"Através da Sombra": Contato do diretor com Domingos Montagner durou 6 dias
Há dois anos o diretor Walter Lima Jr. procurava um ator com presença marcante para o filme "Através da Sombra", que chega aos cinemas nesta quinta-feira (10). O escolhido participaria apenas das primeiras cenas, mas perturbaria a personagem principal por toda a trama. Certo dia, deparou-se com Domingos Montagner na TV e decidiu que ele seria perfeito para o papel.
Inspirado no clássico da literatura "A Volta do Parafuso", do escritor britânico Henry James, o filme traz um homem misterioso que contrata uma governanta (Virginia Cavendish) para cuidar de seus sobrinhos órfãos. Ela ganharia total liberdade na educação, desde que ele não seja incomodado. "O personagem do tio é emblemático na história original. É um homem do mundo, que não quer muitas responsabilidades, distante, reservado. Precisava de alguém que marcasse a presença para o resto do filme e Domingos se destacava dos rostos bonitos da TV", contou o diretor ao UOL.
O encontro entre Walter e Domingos, que até então não se conheciam pessoalmente, aconteceu por acaso. "Estava com uma peça em São Paulo e em uma noite, jantando em um restaurante, contei para a produtora que gostaria de convidar Domingos para o filme. Ela falou: 'Olha, aproveita porque ele está logo ali'. Eu me apresentei, fiz o convite e ele aceitou na hora".
Walter Lima Jr. se lembra com precisão de que o contato com o ator foi rápido e muito estreito. Durou exatos seis dias: três de ensaio, dois de filmagens e um dia em 2015, quando o ator assistiu ao filme pronto. "Depois do filme, falei para gente tomar alguma coisa. Ele não podia porque queria levar os filhos bem cedo para a escola. Não nos vimos mais", contou. "Tive o privilégio de conhecer uma pessoa além do ator. Uma pessoa generosa, educada e com o olhar aberto para o mundo".
Montagner morreu afogado no rio São Francisco no dia 15 de setembro, depois de gravar cenas da novela "Velho Chico", no qual era protagonista.
Da Inglaterra vitoriana para o Brasil
Para Walter Lima Jr., diretor de filmes como "A Ostra e o Vento" (1997) e "Menino de Engenho" (1965), o que o mais fascina no thriller é que a dúvida dá todo o tom da trama. "É uma mulher que vê coisas e que não sabe se os outros veem, se estão mentindo ou se ela está ficando louca. Há uma negociação do real com o imaginado e é isso que cria a atmosfera pesada, mas esse não é um filme de terror", explicou o diretor.
O maior desafio, segundo ele, foi trazer a Inglaterra vitoriana para o Brasil dos anos 1930. "Trouxe as diferenças de classe do Brasil. Poderia trazer até para hoje, mas preferi localizar num momento de transformação, na década de 1930, quando os ecos da escravidão ainda são ouvidos", contou.
Independentemente do país, os dilemas de loucura e sanidade que os personagens passam é universal e adequados para os tempos atuais.
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