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Bombril: James Franco mostra suas 1.001 utilidades em 31 projetos em 2 anos

Bryan Cranston e James Franco em cena de "Tinha que Ser Ele" - Divulgação - Divulgação
Bryan Cranston e James Franco em "Tinha que Ser Ele"
Imagem: Divulgação

Eduardo Graça

Colaboração para o UOL, em Los Angeles (EUA)

16/03/2017 04h00

James Franco, definitivamente, não é Johnny Depp. O ator, diretor, roteirista, produtor, comediante, escritor, fotógrafo, pintor, performer, modelo e, ufa, apresentador de Oscar de 38 anos descobriu esta verdade irrefutável ao decidir filmar a história daquele que é considerado, ao menos em Hollywood, o pior filme de todos os tempos, o hoje cultuado "The Room" (2003). Dirigido pelo obscuro Tommy Wiseau, os bastidores viraram livro e agora se transformaram na comédia rasgada "Disaster Artist", ainda sem título em português, dirigida e estrelada por Franco.

A pré-estreia, no festival SXWS (South by Southwest), no Texas, foi recebida com aplausos de pé e burburinho de obra-prima. Mas importante mesmo aqui é que, quando propôs o projeto a Wiseau e disse que queria encarná-lo na tela, ouviu do colega declaração sinceramente dura: "Queria mesmo era o Depp para o meu papel. Afinal, James, você até faz algumas coisas boas, mas outras bem ruins".

Pois a partir desta quinta-feira (16) os brasileiros poderão ver o galã em uma de suas 31 produções anunciadas para o biênio 2017-2018 --em 21 delas ele atua, entre elas no aguardado "Alien: Covenant", de Ridley Scott, e nas outras dez, dirige-- e decidir se "Tinha que Ser Ele" entra no saldo positivo ou nos erros grosseiros da estrela mais Bombril do cinema americano: suas 1.001 utilidades, para o bem ou para o mal, são inegáveis.

Dave e James Franco em cena de "The Disaster Artist" - Divulgação - Divulgação
Dave e James Franco em cena de "The Disaster Artist" (2017), de James Franco
Imagem: Divulgação

"Ah, mas pera lá: alguns destes títulos são projetos de fim de curso das aulas de cinema que dou, parcerias com meus alunos", defende-se Franco em entrevista ao UOL. "Dou só uma mão, mas sites como o Imdb (Internet Movie Database) colocam tudo no mesmo balaio. Sei que sou conhecido por fazer muitas coisas ao mesmo tempo, e nem sei exatamente como acabo fazendo tudo sem abandonar pela metade. Vai ver é só uma tática para me deixar maluco", completa o ator californiano de origem portuguesa, antes de oferecer uma de suas expressões mais marcantes, um sorriso característico com os olhos quase fechados.

Para a entrevista em um quarto de hotel de Los Angeles, Franco atrasou quase meia hora. O parceiro de James na conversa, o veterano Bryan Cranston, indicado ao Oscar por "Trumbo", chegou pontualmente na hora marcada. E além de entreter jornalistas com anedotas sobre Hollywood, o Walter White de "Breaking Bad" ofereceu divertidas reflexões sobre o amigo. "Calma, gente. James deve estar escrevendo um livro, editando um curta-metragem e fazendo uma tatuagem ao mesmo tempo na suíte dele. Daqui a instantes ele chega, você vai ver", brincou.

Tinha mesmo que ser ele

A tatuagem é a senha para se falar na relação central de "Tinha que Ser Ele", estabelecida já no início do filme entre os personagens de James Franco e Bryan Cranston.

Ned (Cranston) viaja ao Vale do Silício para conhecer o primeiro namorado sério da filha universitária (Zoey Deutch). E quase tem um ataque do coração ao saber que ele é bem mais velho do que ela, chama-se Laird (Franco) e é um milionário para lá de excêntrico, com o corpo coberto por tatuagens.

O elenco é o ponto forte da comédia dirigida por John Hamburg, e conta ainda com a hilária Megan Mullally (a Karen Walker da serie "Will & Grace") na pele da mulher de Ned, e o ótimo Keegan-Michael Key como o faz-tudo Gustav, mix de babá improvisada e personal trainer de Laird.

"Não havia outro ator possível para encarnar o Laird. James tem esta coisa de fazer tudo ao mesmo tempo agora. É um gauche na vida, mas adorado pelos amigos. Ele foi meu aluno quando decidiu estudar cinema na Universidade de Nova York e quase não aparecia na sala de aula. Diziam que estava fazendo um filme. Depois descobri que era '127 Horas', de Danny Boyle. Jamais vou me perdoar por ter dado a ele um B", diz Hamburg, caindo na gargalhada.

Baseado na história do alpinista Aron Ralston, e de como ele conseguiu sobreviver a um terrível acidente nas montanhas de Utah, "127 Horas" foi indicado a seis Oscar em 2011, um deles o de melhor ator para Franco. Anos antes, em 2002, ele já havia levado para casa o Globo de Ouro de melhor ator em minissérie televisiva por encarnar seu ídolo James Dean. Voltaria a ser indicado por "Segurando as Pontas" em 2009.

O jejum de prêmios, de acordo com a empolgada crítica e os colegas de elenco, pode se encerrar com "Disaster Artists". Já "Tinha que Ser Ele" não parece aspirar a premiações de luxo. A comédia é um veículo para Franco e Cranston construírem tiradas mais engraçadinhas do que originais sobre a relação entre pai e filhos.

1.001 utilidades

Depois de "127 Horas" James emendou uma comédia atrás da outra e se jogou em outras expressões artísticas, lançando livros, escrevendo artigos, dando aulas, fotografando e pintando. São suas, por exemplo, as telas que aparecem na casa de Laird em "Tinha Que Ser Ele". A onipresença fez o apresentador Steven Colbert propor, em dezembro, uma "intervenção profissional" na carreira de Franco: "Este não é mais um programa de TV. Vamos trancar as portas do estúdio. Nós todos amamos você, James Franco, mas você só sairá daqui depois de desistir de pelo menos um projeto".

Intervenção, por enquanto, ainda desnecessária, acredita Cranston. "Todos nós temos a tendência de dizer sim para oportunidades que nos parecem ser sensacionais. Está ali na sua frente e você quer dizer 'ok, eu faço'. Mas aí você tem que dar seu tempo, energia e imaginação para transformar aquele projeto em realidade. James é um menino ainda, mas eu, um senhor de 61 anos, posso dizer a ele que se você faz coisas demais corre o risco de esvaziar o tanque".

Franco parece prestar atenção no conselho e traça paralelos entre sua personalidade e a do personagem Laird. "Vai ver eu, como Laird, também tenho uma necessidade profunda de ser aprovado pelos outros, que vai me levando a tomar certas decisões. Mas não sou ele, consigo me controlar". E esclarece: "E não tenho, na vida real, uma tatuagem sequer".