteiro “muito diferente da história original”. No livro, Jones é mãe viúva – Mark morreu em uma explosão de uma mina em uma área de guerra – e Daniel continua sassaricando Londres afora. E, de uma maneira para lá de inventiva, digna de telenovelas brasileiras, Thompson e Fielding encontraram um modo para o personagem retornar, quiçá como protagonista, em uma próxima encarnação de Bridget Jones.
Foco nos personagens
O filme, que vai mais fundo no humor físico, sem cair no escracho, recebeu críticas positivas no Hemisfério Norte (77% de aprovação de acordo com o site RottenTomatoes), tem um orçamento relativamente baixo para produções de Hollywood nos dias de hoje – US$ 35 milhões – e não tem muitos pares no cinema americano contemporâneo.
"É um filme focado nos personagens, com uma protagonista que questiona o que a sociedade diz ser o certo, que desafia o que e como ela deveria ser segundo as normas vigentes. Isso é cada vez mais raro", diz Zellweger
Antes de a reportagem do UOL deixar a suíte do hotel em Mayfair, a poucos passos do Hyde Park, a atriz, tão espontânea quanto sua personagem mais famosa, fez ainda questão de dizer que torceu – “empolgada” – pela seleção brasileira de futebol durante as Olimpíadas.
"Foi sensacional! Com tudo o que vocês, brasileiros, passaram nos últimos anos, mereciam muito a vitória. E todos, não apenas os jogadores e torcedores de futebol, estão de parabéns, as Olimpíadas do Rio foram sensacionais!"
Três finais
A indecisão sobre com quem Bridget terminaria em “O Bebê (...)” se refletiu nos três finais filmados por Maguire, interessada em trazer de volta para a franquia a paixão dos fãs desenvolvida no original. Firth diz que “se tratou de um efeito de mestre, que faz as pessoas discutirem sobre o destino dos personagens, fica uma obra mais viva”, no que tem o apoio de Dempsey.
"Os três finais são interessantes, mas não vou dizer qual deles eu prefiro. O mais importante é o público gostar e perceber mais uma vez a inteligência, o senso de humor e a habilidade para conseguir o que quer de Bridget, segredos do sucesso desta franquia tão única".
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