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Após desistência de cineastas em protesto, Festival Cine PE será remarcado

Produtor Matheus Bazzo, o protagonista do filme, Olavo de Carvalho, e o diretor Josias Teófilo durante filmagem da caça diária do filósofo - Divulgação
Produtor Matheus Bazzo, o protagonista do filme, Olavo de Carvalho, e o diretor Josias Teófilo durante filmagem da caça diária do filósofo Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

11/05/2017 13h26

Marcado inicialmente para acontecer entre os dias 23 e 29 de maio, a 21ª edição do Cine PE, em Recife, será postergada. A mudança no calendário acontece após um grupo de cineastas pedir a retirada de seus respectivos filmes da programação em protesto contra a exibição de duas produções "alinhados à direita conservadora".

Com a saída de sete filmes da programação, o Cine PE afirmou que uma nova programação será anunciada em breve, mas que "será necessária postergar a execução do evento, cuja nova data será divulgada oportunamente".

"Apesar dessas manifestações se colocarem em tempo impróprio da pré-produção do evento, posto que a surpresa por essa represália, evidentemente, proporcionou um ônus fora do planejamento, torna-se cabível, pelo verdadeiro princípio democrático, respeitar-se as decisões tomadas", diz a organização do festival em nota divulgada nesta quinta-feira (11).

Protesto

Na quarta-feira (10), sete cineastas anunciaram a decisão de retirarem seus respectivos filmes da competição. Em carta, os dissidentes afirmam que a decisão foi tomada após a divulgação da programação na íntegra, quando foi revelada a presença de alguns filmes que “favorecem um discurso partidário alinhado à direita conservadora e grupos que compactuaram e financiaram o golpe ao Estado democrático de direito ocorrido no Brasil em 2016”. 

A 21ª edição do festival havia anunciado o documentário “O Jardim das Aflições”, sobre o filósofo conservador Olavo de Carvalho, na principal competição, e a exibição fora da competição de “Real- O Plano por Trás da História”, de Rodrigo Bittencourt, que resgata a criação da moeda em 1993, no governo Itamar Franco.

"Não imaginei que a seleção do festival fosse dar espaço a filmes claramente alinhados com uma direita extremista", disse ao UOL Arthur Leite, diretor do curta "Abissal", um dos diretores que assinam a carta. "Esse foi o fato que nos levou a retirar nossos filmes do Cine PE. Não quero ter meu nome e meu filme associados a essas obras, nesse momento tão anormal e sensível em que vivemos."

Com o protesto, o documentário pernambucano “O silêncio da noite é que tem sido testemunha das minhas amarguras”, de Petrônio Lorena, deixa de concorrer diretamente com “O Jardim das Aflições”. A competição de curtas, no entanto, é a que mais foi esvaziada. Além de “Abissal”, “A Menina Só”, de Cíntia Domit Bittar, “Não Me Prometa Nada”, de Eva Randolph, e “Vênus – Filó a Fadinha Lésbica”, de Sávio Leite, não fazem mais parte da competição.

“Baunilha”, de Leo Tabosa, e “Iluminadas”, de Gabi Saegesser, dois selecionados para a mostra competitiva de curtas pernambucanos, completam a lista.

Cine PE: "Sem politização"

Em nota, o Cine PE afirmou que jamais houve quaisquer formas de politização das programações. "Com uma simples pesquisa sobre as edições passadas, facilmente será revelado que o Festival sempre se pautou em mostrar tendências, linguagens, estéticas e ideologias da forma mais coerente possível, por entender e evidenciar que o conceito da diversidade dever ser de todos e para todos", afirma a organização.

Ao UOL, no ano passado, o diretor Josias Teófilo reclamou da recusa dos festivais em selecionar seu filme. "Os critérios exclusivamente políticos se mesclam com julgamentos estéticos", defendeu.

No lugar do incentivo público, "O Jardim" conta com cotas de patrocínio de uma editora --que prepara uma biografia do deputado Jair Bolsonaro-- e de um site que defende o ensino domiciliar, longe das escolas, uma das bandeiras mais caras do conservadorismo.