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"Ghost in the Shell" resgata o gênero cyberpunk. Mas você sabe o que ele é?

Scarlett Johansson tem pele do rosto arrancada em teaser de "Vigilante do Amanhã"  - Reprodução
Scarlett Johansson tem pele do rosto arrancada em teaser de "Vigilante do Amanhã"
Imagem: Reprodução

Felipe Branco Cruz

Do UOL, em São Paulo

31/03/2017 16h41

Em algum momento no futuro próximo, as tecnologias mais avançadas como realidade virtual, carros autônomos, implantes neurais, próteses robóticas e outras que ainda serão inventadas, vão chegar até as pessoas comuns. Quando este dia chegar, pode ser que a humanidade viva um longo período de paz ou se degenere ainda mais. É neste segundo cenário onde habita o gênero cyberpunk, que desde os anos 80 influencia a cultura pop em áreas como a música, literatura, quadrinhos e a moda.

Em cartaz nos cinemas, a adaptação do mangá japonês "Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell", com Scarlett Johansson no papel principal, voltou a colocar o cyberpunk em evidência (ainda este ano também será lançado a continuação de "Blade Runner", outro clássico do gênero). Embora o cyberpunk não seja completamente estranho às pessoas, muita gente ainda confunde o gênero com "coisa de nerd". Mas não é bem assim.

A palavra "punk" não aparece na expressão por acaso. É comum ver muita coisa do movimento punk dos anos 70 nessas histórias, como a cultura do “faça-você-mesmo”, a transgressão ao poder estabelecido (invasão de computadores e fraudes eletrônicas), o sarcasmo niilista, a moda (roupas de couro, óculos escuros, botas, correntes) só que acrescidas de adereços tecnológicos modernos, como óculos e relógios inteligentes, implantes neurais, realidade virtual, entre outros.

A história de “Vigilante do Amanhã” pode parecer uma coisa muito distante da nossa realidade, mas não é. Nunca as previsões sombrias do universo cyberpunk pareceram tão próximas de acontecerem quanto hoje.

Entre essas previsões que já ocorrem com uma regularidade preocupante estão fraudes bancárias, espionagens eletrônicas, invasão de privacidade, monitoramento da localização das pessoas em tempo real e drones e carros autônomos. 

Basta lembrar que o maior vazamento de informações confidenciais feito até hoje (o Wikileaks) veio da internet, ou que a espionagem entre países não é mais travada em campo e sim no mundo virtual, no caso da Rússia roubando documentos americanos para influenciar nas eleições.

No ramo tecnológico, já temos óculos de realidade virtual que transformaram os videogames em experiências realmente imersivas e o local onde armazenamos a maioria dos nossos arquivos digitais foi batizado de nuvem porque "está em todos os lugares".

Subgênero?

No cyberpunk boa parte das histórias retrata personagens marginais que vivem num mundo altamente conectado e tecnológico. Eles seriam, portanto, os rebeldes do futuro, atuando como foras-da-lei ou hackers (termo surgido dentro do cyberpunk) para sobreviverem.

Subgênero da ficção científica, o cyberpunk surgiu a partir de livros como “Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?” (1968), de Phillip K. Dick, “Mirrorshades” (1986), de Bruce Sterling e “Neuromancer” (1988), de William Gibson, no qual cunhou o termo "cyberespaço" para descrever o ambiente onde atuava o personagem principal. Nos cinemas, títulos como “Blade Runner” (1982), “Tron” (1982), “Matrix” (1999), “Johnny Mnemonic” (1995) e “Elysium” (2013) também beberam na fonte do cyberpunk.

Pensando bem, já está na hora de mudarmos a expressão cyberpunk para cybercultura ou, quem sabe, apenas cultura.