Topo

40ª Mostra terá 322 filmes, presença na periferia e destaques de festivais

O pôster da 40ª Mostra, do diretor italiano Marco Bellocchio - Divulgação - Divulgação
Pôster da 40ª Mostra, do diretor italiano Marco Bellocchio
Imagem: Divulgação

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

08/10/2016 12h05

A crise econômica e política que atinge o Brasil desde o ano passado continua sendo uma preocupação para a organização da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Assim como aconteceu no ano passado, a diretora da Mostra Renata de Almeida disse que ficou preocupada com a realização do evento este ano devido ao momento político turbulento do país.

"Pensei que não poderíamos ter uma Mostra à altura de seus 40 anos por conta do que vem acontecendo, mas com a presença de sempre dos apoiadores, pudemos fazer uma mostra forte, com 322 filme e com muitos diretores que a gente admira", disse Renata, durante conversa com jornalistas na manhã deste sábado (8).

Entre as produções que serão exibidas, Renata destacou os dois primeiros episódios da série "O Jovem Papa", de Paolo Sorrentino, com Jude Law e Diane Keaton, que estreou no Festival de Veneza. "Conseguimos confirmar isso no catálogo anteontem. Ainda bem que não somos um evento convencional e conseguimos incluí-lo".

Neste ano, uma parceria com a SPCine, órgão municipal de fomento ao cinema, levará a Mostra para a periferia de São Paulo. Filmes do evento serão exibidos em 15 CEUs que já fazem do circuito da SPCine. O diretor do órgão Alfredo Manevy ainda anunciou que a SPCine concederá prêmios de R$ 35 mil e R$ 15 mil para uma ficção e um documentário brasileiros exibidos na Mostra.

"Pensamos se deveríamos criar uma programação especial para os CEUs e decidimos que não poderia haver diferença. A programação dos CEUs é a programação da Mostra. A única diferença é que muitos filmes que serão exibidos lá falam de juventude, para atender a maioria dos espectadores que frequentam esses espaços", disse Renata.

A diretora da Mostra ainda afirmou que a edição deste ano quer discutir o cinema negro no Brasil e no mundo. Haverá a exibição de um documentário sobre Antonio Pitanga, ator brasileiro que também recebe o prêmio Leon Kakoff, e será exibido The Birth of a Nation", filme sobre uma rebelião de escravos nos EUA que foi muito elogiado no Festival de Sundance deste ano e que gerou polêmica recentemente, quando veio a público que seu diretor havia sido acusado de estupro quando estava na faculdade.

Cena do filme "The Birth of a Nation", do diretor Nate Parker - Divulgação - Divulgação
Cena do filme "The Birth of a Nation", do diretor Nate Parker
Imagem: Divulgação

Festivais

Além de "O Jovem Papa" e "The Birth of a Nation", a programação da 40ª Mostra, que vai de 20 de outubro a 2 novembro, contará com presença forte de títulos de destaque no circuito de festivais internacionais de cinema deste ano. Entre eles estão "A Garota Desconhecida", de Jean-Pierre e Luc Dardenne, selecionado para a competição do Festival de Cannes deste ano. 

Os irmãos belgas abriram a Mostra em 2011, com "O Garoto da Bicicleta". O novo longa segue uma escritora que busca inspiração para finalizar o roteiro de uma peça.

Também de Cannes vem "Elle", filme de Paul Verhoeven com Isabelle Huppert, escolhido pela França para concorrer ao Oscar de filme estrangeiro. De Veneza e Toronto vem “Animais Noturnos”, novo filme do estilista Tom Ford que venceu o Grande Prêmio do Júri no festival italiano. 

Do Festival de Berlim a Mostra traz "Canção para um Doloroso Mistério", filme de quatro horas do filipino Lav Diaz, o alemão "24 Semanas", de Anne Zohra Berrached, o iraniano "A Dragon Arrives!", de Mani Haghighi, o norte-americano "Zero Days", de Alex Gibney, e o bósnio "Morte em Sarajevo", de Danis Tanovi?, vencedor do Grade Prêmio do Júri.

A Mostra ainda conta com dois títulos que estrearam no Festival de Sundance 2016: “Sr. Pig”, road movie dirigido pelo ator mexicano Diego Luna com o veterano Danny Glover, e o norte-americano "Desconhecida", de Joshua Marston com Rachel Weisz.

Vinheta e cartaz

A vinheta que será exibida antes de todas as sessões este ano (veja no topo da página) foi feita a partir de desenhos do cineasta italiano Marco Bellocchio, que também assina o pôster da 40ª edição e se inspirou em seu filme "Bom Dia, Noite" (2003), que retrata o sequestro do político italiano Aldo Moro por guerrilheiros de esquerda das Brigadas Vermelhas, em 1978. Bellocchio também teve seu filme, "Belos Sonhos", escolhido para a sessão de abertura da Mostra, no dia 19. 

O filme é um dos dez que integram a retrospectiva que o cineasta ganhará na Mostra 2016, que também conta com seu longa mais recente, "Belos Sonhos", ainda inédito no Brasil, que estreou no Festival de Cannes deste ano e se inspira no livro autobiográfico "Fai Bei Sogni", em que o jornalista Massimo Gramellini narra sua incapacidade de superar a morte da mãe.

Convidados

Bellochio é também um dos convidados internacionais do evento e virá a São Paulo para receber o prêmio Leon Cakoff, além de ministrar uma masterclass.

Outro convidado já confirmado é o cineasta norte-americano William Friedkin, conhecido por filmes como "O Exorcista" e "Operação França", que completa 45 anos. Os dois longas estão entre os sete títulos do diretor que serão exibidos em uma retrospectiva, e Friedkin também ministrará uma masterclass no dia 22 de outubro.

Mais homenagens

O cineasta Hector Babenco, morto este ano, e os poloneses Andrzej Wajda e Krzysztof Kieslowski  serão outros diretores lembrados nos 40 anos na Mostra.

Morto em julho após uma parada cardíaca, o argentino naturalizado brasileiro Babenco terá seu segundo longa, "Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia", de 1977, exibido em cópia restaurada. A história do bandido que ganhou notoriedade nos anos 1970 pelos roubos e fugas espetaculares foi o primeiro filme a ganhar a Mostra pelo voto popular, na sua primeira edição.

O festival também trará uma retrospectiva da obra do polonês Andrzej Wajda, diretor de um cinema com forte teor político que, aos 90 anos, já é dono de um Oscar e um Leão de Ouro honorários.

Outro polonês, Krzysztof Kieslowski, terá seu "Decálogo", série de dez telefilmes inspirados nos pecados capitais, exibidos em uma maratona. Lançados em 1989, os filmes foram projetados pela primeira vez no Brasil também na Mostra, que apresentou a obra de Kieslowski, autor da famosa trilogia das cores (“A Liberdade É Azul”, “A Igualdade é Branca” e “A Fraternidade é Vermelha”) ao público brasileiro.

Encerramento

Diferente dos anos anteriores, nesta edição a premiação da Mostra ocorrerá na área externa do Auditório Ibirapuera. Após a entrega dos prêmios, "General" (1926), filme mudo do mestre do humor Buster Keaton, será exibido com trilha executada pela Sinfônica de Heliópolis sob a regência do maestro americano Robert Israel, autor da nova trilha sonora desta e de outras películas do gênero.