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Novo secretário de Cultura, Ewald Filho não aparece em Paulínia há 20 dias

28.fev.2015 - Rubens Ewald Filho - Manuela Scarpa e Marcos Ribas/Photo Rio News
28.fev.2015 - Rubens Ewald Filho Imagem: Manuela Scarpa e Marcos Ribas/Photo Rio News

Eduardo Schiavoni

Colaboração para o UOL, em Campinas

24/01/2017 04h00

Nomeado secretário de Cultura de Paulínia em 1º de janeiro, o crítico de cinema Rubens Ewald Filho não aparece na cidade para dar expediente desde o dia 3 de janeiro. Segundo a administração, ele se ausentou para cumprir de compromissos assumidos anteriormente, como a transmissão do Globo de Ouro por um canal pago de televisão. A previsão é que ele volte à cidade até o fim de semana.

Na posse, a prefeitura chegou a divulgar que Ewald Filho ficaria dez dias ausentes para cumprir compromissos pessoais, mas o total de dias sem que o titular da pasta viesse até a cidade já chegou ao dobro, 20 dias, e a ausência de Ewald Filho tem causado uma série de reações na cidade. Já houve, inclusive, uma representação feita ao MP (Ministério Público) denunciando o caso. O empresário Mário Lacerda, autor da denúncia, pede a exoneração imediata do crítico de cinema e defende os dias em que o crítico não compareceu ao trabalho sejam descontados do salário que Ewald Filho teria a receber, de pouco mais de R$ 12 mil reais.

"A administração reclama de uma dívida de R$ 300 milhões e do déficit orçamentário. Não faz sentido nomear com um salário alto um cidadão que não comparece ao trabalho, que não vem ao município. Para fazer uma referência ao cinema, trata-se de uma cena triste com o dinheiro do povo", disse.

Procurada, a prefeitura informou que Ewald Filho se reuniu com servidores da pauta, nos dois primeiros dias úteis do ano, e deu as coordenadas do trabalho que pretende realizar. Ainda segundo a administração, "a ausência física não tem impedido a execução dos trabalhos".

"Profissional de inquestionável capacidade técnica, Rubens tem atuado em prol dos interesses da Secretaria de Cultura e mantém contato constante com funcionários do setor. O secretário retornará ainda esta semana e os dias em que esteve ausente serão descontados de seu subsídio", informou Denise Sciamarella, assessora de imprensa pessoal do prefeito Dixon de Carvalho (PP).

A reportagem tentou falar com Ewald Filho, mas foi orientada por um assessor a mandar os questionamentos por e-mail, o que foi feito na tarde de segunda-feira (23). Nenhuma resposta foi recebida até o fechamento da matéria.

Histórico

O advogado Arthur Freire, também autor da representação, afirma que Ewald Filho tem histórico de contratos com a Prefeitura de Paulínia e que, por isso, a nomeação deve ser analisada com cuidado pelo MP. Segundo ele, entre 2005 e 2010, o crítico teve um contrato com a Secretaria de Cultura de Paulínia em que recebia R$ 10 mil mensais. Depois, entre 2013 e 2015, teve outro contrato no qual recebia R$ 15 mil mensais.

“Ele sempre recebeu altos salários por supostos serviços prestados. Nas ocasiões anteriores, ele somente aparecia nos festivais de cinema. Agora, como secretário, deveria ter outra postura, porque uma Secretaria de Cultura não é apenas cinema, tem o museu, dança, música, literatura e artes plásticas”, afirmou.

Entre os moradores da cidade, a ausência do crítico tem causado polêmica, com debates tanto nos bares quanto nas redes sociais. A professora Rute Aquino Salustiana, 32, é uma que discorda. "Se ele não tem tempo, não pode ser secretário. Não dá para cuidar da cultura no tempo livre, tem que ter dedicação integral", disse.

Já o artesão Aguinaldo Bueno, 41, acredita que o fato de Ewald Filho ser um nome de repercussão nacional ajudará a cidade. "Acho que ele pode fazer uma excelente gestão sem estar todo dia aqui. Os contatos e o respeito que ele tem na área falam mais alto", disse.

Polo de cinema

Rubens Ewald Filho - L.C. Leite - 4.jul.2006/Folhapress - L.C. Leite - 4.jul.2006/Folhapress
4.jul.2006 - Rubens Ewald Filho no lançamento do projeto Studio Cinematográfico Paulínia Magia do Cinema
Imagem: L.C. Leite - 4.jul.2006/Folhapress

O Polo Cinematográfico de Paulínia, criado pelo ex-prefeito Edson Moura em 2008, chegou a ser nomeado como a "Hollywood Brasileira" e custou quase R$ 500 milhões. Além de sediar a produção de dezenas de filmes, a cidade criou um Festival de Cinema que ganhou destaque nacional. O projeto foi idealizado por Ewald Filho.

O complexo possui estúdios de gravação, escritório de captação de projetos, shopping, rodoviária e um restaurante, mas ficou praticamente parado nos últimos cinco anos por conta de disputas políticas na cidade. Hoje, o complexo está desativado e o atual prefeito promete reativar a estrutura, com um modelo que tenha como foco a população local.