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Mensagem de A Cabana serve para Trump: Amai-vos uns aos outros, diz Octavia

Octavia Spencer com Sam Worthington em cena de "A Cabana" - Reprodução
Octavia Spencer com Sam Worthington em cena de "A Cabana" Imagem: Reprodução

Carlos Helí de Almeida

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

05/04/2017 12h23

A última vez em que uma mulher encarnou a figura de Deus no cinema, na comédia romântica “Pronta para Amar” (2011), de Tom Shadyac, Whoopi Goldberg surgia em pose divina para conceder três desejos a uma jovem moribunda, vivida por Kate Hudson. Antes disso, a cantora canadense Alanis Morissette havia feito uma breve porém notória aparição, usando as roupas celestiais do Todo-Poderoso, em “Dogma” (1999), sátira religiosa dirigida pelo sempre maroto Kevin Smith.

Agora que finalmente uma atriz assume o personagem em uma versão filosófica e próxima das escrituras bíblicas, no drama "A Cabana", isto também acontece de forma a enfatizar a diversidade e a inclusão, numa época em que a segregação racial e religiosa ganha força no mundo inteiro – especialmente nos Estados Unidos do presidente Donald Trump, que criou medidas para barrar a entrada de cidadãos de uma série de países de maioria muçulmana e quer erguer um muro na fronteira com o México.

No longa, que estreia nesta quinta-feira (6), a Santíssima Trindade é representada por uma mulher negra, um latino e uma asiática. “A mensagem do filme também serve para Trump: ‘Amai-vos uns aos outros’”, reforça Octavia Spencer, 46, que interpreta Deus na adaptação do best-seller homônimo de William P. Young, em entrevista ao UOL, durante sua passagem pelo Brasil para promover "A Cabana".

O filme de Stuart Hazeldine descreve a jornada espiritual de um pai (Sam Worthington), depois de enfrentar uma tragédia em família. Quem surge em seu socorro é Papa (Octavia), auxiliada por encarnações terrenas de Jesus e do Espírito Santo. Mas a atriz não quer associar o papel à questão do emponderamento feminino em Hollywood. “As atrizes querem apenas ter as mesmas oportunidades que os atores. Mas também acho que Deus nos criou à Sua imagem. Então, porque não uma mulher no papel Dele?”, despista.

“Gosto do fato de o autor  mostrar Deus por essa luz. Quando o personagem de Sam diz a Papa que imagina Deus como um homem de barba branca, ela explica que ele não suportaria um Deus como homem”, brinca Octavia.

“Na verdade, não acho que William P. Young esteja dizendo com isso que Deus é mulher. Acho que Ele surge como mulher para o personagem de Sam porque ele fora maltratado pelo pai quando criança e, adulto, perdeu uma das filhas para um outro homem mau. Então Deus se manifesta na forma de Papa para facilitar a aproximação com este rapaz traumatizado. Como cristã, não aceitaria esse projeto se o autor estivesse afirmando que Deus tem uma forma, gênero, ou raça específico”, confessa a atriz ganhadora do Oscar por sua performance em “Histórias Cruzadas” (2011).

Assista ao trailer de "A Cabana"

UOL Entretenimento

Oscar

Octavia é uma dos 16 atores negros vencedores do prêmio da Academia americana nos 80 anos da história da estatueta. Estava na última cerimônia do Oscar, em fevereiro passado, concorrendo na categoria de atriz coadjuvante com o filme “Estrelas Além do Tempo”, vencida pela colega Viola Davis, que disputava com “Um Limite Entre Nós”. Foi uma noite de glória para a comunidade de artistas afro-americanos, que testemunharam a consagração de “Moonlight: Sob a Luz do Luar”, de Barry Jenkins, sobre a trajetória emocional de um traficante gay de Miami.

A noite foi particularmente emocionante e inesquecível, por causa da troca de envelopes com o nome dos vencedores, que havia dado a vitória, erroneamente, a “La La Land”, o aclamado musical dirigido por Damien Chazelle. Apesar do incidente, a premiação coroava os protestos do movimento conhecido na internet como “Oscar so White”, que repudiava a quase total ausência de talentos negros entre os indicados ao prêmio na corrida do ano passado, vencida por “Spotlight – Segredos Revelados”, de Tom McCarthy.

“Foi uma surpresa muito grande. Sinto pelo embaraço que Faye Dunaway e Warren Beaty (que apresentaram o prêmio de melhor filme) passaram no palco, anunciando ‘La La Land’ como o grande vitorioso da noite. A parte boa daquilo tudo foi que o erro acabou sendo desfeito logo na sequência, dando a chance da equipe de ‘Moonlight’ ter o seu trabalho reconhecido naquele momento, ainda naquela noite, diante do mundo inteiro”, observa a atriz, que estreou no cinema no suspense “Tempo de Matar” (1996), de Joel Schumacher.

Religião

Nascida numa família de cinco irmãos em Montgomery, no estado do Alabama, Octavia cresceu sob forte influência da religião. Para se familiarizar com o contexto de fé de “A Cabana” recorreu a ajuda de um pastor conhecido e procurou ler outros livros sobre o cristianismo. Evita, no entanto, fazer comentários sobre o tipo de igreja que costuma frequentar. “Prefiro não falar sobre denominações religiosas. Para mim, é suficiente dizer que sou cristã, acredito em Deus e converso com Ele todos os dias”.

Octavia é um dos 30 milhões de leitores do livro de William P. Young espalhados pelo mundo. “Quis fazer parte desse filme por causa de sua mensagem de esperança e cura, sobre o perdão, que não é sobre o ato de perdoar a quem te magoou de alguma forma, mas também sobre quem foi ferido, a vítima. O perdão é uma forma de autoconhecimento, que nos leva a deixar o sofrimento para trás”, esclarece a atriz, formada em Artes pela Universidade de Auburn. “A história também nos mostra que encaramos o luto de formas distintas, que nos prendemos a certas coisas que podem ser nocivas”.

“A Cabana” foi rodado em locações no Canadá, entre lagos e montanhas verdejantes. Originalmente, a campanha de promoção do filme estava prevista para acontecer em São Paulo mas, a pedido da atriz, ela foi transferida para o Rio de Janeiro. “Aqui há muita dessas coisas que amo na natureza, com as montanhas, o mar, onde a gente percebe a mão de Deus”.