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Youtuber e pessimista com futuro de Wolverine: Conheça o dublador do herói

Isaac Bardavid, dublador brasileiro que dá a voz ao personagem Wolverine há 23 anos, conheceu o ator Hugh Jackman no "The Noite", de Danilo Gentili, que vai ao ar no dia 6 de março - Manuela Scarpa/Brazil News
Isaac Bardavid, dublador brasileiro que dá a voz ao personagem Wolverine há 23 anos, conheceu o ator Hugh Jackman no "The Noite", de Danilo Gentili, que vai ao ar no dia 6 de março
Imagem: Manuela Scarpa/Brazil News

Renata Nogueira

Do UOL, em São Paulo

22/02/2017 04h00

Com uma carreira de 59 anos na dublagem e 69 como ator, Isaac Bardavid viu seu nome vir à tona nos últimos dias depois da passagem do ator australiano Hugh Jackman pelo Brasil para divulgar o filme "Logan", que estreia no dia 2 de março.

Será a última vez que Jackman interpretará Wolverine no cinema. Logo, também será a despedida do dublador brasileiro de 86 anos que empresta sua voz há 23 ao mutante. Por isso, o apresentador Danilo Gentili promoveu o encontro na segunda-feira (20). O programa só será exibido no dia 6 de março, mas uma prévia mostrada pelo próprio Hugh Jackman repercutiu bastante nas redes sociais.

"Foi muito bom, foi uma coisa inesquecível para mim. Eu senti nele um reconhecimento verdadeiro pelo trabalho que eu fiz em cima dele aqui no Brasil. Eu nunca pensei que através da dublagem eu fosse ter um momento tão recompensador", relembra Isaac Bardavid em entrevista ao UOL. Apesar da emoção do momento que pegou o ator australiano de surpresa, o dublador brasileiro não acredita que o frisson em cima de Wolverine vá durar muito, baseado em sua experiência em mais de 40 mil filmes.

"Acredito piamente que daqui dez, 15 anos ninguém vai falar mais no Wolverine. A não ser que a série dos X-Men continue com outro ator. Senão, ninguém mais vai falar", diz, mesmo sendo lembrado mais de duas décadas depois de estrear na voz do mutante quando ele ainda era só um desenho, em 1994.

Wolverine é sem dúvida o personagem que mais trouxe reconhecimento para Isaac. E a afirmação um tanto pessimista tem fundamento no que ele já viveu. "Nos anos 1960 eu dublei uma série chamada 'Bonanza', que fez tanto sucesso quanto o Wolverine faz hoje. Só que ninguém mais se lembra dessa série. As coisas vão ficando para trás. O que importa é o que está acontecendo agora e o que vai acontecer amanhã", afirma.

Sucesso na internet

E o que está acontecendo agora é a nostalgia em torno da marcante voz que o brasileiro deu ao Wolverine. Um vídeo de despedida na página oficial de Isaac no Facebook também gerou grande repercussão dias antes do encontro com o ator.

"Estou muito feliz, estou bombando. Toda hora alguém manda um novo comentário para mim. Os comentários são os mais calorosos possíveis, mas no fim é tudo a mesma coisa. E isso vai acontecer somente até o dia em que o programa for ao ar no dia 6 de março. As pessoas vão ver e se manifestar novamente. Depois disso a tendência é a coisa ir diminuindo até chegar uma novidade que tome o lugar", comenta.

abraça - Manuela Scarpa/Brazil News - Manuela Scarpa/Brazil News
O ator Hugh Jackman, que interpreta o Wolverine, abraça o dublador brasileiro Isaac Bardavid
Imagem: Manuela Scarpa/Brazil News

Mas Isaac Bardavid encontrou uma boa maneira de retribuir o carinho que tem recebido do público que o acompanha. Lançando o livro "Versos Adversos", que reúne textos produzidos por ele durante toda a vida, ele promete escrever uma dedicatória especial a cada pessoa que adquirir um volume, que é comercializado de forma independente pela internet com a ajuda de seu neto.

Além disso, Isaac acaba de lançar um canal no YouTube, que vai "ajudar a prolongar um pouco mais na memória da gente o trabalho que a gente executa". O canal já conta com 80 vídeos em que ele declama alguns trechos de seu livro. Mas a ideia é recontar suas histórias dos 69 anos de carreira e falar mais sobre dublagem. 

"Os interesses vão se diversificando e o que vai ficando para trás vai ficando. Outras coisas vão tomando o lugar. A vida é uma renovação constante, é muito dinâmica."

Dublador, mas sobretudo ator

Apesar de ser mais lembrado por seu trabalho como dublador, Isaac Bardavid também é ator, e diz ter preferência pela arte de atuar.

"Só me reconhecem pela voz. Eu me sinto espantado, às vezes curioso e às vezes um pouco até chateado. Eu sou ator. Comecei a fazer teatro em 1948, faz muito tempo. Gostaria que as pessoas me reconhecessem pela imagem também", revela.

Salve Jorge - Divulgação/TV Globo - Divulgação/TV Globo
Isaac Bardavid em cena de "Salve Jorge" com Domingos Montagner
Imagem: Divulgação/TV Globo

Entre seus trabalhos mais recentes o filme "O Escaravelho do Diabo" (2016), a novela "Salve Jorge" (2013) e a recém-exibida série de TV "Dois Irmãos", onde interpretou Abbas. "Irmãos Coragem" (1970), "Escrava Isaura" (1976) e outras novelas marcantes também são parte do currículo.

"Dublagem para mim, por maior que seja esse fenômeno, é um decalque. E como ator eu crio a partir do nada, a partir de uma concepção minha. Arte é uma coisa que você executa a partir do nada. E dublagem você apenas decalca, põe a sua voz em cima de alguma coisa que já vem pronta. É evidente que você coloca sua emoção, um pouco de seu talento, mas não pode fazer diferente daquilo que já vem pronto", explica.

Personagens marcantes

No ofício de dublador, Isaac também ficou bastante reconhecido por outro personagem, o Esqueleto de "He-Man". Ícone das crianças que viveram os anos 1980, o vilão marcou mais o dublador do que o próprio Wolverine.

"Fiz um filme do Esqueleto chamado 'Mestres do Universo' (1987). Foi o único filme dos quadrinhos do Esqueleto como ser humano. Para mim foi um dos melhores trabalhos que eu fiz como dublagem. O Wolverine me exige muito pouco como ator. O Esqueleto exigiu muito de mim em interpretação." 

Ainda entre os personagens que mais marcaram sua carreira, Isaac destaca Tigrão ("Ursinho Pooh"), Adam Cartwright ("Bonanza"), Robotinik ("Sonic") e os diversos filmes em que dá voz a Anthony Hopkins, o "Hannibal". 

Esqueleto - Reprodução - Reprodução
Esqueleto, personagem de "He-Man" dublado por Isaac Bardavid
Imagem: Reprodução

E também lembra uma decepção, quando encontrou um dos filmes que mais gostou de dublar e comprou no formato DVD. "Amei ter dublado "Morte em Veneza" (1971), do Visconti, porque o filme é sensacional. Quando eu cheguei em casa e botei o filme, estava com outra voz, e isso me chateou. Eu dublei na década de 1970, então já estava com outra voz. Fazer o quê? Os filmes envelhecem e são redublados", lamenta. 

Com o adeus ao Wolverine, Isaac tem apenas um personagem fixo que dubla no momento. O Capitão Gancho do desenho "Jake e os Piratas da Terra do Nunca".

"Nós não temos preferências nem saudades. Aquilo que cai nas nossas mãos a gente dubla, sempre dando o melhor de nós mesmos. Esse é o nosso trabalho."