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Festival de Cannes exalta drama sobre terrorismo neonazista

O diretor Fatih Akin com a atriz Diane Kruger durante a apresentação do filme "The Fate" em Cannes - Alastair Grant/AP Photo
O diretor Fatih Akin com a atriz Diane Kruger durante a apresentação do filme "The Fate" em Cannes Imagem: Alastair Grant/AP Photo

Bruno Ghetti

Colaboração para o UOL, em Cannes (França)

26/05/2017 07h34

Em sua reta final, a disputa pela Palma de Ouro 2017 ainda não tem um favorito único, e a sessão matinal desta sexta veio a complicar a disputa ainda mais. O longa alemão “In the Fade”, dirigido por Fatih Akin, recebeu aplausos bastante calorosos na sessão para jornalistas. É, até o momento, o filme com temática mais abertamente política desta edição do festival.

O longa traz Diane Kruger (de “Bastardos Inglórios”) no papel de uma mulher alemã casada com um ex-traficante de drogas de origem turca e mãe de um filho de 6 anos. O trio leva uma vida tranquila, até que neonazistas explodem uma bomba no local onde trabalham. Com a morte do marido e filho, a personagem de Diane busca a condenação dos assassinos, seja pela Justiça, seja pelas próprias mãos.

Mais uma vez abordando a temática da imigração na Alemanha, Akin faz um filme abertamente contrário à xenofobia. O terrorismo do filme não é praticado pelos suspeitos usuais, os imigrantes, mas por aqueles que são contra esses grupos.

A ideia surgiu quando Akin observou histórias reais de casos em que imigrantes eram mortos e as autoridades sempre procuravam indícios de que usavam drogas – como se não pudesse haver outro tipo de motivação que não o tráfico. “Mas quando você começa a escrever um roteiro, novas camadas vão sendo incorporadas [ao material], aí surgiu a história da mãe. Acho que o filme é sobre uma mãe, é sobre luto. A questão política acabou ficando sendo mais um pano de fundo. Poderia ser qualquer tipo de terrorismo, isso não é tão importante. [Na verdade] É um filme sobre perda”, disse o cineasta, na conversa com a imprensa.

“Vivemos em um mundo globalizado, e esse mundo tem medo das pessoas. A globalização tem um lado bom e outro ruim”, disse. “Mas sou otimista com o mundo, e otimismo é luz. E onde há luz há trevas... Acho que o medo vai acabar, não sei se na minha geração ou na dos meus filhos, mas tenho otimismo.”

Kruger disse que se ofereceu para atuar em um filme de Akin quando se conheceram há alguns anos em um evento. O protagonista do longa, originalmente, seria um homem. “Depois resolvi que ele fosse uma mulher. Mas como não queria usar as escolhas previsíveis entre as atrizes alemãs, aí me lembrei da conversa com Diane e a convidei”, disse o Akin.

A ideia foi feliz: é a performance mais forte da carreira da atriz alemã e uma chance de mostrar talento que Hollywood ainda não havia lhe concedido. Kruger é uma das favoritas ao prêmio de atuação feminina.

“É um papel que me fez medo”, contou a atriz. “O que mais me interessou é que é sobre um ato terrorista. Hoje ouvimos a cada dia novos números sobre mortos, assim como as histórias daqueles que ficam. [A personagem] Katia me tocou muito: como é possível se viver diante desse horror?”

A traiz disse que se sentiu desafiada. “É uma personagem muito diferente de mim. Mas disse sim a tudo o que Akin me pedia. Era apenas ele quem poderia fazer esse filme. Infelizmente, acho que esse longa faz parte da nossa atualidade”, disse Kruger.

Até o momento, alguns filmes apresentados na Croisette tiveram excelente recepção, mas não se pode falar em favoritismo absoluto. O longa de Akin terá de enfrentar pesos pesados, como o russo “Loveless”, sobre a crise de valores na Rússia moderna, o francês “120 Battements par Minute”, de Robin Campillo, sobre o impacto da Aids na França dos anos 1990 e o sueco “The Search”, que critica diversos aspectos da sociedade ocidental contemporânea. Também possuem chances o thriller de ação “Good Time”, dos irmãos Safdie, a comédia dramática “The Day After”, do sul-coreano Hong Sangsoo, e o drama alegórico “A Gentle Creature”, do bielorusso Sergei Loznitsa. Os vencedores serão conhecidos no domingo, na cerimônia de encerramento do festival.