Desmaio, protesto, gafe... 7 momentos dos 70 anos do Festival de Cannes
16/05/2017 04h00
Um dos mais importantes e respeitados festivais de cinema do mundo, Cannes chega aos 70 anos em 2017. Idealizado em 1939 como forma de rivalizar com o Festival de Veneza, controlada por Mussolini, o Festival de Cannes só conseguiu existir de fato em 1946, com o fim da Segunda Guerra Mundial.
Seu tapete vermelho, sua tela e suas mesas de debates não existem só para receber os maiores astros do cinema. Cannes já foi palco de manifestações políticas, momentos divertidos e emocionantes.
Meca da sétima arte, a 70ª edição do Festival de Cannes pegou o trem da modernidade com a realidade virtual, as séries e a Netflix, em uma edição de aniversário que terá estrelas como Pedro Almodóvar como presidente do júri e Monica Belucci como anfitriã. A edição 2017 do evento vai acontecer de 17 a 28 de maio. Ao todo, 18 filmes vão disputar a Palma de Ouro.
Selecionamos 7 momentos históricos do Festival:
Lars Von Trier é persona non grata
Em 2011, o Festival abriu as portas para o cineasta dinamarquês levar seu filme "Melancolia" e, durante o debate do filme, o diretor afirmou que entendia Hitler, sentia até um pouco de compaixão por ele e que se entendia como nazista. No final de seu discurso, que causou contorções na atriz Kristen Dunst, que estava ao seu lado, o diretor tentou consertar dizendo que não era contra os judeus e nem a favor da guerra, mas já era tarde demais. Desde então, ele foi banido do festival.
Protesto brasileiro no tapete vermelho
Os brasileiros também fizeram história no festival. Aproveitando a vitrine internacional, o diretor Kleber Mendonça Filho e a equipe do seu filme "Aquarius", que concorreu à Palma de Ouro em 2016, ergueram cartazes contra o presidente Michel Temer. Ao chegar ao topo da escadaria que leva ao Palácio dos Festivais, mostraram cartazes com frases em inglês e francês, com dizeres como "O mundo não pode aceitar este governo ilegítimo", "Um golpe está acontecendo no Brasil", "54.501.118 de votos foram queimados".
Brasileiro vence a Palma
A única Palma de Ouro brasileira, prêmio máximo do festival, foi entregue em 1962 a "O Pagador de Promessas", de Anselmo Duarte. "O Pagador de Promessas" nasceu como peça de teatro, fez sucesso primeiro nos palcos, até que Anselmo Duarte, mais conhecido como ator do tipo galã assistiu e ficou obcecado: queria levar a história para o cinema e, para convencer o autor Dias Gomes a deixá-lo dirigir o filme, Anselmo fez também uma promessa. “Prometeu ao Dias que se o Dias revisse essa posição, ele iria fazer um filme que iria ganhar a Palma de Ouro”, afirmou o cineasta Anibal Massaini Neto, à Rede Globo em 2012.
Em Cannes com Madonna
Em 1991, no auge da carreira, a cantora apresentou no festival o documentário "Na Cama com Madonna". Para sua corrida diária de 15 km, ao lado de 15 seguranças, ela paralisava o trânsito nas pequenas ruas sinuosas de Cap d'Antibes, perto de Cannes. Na noite da exibição do filme, quase 10.000 fãs se reuniram diante do Palácio dos Festivais: sua limusine mal conseguia avançar entre a maré humana. Ao redor de Madonna, que usava o famoso sutiã cônico criado por Jean Paul Gaultier, reinava a confusão. Uma repórter de televisão caiu no chão durante uma entrada ao vivo, assim como outros jornalistas.
Desmaio, gritos e vaias
Em 2002, Gaspar Noé escalou o casal francês do momento, Monica Bellucci e Vincent Cassel, mas não entregou glamour, e sim choque. O drama "Irreversível" traz uma cena que está entre as mais perturbadoras do cinema, um estupro de quase 10 minutos. A plateia reagiu com vaias, gritos e um espectador desmaiou durante a sessão. A polêmica foi boa para o filme, que foi o mais bem-sucedido da França naquele ano, superando "O Fabuloso Destino de Amelie Poulain", que estreou no mesmo ano.
Piada sobre estupro
Na abertura do evento em 2016, o comediante Laurent Lafitte se virou para Woody Allen, que estava na plateia para a exibição de "Café Society", e disse: "Você filma tantos filmes aqui na Europa e nem foi condenado nos Estados Unidos por estupro". A frase foi uma referência a Roman Polanski, que fugiu dos EUA após ser condenado por abusar de uma menor, e talvez até ao próprio Allen, acusado pela filha Dylan Farrow de tê-la molestado. O climão pairou no ar, mas Allen disse no dia seguinte que não se importou com a piada e que é a favor da liberdade de expressão.
Maio de 1968
O ambiente de maio de 1968 inunda Cannes - no dia 10 de maio de 1968, enquanto Paris se cobre de barricadas, as estrelas se encontram no 21º Festival de Cannes. Os ventos do protesto cruzam rapidamente as portas do festival. Truffaut, Godard, Lelouch propõem interromper o festival e ocupar o palácio. Cineastas contestatórios "sequestram" uma projeção; os membros do júri renunciam, os diretores retiram seus filmes da competição. O Festival de Cannes de 1968 ficou sendo uma manifestação sem vencedor.