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Michael Haneke e Sofia Coppola competem em Cannes; Brasil está fora

Cena do filme "O Enganado", de Sofia Coppola - Entertainment Weekly
Cena do filme "O Enganado", de Sofia Coppola Imagem: Entertainment Weekly

Thiago Stivaletti

Colaboração para o UOL

13/04/2017 07h42Atualizada em 13/04/2017 13h41

Depois de dar o pontapé inicial com uma grande gafe – retocar o corpo da diva Claudia Cardinale sem necessidade em seu pôster –, o Festival de Cannes anunciou nesta quinta-feira (13) os filmes que concorrem à Palma de Ouro da sua 70ª edição. Deveria ser uma seleção forte em nomes pop, conhecidos do grande público, mas é a menos “bombada” dos últimos anos.

Dois grandes nomes despontam. O austríaco Michael Haneke, duas vezes vencedor do prêmio – com “A Fita Branca” e “Amor” – apresenta “Happy End”, sobre uma família francesa que precisa lidar com a crise dos refugiados em Calais. Não acredite no título: de Haneke espere tudo, menos final feliz. Isabelle Huppert, no auge depois de “Elle”, está no elenco. Sofia Coppola, filha do grande mestre Francis Ford, estreia “O Enganado” (The Beguiled), sobre um soldado da Guerra de Secessão que vai parar numa estranha casa onde vivem apenas mulheres, com Nicole Kidman, Elle Fanning e Colin Farrell no elenco – o livro de Thomas Cullinan já deu origem a um filme de 1971 com Clint Eastwood (“O Estranho que Nós Amamos”).

Pela primeira vez, a Netflix emplacou não uma, mas duas produções suas na disputa pela Palma. São a aventura “Okja”, com Tilda Swinton no elenco e direção do coreano Bong Joon-ho (“O Expresso do Amanhã”) -- história de uma menina que luta para que uma poderosa multinacional não sequestre seu melhor amigo, uma criatura gigantesca -- e  a comédia "The Meyerowitz Stories", de Noah Baumbach (de “Frances Ha”), com Adam Sandler e Ben Stiller -- que traz um reencontro familiar para celebrar a carreira artística do patriarca.

Louis Garrel como Jean-Luc Godard em cena de "Le Redoutable", de Michel Hazanavicius - Divulgação - Divulgação
Louis Garrel interpreta o cineasta Jean-Luc Godard em "Le Redoutable", de Michel Hazanavicius, que compete pela Palma de Ouro
Imagem: Divulgação

Outros nomes fortes são Todd Haynes, voltando à Competição dois anos depois de “Carol” com “Sem Fôlego” – Julianne Moore e Michelle Williams estão no elenco; e o francês Michel Hazanavicius, vencedor do Oscar por “O Artista”, com “Le Redoutable”, em que o divo Louis Garrel se enfeia para viver o mestre Jean-Luc Godard e sua história de amor pela atriz Anne Wiazemsky.

A Competição terá ainda os novos trabalhos do turco Fatih Akin, do russo Andrei Sviagintsev (de “Leviatã) e do francês François Ozon.

Fora de competição

Templo do cinema, Cannes finalmente se curva à importância das séries. Dois de seus diretores mais queridos, o americano David Lynch e a australiana Jane Campion (Palma de Ouro com "O Piano") migraram para a TV e vão mostrar lá os primeiros episódios de suas séries, "Twin Peaks" e "Top of the Lake". Até hoje, o festival só havia exibido a minissérie "Carlos", de Olivier Assayas, sobre Carlos, o Chacal -- mas numa versão condensada em formato longa-metragem.

Fora de competição, Nicole Kidman volta como uma ET na comédia musical "How to Talk to Girls at Parties" (Como falar com garotas em festas), também ao lado de Elle Fanning. E o mexicano Alejando Iñárritu, coberto de Oscars depois de "Birdman" e "O Regresso", vai à Croisette apresentar uma aguardada instalação de realidade virtual intitulada "Carne e Areia".

Kidman, aliás, será a grande estrela do ano no festival. Além de "O Enganado" e "How to Talk...", ela será vista em "The Killing of a Sacred Deer", do grego Yorgos Lanthimos, e na segunda temporada da série "Top of the Lake", de Jane Campion, que estreia lá. Isso tudo depois de abrir o ano com chave de ouro na série "Big Little Lies", da HBO. Isso é que é volta por cima.

Mas apesar da presença massiva de Kidman, as grandes produções de Hollywood, que costumam dar as caras na abertura ou nas sessões especiais, este ano fugiram de Cannes como o diabo da cruz. A abertura será com um filme francês – “Os Fantasmas de Ismael”, de Arnaud Desplechin.

A comemoração pelo 70º aniversário do festival ainda traz outros destaques: a atriz Kristen Stewart (da franquia "Crepúsculo") vai estrear como diretora com um curta, “Come Swim”; e o iraniano Abbas Kiarostami, morto no ano passado, terá uma seleção de curtas inéditos, “24 Frames”.

Brasil fora

Depois de um 2016 glorioso com “Aquarius” na competição, o Brasil não apareceu na seleção oficial – uma ressaca talvez da grande safra dos 12 filmes selecionados no Festival de Berlim, em fevereiro. Mas algum título pode aparecer nas mostras paralelas, a Quinzena dos Realizadores e a Semana da Crítica, que divulgam suas listas nos próximos dias.

Até agora, um curta nacional foi escolhido entre os filmes da Cinéfondation, que reúne trabalhos de alunos feitos em universidades de cinema – “Vazio do Lado de Fora”, de Eduardo Brandão Filho, da Universidade Federal Fluminense (RJ).

Veja a lista completa dos filmes anunciados para Cannes até agora:

Filme de abertura (fora de competição):
"Les fantômes d'Ismaël", de Arnaud Desplechin

Competição:
“120 Battements par Minute” (120 Batidas por Minuto), de Robin Campillo
"O Enganado", de Sofia Coppola
“Geu-Hu” (The Day After), de Hong Sangsoo
“A Gentle Creature” (Uma Criatura Gentil), de Sergei Loznitsa
“Good Time” (Bons Tempos), Benny Safdie & Josh Safdie
“Happy End” (Final Feliz), de Michael Haneke
“Aus dem Nichts
” (In the Fade), de Fatih Akin
“Felesleges Ember” (Jupiter's Moon), de Kornél Mundruczó
“The Killing of a Sacred Deer” (A Morte de um Cervo Sagrado), de Yorgos Lanthimos
“L’Amant Double” (O Amante Duplo), de François Ozon
“Le Redoubtable” (O Temível), de Michel Hazanavicius
“Nelyubov” (Loveless), de Andrey Zvyagintsev
“The Meyerowitz Stories” (As Histórias de Meyerowitz), de Noah Baumbach
“Okja”, de Bong Joon-Ho
“Hikari” (Radiance), de Naomi Kawase
“Rodin”, de Jacques Doillon
“Sem Fôlego”, de Todd Haynes
“You Were Never Really Here” (Você Nunca Esteve Realmente Aqui), de Lynne Ramsay

Um Certo Olhar:
“Barbara”, de Mathieu Amalric (filme de abertura)
“Après la Guerre” (Depois da Guerra), de Annarita Zambrano
“Las Hijas de Abril” (As Filhas de Abril), de Michel Franco
“Aala Kaf Ifrit” (Beauty and the Dogs), de Kaouther Ben Hania
“Sanpo Suru Shinryakusha” (Before We Vanish), de Kiyoshi Kurosawa
“Tesnota” (Closeness), de Kantemir Balagov
“La Novia del Desierto” (A Noiva do Deserto), de Cecilia Atan & Valeria Pivato
“Posoki” (Directions), de Stephan Komandarev
“Lerd” (Dregs), de Mohammad Rasoulof
“Jeune Femme” (Jovem Mulher), de Léonor Serraille
“L’Atelier” (O Ateliê), de Laurent Cantet
“Fortunata” (Sortuda), de Sergio Castellitto
“En Attendant Les Hirondelles” (The Nature of Time), de Karim Moussaoui
“Out”, de Gyorgy Kristof
“Western”, de Valeska Grisebach
“Wind River” (Rio do Vento), de Taylor Sheridan

Fora de competição:
“Mugen Non Jünin” (Blade of the Immortal), de Takashi Miike
“How to Talk to Girls at Parties” (Como Conversar com Garotas em Festas), de John Cameron Mitchell
“Visages, Villages”, de Agnès Varda & JR

Sessões da meia-noite:
“Prayer Before Dawn” (Prece antes do Amanhecer), de Jean-Stéphane Sauvaire
“Bulhandang” (The Merciless), de Sung-Hyun Byun
“Ak-Nyeo” (The Villainess), de Byung-Gil Jung

Exibições especiais:
“12 Jours” (12 Dias), de Raymond Depardon
“An Inconvenient Sequel” (Uma Sequência Incoveniente), de Bonni Cohen & Jon Shenk
“Keul-Le-Eo-Ui Ka-Me-La” (Clair's Camera), de Hong Sangsoo
“Demons in Paradise” (Demônios no Paraíso), de Jude Ratman
“Napalm”, de Claude Lanzmann
“Promised Land” (Terra Prometida), de Eugene Jarecki
“Sea Sorrow” (Tristeza no Mar), de Vanessa Redgrave
“They” (Eles), de Anahita Ghazvinizadeh

Eventos de aniversário de 70 anos
“24 Frames” (24 Quadros), de Abbas Kiarostami
“Come Swim” (Venha Nadar), de Kristen Stewart
“Top of the Lake: China Girl”, de Jane Campion
“Twin Peaks”, de David Lynch

Realidade virtual:
“Carne y Arena” (Carne e Areia), de Alejandro G. Iñárritu