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Presidente da Marvel explica por que você tem que ver Doutor Estranho em 3D

James Cimino

Colaboração para o UOL, em Los Angeles (EUA)

04/11/2016 06h30

Ver um filme em 3D é sempre uma dúvida: o ingresso é mais caro, nem sempre o recurso é bem utilizado (ou seja, não vale o preço), os óculos não são lá muito anatômicos e, em algumas pessoas, chega a causar dores de cabeça e até enjoos durante a projeção. Mas chega nesta quinta-feira (3) aos cinemas brasileiros um filme que vale a pena todo esse incômodo: “Doutor Estranho”, com Benedict Cumberbatch no papel título.

A nova saga do feiticeiro que surgiu nos quadrinhos da Marvel em 1963 é um banho de efeitos e referências visuais que vão dos filmes “2001 - Uma Odisseia no Espaço” (1969) a “A Origem” (2010), passando pela obra de artistas como Salvador Dalí e M.C. Escher — aquele das escadarias infinitas cuja exposição passou pelo Brasil em 2011 e foi uma das dez mais visitadas do mundo naquele ano.

Portais tridimensionais, projeções astrais dos personagens, fractais e caleidoscópios espelhados transportam o espectador para dentro desse universo visual como nenhum outro filme de super-herói fez.

Kevin Feige - Anthony Wallace/AFP Photo - Anthony Wallace/AFP Photo
O presidente da Marvel, Kevin Feige (esq.), com os atores Benedict Cumberbatch e Tilda Swinton, de "Doutor Estranho"
Imagem: Anthony Wallace/AFP Photo

“Se você gosta de ir ao cinema para ver efeitos especiais que você não acha na sua TV, este é o filme”, disse ao UOL Kevin Feige, presidente dos estúdios Marvel, durante o lançamento do longa em Los Angeles.

Para isso, foram necessários dois anos ininterruptos de trabalho só da equipe de efeitos visuais, de um total de quatro anos de produção.

“Tecnicamente, foi o filme mais complicado que já fizemos simplesmente por causa do complexidade visual do que pusemos na tela. Quando fizemos o personagem Falcão, que é um personagem 3D muito crível, foi tecnicamente muito difícil, mas o desafio era chegar à complexidade da pele humana e da musculatura. Mas, em ‘Doutor Estranho’, esse caleidoscópio da dimensão espelhada ou a aparência de sua forma astral era mais difícil porque não havia referências”, explica Feige.

E, quando questionado sobre as referências, o chefão da Marvel fez questão de dizer que os filmes e artistas já citados não foram os únicos que serviram como uma espécie de guia. “A raiz de tudo foram as viagens visuais dos quadrinhos, mas também incluímos referências de ‘2001 - Uma Odisseia no Espaço’, especialmente aquela sequência final quando o astronauta se aproxima de Júpiter. [Stanley] Kubrick [diretor de '2001'] lia ‘Doutor Estranho’? Não sei. Provavelmente não. Mas aqueles efeitos visuais faziam parte do estilo dos anos 1960.”

“Doutor Estranho” conta a história do famoso neurocirurgião Stephen Strange. Brilhante, mas extremamente vaidoso, Strange sofre um acidente que esmaga suas mãos e, por consequência, destrói sua carreira.

Quando os recursos da ciência se esgotam — assim como sua fortuna — Strange, desesperado, parte para uma viagem ao Nepal em busca de cura quando fica sabendo do caso de um paciente tetraplégico que voltara a andar após um retiro espiritual naquele país. Seu ego e seu ceticismo são um entrave para sua recuperação e ele terá de aprender com os monges muito mais que meditação e artes marciais.

Liderados pela Anciã (Tilda Swinton), os monges são especialistas em distorção de realidades, teletransporte dimensional, projeção astral, campo de força, telecinese (mover objetos com a mente), telepatia, levitação, invisibilidade e mais algumas surpresas que deixaremos que o filme revele.

Saturação

Durante a conversa com o presidente da Marvel, a reportagem questionou se não estamos vivendo uma possível saturação no mercado de filmes de super-heróis. Em um ano em que a fadiga das sequências e dos remakes ganhou as páginas do “New York Times”, Feige comenta o que considera uma fórmula para evitar que o público enjoe desse gênero.

“A fórmula para não chatear o espectador do cinema é não nos chatearmos. E fazemos isso misturando histórias. Podíamos ter feito facilmente um ‘Capitão América’ 4, 5 ou 6 e não ter feito ‘Doutor Estranho’, nem ‘Guardiões da Galáxia’. Por isso que ‘Capitão América: O Soldado Invernal’ é um filme totalmente diferente do primeiro, que é um filme de Segunda Guerra Mundial, ou de ‘Capitão América: Guerra Civil’”.

Questionado sobre mudanças drásticas feitas em personagens do universo Marvel — como em "X-Men: Apocalipse", no qual Mística e Magneto se tornam bonzinhos —, Feige respondeu que é importante manter a essência do personagem retratado, mas que, infelizmente, “não temos controle do que outros estúdios fazem com seus personagens”.

Em tempo: nem todos os personagens dos quadrinhos da editora estão sob controle da Marvel no cinema. Antes da criação do estúdio, que hoje pertence à Disney, a Marvel já havia vendido os direitos do Homem-Aranha à Sony e dos X-Men e do Quarteto Fantástico para a Fox.

Sobre a possibilidade de que personagens das séries da Marvel na Netflix participem de “Vingadores: Guerra Infinita”, o presidente do estúdio diz que sim, existe essa possibilidade. Mas, muita calma antes de tirar conclusões precipitadas: Feige diz que há tantos personagens em "Guerra Infinita" que Demolidor, Luke Cage ou Jessica Jones só aparecerão no filme se tiver uma história divertida o suficiente para incluí-los, como aconteceu com Pantera Negra, Homem-Aranha e Homem-Formiga em “Guerra Civil”.

“Não queremos que seja uma cena do tipo, ‘hey, você é aquele personagem do Netflix!’ e sai de cena.”