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Porta dos Fundos dá voz a animação boca suja e "progressista" de Hollywood

Integrantes do Porta dos Fundos posam em pré-estreia de "Festa da Salsicha"  - Marcos Ferreira/Brazil News - Marcos Ferreira/Brazil News
Integrantes do Porta dos Fundos posam em pré-estreia de "Festa da Salsicha"
Imagem: Marcos Ferreira/Brazil News

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

06/10/2016 06h00

Logo que clicou no trailer da animação “Festa da Salsicha” na internet, o comediante Antonio Tabet já disparou aos colegas de Porta dos Fundos uma entusiasmada mensagem via celular. Eles precisavam assistir aquilo. A história, infame, seria o pretexto perfeito para a primeira dublagem coletiva do grupo em um filme. A sugestão foi acatada por unanimidade.

Produzido pelo ator e humorista Seth Rogen, o longa, que estreia nesta quinta (6) no Brasil, conta um anárquico romance de uma salsicha (masculina) e um pão (feminino), que dão início a uma revolução em um supermercado. Tudo porque, em vez de Deuses, como religiosamente creem os produtos ali, os humanos, na verdade, não passam de assassinos “comedores de comida”.

Adulta, a trama é temperada com piadas de humor negro, tiradas de duplo sentido, violência ainda que alimentar e um longo cardápio de insinuações sexuais à la "tiozão". Apenas para começar. Palavrões também comem solto, o que ajudou a classificação indicativa a chegar a 16 anos.

“[Estar no filme] É a nossa cara e faz todo o sentido. Até porque palavrão nunca foi tabu pra gente. Aqui no Brasil, infelizmente, mesmo o produto é mais adulto, as dublagens costumam ser um Deus nos acuda. Em vez de mandar o cara tomar no cu, eles mandam o cara ir pro inferno. É muito difícil”, diz Antonio Tabet ao UOL.

“Sou o mais nerd do Porta. Entro muito em fóruns gringos de quadrinhos, animação e cinema. Quando vi o trailer, achei hilário. De um humor negro sensacional. Senti a mesma coisa quando vi 'Family Guy', 'South Park', 'Simpsons' pela primeira vez."

Em “Festa da Salsicha”, enquanto Gregório Duvivier interpreta uma Salsicha atarracada e Fábio Porchat é um bolinho (na versão brasileiro) alegre e não perecível, Tabet dá voz a um mastigado chiclete tetraplégico. Uma mistura de Stephen Hawking com o alienígena Krang, a gosma robótica de "As Tartarugas Ninja".

Além da dublagem, o Porta dos Fundos também assina a adaptação do roteiro, que precisou trocar nomes de produtos típicos das prateleiras americanas. Exemplo: por aproximação fonética, o vilão "Douche", uma "chuca" [limpador vaginal] vendida em supermercados da América do Norte, virou Ducha.

“Tem muita tradução que é um baita desserviço. A gente se preocupou mais em manter a autenticidade do roteiro e manter as piadas. Tentamos fazer do jeito que fosse mais “errado” possível. Assim como na hora de dublar.”

Progressismo

Por trás de seu revolucionário enredo, “Festa da Salsicha” traz uma contundente crítica a temas ligados ao conservadorismo americano. O fanatismo religioso, a intolerância e a sociedade de consumo são alvos fáceis do filme, que surpreendeu a Sony faturando US$ 96,8 milhões nos Estados Unidos, ante um orçamento de US$ 19 milhões.

“A mensagem que fica no final é de que a gente tem coisa melhor para fazer do que brigar por uma crença. E isso tem muito a ver com o que a gente prega no Porta. Nos nossos vídeos, gente nunca criticou as religiões da maneira como são. Criticamos o fanatismo. Batamos no pastor ‘fdp’ e charlatão, no padre pedófilo, no cara que transforma a religião em plataforma política.”

A ironia despudorada da animação é a cara de quem a produziu. A turma de Seth Rogen, da qual também fazem parte o ator James Franco e o cineasta Evan Goldberg, também está por trás de comédias como “Vizinhos” e o polêmico “A Entrevista”. A lei é explorar ao extremo as raias do humor e do chamado “politicamente correto”. De certa maneira, seria uma versão americana do Porta dos Fundos (ou vice-versa).

“Não gosto de fazer esse tipo de comparação, porque soa pretensioso. Esses caras são astros de Hollywood. Mas é evidente que há muitas similaridades no tipo de humor que a gente faz. Talvez tenhamos as mesmas referências. Eu gosto muito do trabalho deles e acho que se conhecessem o nosso, também iriam gostar.”