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Completando 40 anos, Júlio Andrade comemora fase concorrida no cinema e TV

Júlio Andrade em cena de "Sob Pressão" - Divulgação
Júlio Andrade em cena de "Sob Pressão" Imagem: Divulgação

Carlos Helí de Almeida

Colaboração para o UOL

08/10/2016 13h48

Julio Andrade está completando 40 anos neste sábado (8), mas tem muito mais o que comemorar nesta noite além do aniversário redondo. O ator gaúcho radicado em São Paulo desembarca no Rio com a família – a mulher, a fotógrafa Ellen Cunha, e o primeiro filho do casal, Joaquim, de 1 ano e 7 meses  –  para acompanhar a estreia de  “Redemoinho”, às 21h45, na seção Première Brasil do Festival do Rio. Dirigido por José Luiz Villamarim, estreante em cinema, o drama é um dos três novos filmes do ator em cartaz na maratona carioca.

Além de “Redemoinho”, o ator ainda poderá ser visto em “Sob Pressão”, de Andrucha Waddington, e “Elis”, de Hugo Prata. Quando o festival acabar, ele ainda pretende acompanhar o lançamento de “Maresia”, de Marcos Guttman, que chega ao circuito comercial brasileiro em novembro, com o qual venceu o prêmio de melhor ator no Cine Ceará deste ano. “Só me dou conta do quanto trabalhei quando dois ou três filmes meus aparecem juntos em um festival, como agora. Mas só tenho que comemorar, mesmo. Cinema é o lugar onde eu me sinto mais confortável”, avalia Andrade.

Versatilidade

Dono de um de um biótipo bastante flexível, que lhe permite se encaixar em personagens distintos, é um dos atores mais requisitados pelo cinema e a televisão – acabou de fazer a série “Justiça”, também dirigida por Villamarim. Mas a paternidade e a nova idade inspiraram um balanço de vida. “Não tenho ambição de trabalhar pra caramba, aparecer em revistas. Só quero fazer personagens que me interessam. Os meus 40 anos estão me dando essa segurança. Quero dedicar mais à formação do caráter do meu filho e a lances criativos, como a marcenaria, que é um hobby”.

Júlio Andrade - Estevam Avellar/Globo - Estevam Avellar/Globo
Na série "Justiça", Júlio Andrade viveu o cantor e mestre de obras Firmino
Imagem: Estevam Avellar/Globo

Desde “Cão sem Dono” (2007), de Beto Brant e Renato Ciasca, com o qual ganhou projeção nacional, Andrade já interpretou um jagunço em “A Hora e a Vez de Augusto Matraga” (2011), de Vinícius Combra, encarnou o cantor e compositor Gonzaguinha em “Gonzaga, de Pai para Filho” (2012), de Breno Silveira, e ganhou músculos para fazer um pai de família transformado em garimpeiro em “Serra Pelada” (2012), de Heitor Dhalia. Em “A Estrada 47”, de Vicente Ferraz, vestiu o uniforme de  pracinha na Segunda Guerra.

“Sempre fui muito visceral, desde a época em que fazia teatro em Porto Alegre. Eu me jogava muito nos papéis”, admite o ator, egresso do grupo gaúcho Depósito de Teatro. “Com o tempo e a experiência, fui aprendendo a me separar dos personagens, não levá-los para casa. O Breno (Silveira) foi quem me disse que a melhor coisa do trabalho é poder voltar para casa, onde há uma família te esperando. Isso também gera um comprometimento com o filme, com os profissionais com que você trabalha, porque você não está ali só para pagar o carro do ano, acumular dinheiro”.

A dificuldade é resistir aos projetos irrecusáveis, que continuam aparecendo em seu caminho. “Quando assisto a um filme, também gosto de ser levado para outros lugares. Não consigo ter esse distanciamento com filmes como ‘Redemoinho’, por exemplo. Já ‘Maresia’ me pegou pelo roteiro, sobre a obsessão de um perito em artes por um artista plástico. Em ‘Sob Pressão’ encontrei um universo bem difícil, que é essa coisa do ambiente hospitalar, do qual sempre tentei fugir”, explica o ator, que já fez novelas e séries de TV como “Força-Tarefa” (2011) e “O Rebu” (2014).

Filmes baseados em livros

Baseado no livro “Inferno Provisório - O Mundo Inimigo Vol. II”, do escritor mineiro Luiz Ruffato, “Redemoinho” descreve o reencontro de dois amigos de infância, depois de muitos anos afastados. Andrade interpreta Gildo, que deixou a pequena Cataguases e foi ganhar a vida em São Paulo, atrás do sonho de vencer na cidade grande. Quando volta à cidade natal para vender a casa da família, reencontra Luzimar (Irandhir Santos), seu melhor amigo, que nunca saiu da cidade. O encontro desperta memórias, remexe em segredos e inspira um acerto de contas.

“Acho que todos nós, em algum momento do filme, vamos nos ver em algum daqueles personagens. Na ambição do Gildo, ou em Luzimar, o seu oposto, apesar de virem de famílias bem parecidas. Ou até mesmo na Marta, mãe do Gildo, a personagem da Cássia Kis (Magro), uma mulher que viveu a vida inteira na inércia. Mas nem todo mundo vai gostar, porque ‘Redemoinho’ tem um tempo diferente, que eu amo. A maioria das pessoas hoje quer coisas mais rápidas, mastigadas, e o filme é muito mais profundo. Ele só me bateu quando acabei de filmar. Foi arrebatador”, analisa o ator.

Júlio Andrade em cena de "Redemoinho" - Divulgação - Divulgação
"Redemoinho", dirigido por José Luiz Villamarim
Imagem: Divulgação

Já  “Sob Pressão” tem uma pegada “mais frenética, você não consegue respirar”, compara Andrade.  O filme descreve o cotidiano estressante de Evandro, cirurgião de um hospital público do Rio de Janeiro, e as escolhas que é obrigado a fazer dentro de um sistema precário e caótico. A tensão atinge o momento limite quando chegam à emergência, e ao mesmo tempo, um bandido, um policial e uma criança, gravemente feridos. A trama é inspirada no livro homônimo do médico Marcio Maranhão, no qual narra episódios que o fizeram desistir do sistema público de saúde.

Evandro obrigou Andrade a visitar setores de emergência de hospitais e acompanhar cirurgias. “Meu interesse maior era observar o olhar dos médicos, do que propriamente as operações. Porque eles trabalham o tempo todo de máscaras, então eu teria que saber como transmitir emoções apenas com os olhos”, diz o ator, que rodou “Sob Pressão” em locação, na Santa Casa de Misericórdia, em Cascadura, zona norte do Rio. “Complicado mesmo foi  o lado prático, aprender a manusear bisturis e as precauções para se entrar em uma sala de cirurgia”.

“Maresia” também é resultado de uma adaptação literária: o romance “Barco a Seco”, do escritor Rubens Figueiredo, vencedor do prêmio Jabuti de 2002. O filme fala da obsessão de Gaspar Dias pelo pintor Emílio Vega, que morava em um barco e morreu há mais de 50 anos, e de cuja obra se tornou especialista. Sua admiração é posta em xeque por um visitante, que o procura para verificar a autenticidade de um quadro supostamente atribuído a Vega, de quem teria sido amigo na juventude. Além de interpretar os dois personagens, o perito em arte e o pintor, o filme oferecia a Andrade o desafio de enfrentar um trauma: o medo do mar.

“Desde os 18 anos, quando fui nada numa praia e quase morri, porque a maré  me puxava para longe da margem, eu não entrava em água acima da cintura. Na ocasião, fui salvo por uma onda, que depois de cinco minutos de desespero, me jogou para frente”, confessa o ator.  “Quando  o Márcio me chamou para fazer ‘Maresia’, avisei que não sabia nadar. Mas vi ali a chance de superar aquele trauma. Aprendia a nadar em duas semanas, só para fazer o filme. Mas até hoje tenho o maior respeito pelo mar. Cada filme é assim, me ensina algo que levo para a vida inteira”.

Veja o trailer de "Maresia"

UOL Entretenimento

Serviço:

Redemoinho
Sáb. (8), às 21h45, Roxy 1
Sáb. (8), às 21h45, Roxy 2
Dom. (9), às 16h, Cine Odeon - Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro
Seg. (10), às 16h30, Kinoplex São Luiz 1
Seg. (10), às 21h30, Kinoplex São Luiz 1

Elis
Sáb. (8), às 21h30, Cinemark Downtown 10
Seg. (10), às 21h45, Reserva Cultural Niterói 2

Sob Pressão
Seg. (10), às 21h45, Roxy 1
Seg. (10), às 21h45, Roxy 2
Ter. (11), às 16h, Cine Odeon - Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro
Qua. (12), às 16h30, Kinoplex São Luiz 1
Qua. (12), às 21h30, Kinoplex São Luiz 1