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Do hype à repulsa: por que todos agora parecem odiar La La Land?

Cena do filme "La La Land: Cantando Estações" (2016), de Damien Chazelle - Divulgação
Cena do filme "La La Land: Cantando Estações" (2016), de Damien Chazelle Imagem: Divulgação

Roberto Sadovski

Especial para o UOL, de São Paulo

07/02/2017 12h07

Aconteceu com "O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei". Depois de a saga comandada por Peter Jackson ser colocada (com mérito) num pedestal por dois anos, o filme que encerrou a trilogia encontrou, digamos, uma certa resistência. Ok, foi pior do que isso: muita gente, de fãs de cinema a gente do meio a colegas críticos, passou a dissecar o filme para apontar as fissuras em sua couraça. Era “longo demais” ou “melodramático demais” ou “quantos finais esse filme tem afinal?”. Acabou o amor com "O Senhor dos Anéis"? Ou foi um reflexo do excesso de afagos?

"La La Land" chegou à mesma encruzilhada. Desde sua estreia nos Estados Unidos no final do ano passado, coletando prêmio em cima de prêmio pelo caminho, e se firmando como um sucesso absoluto nas bilheterias, o musical de Damien Chazelle se tornou a) o filme a ser visto na temporada pré-Oscar e b) o assunto principal na roda de apaixonados por cinema. Quando a saga romântica de Ryan Gosling e Emma Stone finalmente aportou por aqui, amparado com um recorde de 14 indicações ao Oscar (equiparando-se a "A Malvada" e "Titanic"), parece que um coletivo “vamos com calma” reverberou nas redes sociais aos papos dos apaixonados. Acabou o amor? Ou o problema é outro?

É uma tendência. Filmes como La La Land, que tocam o zeitgeist e parecem invulneráveis, sucumbem mais rapidamente ao hype. Primeiro, são levantados como obras de arte irretocáveis. A consequência é uma expectativa que jamais pode corresponder à realidade. Tanto amor, muitos constatam, é desproporcional ao que o filme entrega. Segundo, tanto oba oba leva uma obra ao microscópio, e detalhes que fazem parte de escolhas narrativas passam a ser interpretados como defeitos: muitos reclamam que Emma Stone e Ryan Gosling não são dançarinos exímios, que a jornada de um homem branco para salvar o jazz seria “apropriação cultural” (é, eu li essa), que a trama seria bobinha e desinteressante. O "Saturday Night Live" fez um sketch fantástico sobre o tema com o ator Aziz Ansari.

O principal, porém, é a percepção de que "La La Land" pode até ser um bom filme, mas não é tão bom assim. Ao menos não o bastante para merecer tanto carinho. Se ele ganha os Oscar para os quais foi indicado, por exemplo, bate o recorde de "Ben-Hur", "Titanic" e (veja só) "O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei", cada um com onze estatuetas na estante. Será que o filme de Chazelle tem estofo para derrubar um clássico incontestável, um fenômeno moderno e a conclusão da saga que ajudou a definir o novo século no cinema? Será que, em um ou cinco ou dez anos, lembraremos de "La La Land" com o mesmo afeto?

Existe, por fim, a boa e velha má vontade. Vale lembrar que vivemos numa bolha, formada por nosso convívio social imediato e as extensões causadas pelas redes sociais. Em meu caso, eu enxergo críticas ponderadas acerca de "La La Land" e, mesmo não concordando com a maioria, entendo que opiniões são isso: opiniões. Mas o ser humano tem uma tendência estranha a torcer o nariz quando algo se torna popular demais, aplaudido demais, hypado demais. Na gringa o nome para isso é backlash, uma repercussão negativa, uma maneira natural de ter um pé atrás quando a maioria já deu um salto para frente.

A melhor coisa, no fim das contas, é tirar a prova. Ignore o hype e assista a La La Land. Tire as certezas da frente (“musical é sempre ruim”, “se a crítica gosta, deve ser um lixo”), baixe a guarda e se deixe levar. Saia da bolha! Quem sabe você não tem uma surpresa bacana? Ou, vai saber, você vai odiar mesmo o musical e ter total certeza que críticos de cinema não sabem de nada. Eu escancaro de vez: o filme está no topo de meus favoritos de 2016, e eu arrisquei uma resenha aqui. Dia 26 de fevereiro, domingo de Carnaval, a gente vê qual é a de "La La Land" no Oscar.