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De doidão racista a pai religioso, Mark Wahlberg diz que fé mudou sua vida

Boogie Nights -- Prazer Sem Limites - Reprodução - Reprodução
Mark Wahlberg com Julianne Moore em cena de "Boogie Nights" (1997)
Imagem: Reprodução

James Cimino

Colaboração para o UOL, em Los Angeles (EUA)

11/05/2017 04h00

“Marky” Mark era o nome que o ator Mark Wahlberg usava quando despontou na carreira artística como o cantor do hit “Good Vibrations”, em 1991. Mas o irmão do New Kid on the Block Donnie Wahlberg emanava tudo menos boas vibrações naquela época.

O ator, cujo novo filme “Dia do Atentado” chega ao Brasil nesta quinta-feira (11), era viciado em cocaína desde os 13 anos de idade e vendia drogas no subúrbio de Boston, onde cresceu como o caçula de uma família católica de nove filhos.

Aos 17, ficou 45 dias preso depois de atacar um imigrante vietnamita com um taco de beisebol simplesmente para lhe roubar duas caixas de cerveja. Durante o ataque, proferiu diversas ofensas raciais, além de ter quebrado o taco de tanto bater, deixando a vítima desacordada. Esta, no entanto, não foi a principal acusação contra o hoje reconhecido ator. Para fugir da cena do crime, fez outro vietnamita de refém, obrigou-o a escondê-lo e, após se livrar do flagrante, espancou o imigrante até deixá-lo cego de um olho.

Tá pouco? Tem mais. Ao ser preso, Wahlberg foi levado à cena do crime para ser identificado, mas disse em depoimento o seguinte: “Você não precisa que ele me identifique. Eu mesmo posso te dizer que foi exatamente aquele filho da puta cuja cabeça eu parti em duas.”

Dois anos antes deste incidente, ele e um grupo de amigos atacaram com pedras, pedaços de madeira e, mais uma vez, ofensas raciais, um grupo de crianças negras da quarta série que tinha ido fazer um passeio na praia.

Mark Wahlberg em cena de "O Dia do Atentado" - Karen Ballard/Divulgação - Karen Ballard/Divulgação
Mark Wahlberg em cena de "O Dia do Atentado"
Imagem: Karen Ballard/Divulgação

Homofobia? Também fazia parte do repertório do ator, que, na festa de aniversário de Madonna em 1993, em Hollywood, chamou um dos bailarinos da cantora de bicha e socou o nariz de seu empresário Guy Oseary (marido da modelo brasileira Michelle Alves).

Mas hoje, aos 45 anos, casado com a modelo Rhea Durham, com quem tem quatro filhos, o ator se diz um homem transformado pela fé.

A cadeia, claro, foi o primeiro incentivo a buscar a igreja e iniciar a carreira de ator. Até hoje, no entanto, ele ainda paga por esse crime. Um amigo que fez na prisão e que continua entrando e saindo de lá ainda lhe cobra pelo favor de ter lhe deixado uma televisão em sua cela. Já pediu para Wahlberg escondê-lo da polícia em sua casa, que lhe pagasse advogados quando se mete em encrenca, e até manda a mulher cobrar pensão do astro de “Boogie Nights” toda vez que é preso.

Ultimamente, Wahlberg pediu à Justiça que lhe conceda perdão pelo crime cometido no passado, pois a ficha suja o tem impedido de expandir sua cadeia de lanchonetes Wahlburguer. Ele diz que não quer, no entanto, que as pessoas se esqueçam de seus crimes, mas que sirvam como exemplo de transformação. Contra as acusações de homofobia, deu uma longa entrevista à revista “Advocate” dizendo que defendia abertamente os direitos dos LGBTs e até fez contribuições a uma ONG anti-difamação.

E os tempos de racismo também parecem ter ficado para trás. “Dia do Atentado” é um filme que relata com precisão brutal e uma excelente direção o atentado terrorista ocorrido durante a maratona de Boston em 15 de abril de 2013, um feriado conhecido como o Dia do Patriota.

No entanto, não se deve esperar que o longa faça qualquer tipo de apologia barata a um patriotismo ultra-nacionalista e anti-imigratório. Durante uma curta entrevista à reportagem do UOL, Mark Wahlberg fala um pouco de como este filme tem uma mensagem de união, porque não é uma história anti-muçulmana, e sobre como a fé a família têm influenciado em suas escolhas artísticas.

UOL - Este filme vem em um momento em que patriotismo tem sido confundido com racismo e supremacia branca nos Estados Unidos. Qual é a mensagem que ele passa, neste contexto?
Mark Wahlberg - Este filme é sobre unidade, pessoas se juntando e amando umas às outras. Aqui é a América. É o lugar que supostamente deveria receber pessoas de todos os lugares do mundo. E se você observar o que aconteceu em Boston, verá que aconteceu com pessoas que vieram de diferentes contextos e histórias de vida. Elas se juntaram para ajudar outras pessoas durante este trágico evento.

Como este filme retrata terrorismo e religião?
Obviamente há uma grande diferença entre as duas coisas. Eu tenho muitos amigos muçulmanos e tudo o que eles fazem é rezar e pregar paz e amor. Terrorismo não é religião. São pessoas que tentam confundir e guiar as pessoas por interpretações deturpadas da religião. Todos os meus amigos judeus, muçulmanos, católicos e cristão pregam paz, amor e união.

Há uma frase do seu personagem no filme que diz que “essas pessoas não podem nos tirar isso” [o amor]. É uma frase do policial que você interpreta?
Na verdade, não. Foi uma conversa entre Pete [Berg, diretor] sobre qual seria a mensagem do filme na minha cabeça. E vendo as notícias de terrorismo acontecendo pelo mundo, chego à conclusão que não podemos nos prevenir disso, mas o que podemos fazer é nos ajudar uns aos outros, amarmos uns aos outros. Porque o amor sempre vence.

Falando em religião, em uma entrevista sua recente você conta como se tornou um homem religioso. Como o rapper rebelde deu lugar a esse homem de família?
Acontece que o que eu achava legal quando eu tinha 18, 19 anos, é muito diferente do que eu acho legal hoje em dia. E você está ouvindo isso de um pai e marido de 45 anos cuja filosofia é a fé. Eu gostaria de ter podido dizer para mim mesmo naquela idade o que realmente importa na vida. Mas também me sinto agradecido por ter, ao longo desse caminho, aprendido a superar muitas coisas, e espero continuar a me aperfeiçoar como um servo de Deus, pai, marido, amigo, vizinho…

A fé mudou o tipo de personagem que você interpreta e o tipo de filme no qual você quer trabalhar?
Eu tento não deixar influenciar, mas o caso é que agora eu tenho filhos.

Filmes como “Boogie Nights”, em que você interpreta um ator pornô, por exemplo?
É um dos meus filmes favoritos. Acho fantástico!

Você faria um filme daqueles hoje em dia?
Sim, mas só se fosse o papel do Burt Reynolds, porque agora eu estou com 45 anos. Quando começaram a me chamar para fazer o papel de pai nos últimos filmes, me deu um certo baque. Pensei: “Poxa, eu já sou considerado o pai?” Mas aí eu vi que isso também é uma conquista. Ter a idade que tenho e ainda ser chamado para interpretar papéis.