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Efeito Kéfera: Como a popularidade da youtuber levou filme B a 68 salas

O diretor de cinema Gil Baroni com Kéfera Buchmann. Vídeo de divulgação do filme lado B "O Amor de Catarina" acumula mais de 1 milhão de visualizações no canal da youtuber - Reprodução
O diretor de cinema Gil Baroni com Kéfera Buchmann. Vídeo de divulgação do filme lado B "O Amor de Catarina" acumula mais de 1 milhão de visualizações no canal da youtuber Imagem: Reprodução

Renata Nogueira

Do UOL, em São Paulo

23/11/2016 07h00

Se você acredita na máxima de que tudo o que vai, volta, a história do cineasta Gil Baroni com Kéfera Buchmann é um bom exemplo. Gil foi o primeiro a apostar no potencial de Kéfera como atriz, oferecendo em 2014 um papel para a youtuber no drama "O Amor de Catarina". Hoje ele vê o filme independente produzido com um orçamento de R$ 180 mil no circuito comercial graças ao fênomeno da internet.

Apesar de ter sido gravado quase dois anos antes, "O Amor de Catarina" só estreou nos cinemas mais de um mês depois de "É Fada!", comédia de estreia de Kéfera com apoio de um elenco global e marketing agressivo. Os superpoderes da fada atrapalhada interpretada por Kéfera parecem ter se estendido ao drama alternativo. Em parceria com uma das maiores distribuidoras do país, "O Amor de Catarina" pode ser visto em 68 salas de cinema pelo país desde a última quinta-feira (17). 

"Kéfera era minha primeira opção para fazer a Catarina. O filme fala da relação entre o ídolo e o fã. Como a vida imita a arte, eu queria muito que a minha protagonista fosse uma menina que está em ascensão dentro de um meio de comunicação como a internet, que está ressignificando muito a relação do espectador com o entretenimento", explica Gil Baroni em entrevista ao UOL.

Mesmo interpretando a personagem que batiza o filme, Kéfera Buchmann não é a real protagonista. A youtuber e o diretor deixam claro esta informação em um vídeo de divulgação que já conta com mais de 1 milhão de visualizações no canal "5inco Minutos". A personagem principal de "O Amor de Catarina" é Rose, vivida pela atriz de teatro paranaense Grace Barros.

Rose é uma dona de casa que vive um casamento infeliz e tenta esquecer suas frustrações enquanto acompanha os capítulos de uma telenovela dos anos 80. A youtuber é a estrela da tal novela inserida dentro do filme e acaba se comunicando indiretamente com sua fã, que identifica traços do seu casamento na relação de Catarina e González (este interpretado pelo também youtuber Maicon Santini) e desenvolve uma relação imaginária com a protagonista da novela. 

Relação de aprendizado

Kéfera ainda não era o fênomeno dos atuais quase 10 milhões de seguidores no YouTube ao conhecer Gil Baroni, quando ainda morava em Curitiba. Ela contava com cerca de 300 mil inscritos e foi em busca de ajuda para produzir e editar os vídeos do canal que crescia a um ritmo insano para a época, 2011.

"Eu já olhava para ela como um fenômeno. Quando pintou a chance de trabalhar juntos, eu topei muito mais no intuito de aprender com o olhar dela, porque ela é muito sagaz, muito inteligente. Ela entende muito desse fenômeno web e a gente tem uma diferença de idade muito grande", conta o diretor de 37 anos, 14 a mais que a youtuber.

"Não fui visionário. Na minha cabeça sempre ficou claro e evidente que a Kéfera iria chegar onde chegou. Era meio óbvio. Eu via aquela menina jovem, cheia de energia e criatividade, e já em processo de ascensão com o público e sabia que ela iria muito longe", pondera.

A popularidade de Kéfera pesou e sua relação direta e natural com os fãs pesou tanto na escolha para o elenco de "O Amor de Catarina" quanto para a distribuidora, a Europa Filmes, que ajudou na finalização do filme e o levou para as 68 salas.

"Sabiam obviamente que o filme tinha uma limitação de não ser blockbuster, mas viram que a Kéfera poderia ser um chamariz para levar as pessoas ao cinema. Achei muito bonito apostarem em um filme de baixíssimo orçamento que provoca um público acostumado a ver a Kéfera sorridente, do humor, da comédia para ir ver um drama", elogia o diretor.

Público errado?

Divulgação de "O Amor de Catarina" - Divulgação - Divulgação
Filme com Kéfera é divulgado na internet
Imagem: Divulgação

Mesmo antes de saber os números de bilheteria da semana de estreia de "O Amor de Catarina", Gil Baroni já se considera bastante satisfeito. Ele vê como vitória coletiva do cinema nacional uma distribuição tão generosa para um filme alternativo.

O fato de atingir jovens e crianças com a estratégia de marketing que focou somente o diálogo com o público de Kéfera também não o incomoda.

"Nem todos são para o filme, mas o filme é para todos. É uma vitória transmitir e dialogar com o coletivo. Não dá para subestimar a capacidade do espectador de querer ver coisas diferentes, que saiam da zona de conforto de uma indústria efêmera. O público também quer ser provocado".

Nem as inúmeras críticas negativas já deixadas pelos fãs da youtuber nas redes sociais derrubam a tese do diretor. "É muito legal provocar o público da Kéfera, mexer com a cabeça dessas crianças que um dia serão adultas. Imagina que aquele espectador que foi assistir jovem ou criança passa um tempo e ele pense: 'Lembro que vi um filme da Kéfera e na época não gostei...' Quantas vezes vimos filmes que não gostamos e depois de um tempo passamos a apreciar melhor?"

Disputando público com "Animais Fantásticos e Onde Habitam", filme derivado da franquia Harry Potter, "O Amor de Catarina" não atingiu nem o top 20 de bilheteria no último final de semana, segundo dados da ComScore. Mesmo assim, o longa segue em cartaz em 39 cidades e forte divulgação nas redes sociais.