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Adélia Sampaio, 1ª negra a dirigir um longa no país, é barrada em aeroporto

Adélia Sampaio em entrevista para Lázaro Ramos para o Canal Brasil  - Reprodução
Adélia Sampaio em entrevista para Lázaro Ramos para o Canal Brasil Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

21/11/2016 15h11Atualizada em 21/11/2016 18h51

Adélia Sampaio, primeira negra dirigir um longa-metragem no Brasil, foi impedida de embarcar no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, na manhã desta segunda-feira (21). A cineasta de 72 anos tentava embarcar para o Rio de Janeiro depois de participar de um debate sobre sua trajetória no último domingo (20), feriado do Dia da Consciência Negra.

Iliriana Fontoura Rodrigues, do coletivo Criadoras Negras do Rio Grande do Sul, acompanhava a cineasta e contou ao UOL que num primeiro momento, Adélia foi barrada pelo detector de metais do aeroporto. A cineasta usa próteses, mas segundo Iliriana, viaja constantemente e nunca enfrentou esse tipo de problema. 

Em seguida, foi encaminhada para uma sala onde foi obrigada a passar a revista vexatória. Recusando-se a passar pelo procedimento, foi acusada de desacato. "Fizeram com que ela perdesse o voo e ainda estão cobrando uma nova passagem", contou Iliriana à reportagem.

Procurada pelo UOL a Infraero declarou que "passageiros que não puderem ser inspecionados por meio de equipamento detector de metal deverão passar por busca pessoal" e que a funcionária que atendeu Adélia seguiu o procedimento padrão para esse tipo de situação, já que as próteses não são visíveis.

Adélia alega que foi solicitado que ela tirasse suas roupas íntimas, procedimento que se recusou a fazer e que deu início a uma discussão com a funcionária do aeroporto. A Infraero nega a acusação. "Não houve pedido por parte da Agente de Proteção da Aviação Civil (Apac) e da equipe para a remoção das roupas íntimas da passageira". 

Em entrevista ao UOL, Cléber Ferreira, delegado titular da Polícia Civil no aeroporto, contou que foi registrado um boletim de ocorrência após um desentendimento entre a passageira e a agente responsável pela revista.

Segundo o delegado, a passageira alega que foi solicitado a ela remover suas roupas íntimas e agachar. Por outro lado, a funcionária diz ter sido empurrada e xingada pela cineasta de 72 anos.

Cerca de duas horas depois do ocorrido, a cineasta prestou depoimento na delegacia acompanhada de um advogado e de representantes do coletivo que levou Adélia até a capital gaúcha.

Um procedimento de investigação foi aberto pelo delegado titular do aeroporto e a conclusão deve sair em até uma semana. Existe a possibilidade de o caso seguir para a Justiça.

Depois de prestar depoimentos na delegacia do aeroporto, a cineasta conseguiu remarcar seu voo diretamente com a companhia aérea e deveria embarcar para o Rio de Janeiro às 18h. 

Adélia Sampaio é diretora de "Amor Maldito", primeiro filme lésbico nacional, lançado em 1984. Entre suas produções estão também "Denúncia Vazia" (1979) e "AI-5 - O Dia Que Não Existiu", em parceria com o jornalista Paulo Markum.

Leia a íntegra do comunicado oficial da Infraero enviado ao UOL:

Em relação ao ocorrido no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, nesta segunda-feira (21/11), a Infraero esclarece que não houve pedido por parte da Agente de Proteção da Aviação Civil (Apac) e da equipe para a remoção das roupas íntimas da passageira Adélia Sampaio.

Os procedimentos realizados pela equipe seguiram o estabelecido no parágrafo X do art. 3º da Resolução Nº 207 da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), de 22 de novembro de 2011, que define que os passageiros que não puderem ser inspecionados por meio de equipamento detector de metal deverão passar por busca pessoal. Os parâmetros de busca pessoal, por sua vez, estão definidos no parágrafo 1º do art. 17 da mesma Resolução, como a revista do corpo de uma pessoa, suas vestes e demais acessórios, realizada por autoridade policial ou por agente de proteção da aviação civil, neste caso com consentimento do inspecionado.

A ocorrência está sendo apurada pelo Departamento de Polícia, sendo que a situação foi registrada pela Apac por meio de Boletim de Ocorrência (BO) e por sua supervisora por meio de Registro Diário de Ocorrências (RDO).