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Com "Mulher-Maravilha", mulheres botam ordem na bagunça da DC no cinema

Natalia Engler

Do UOL, em Los Angeles (EUA)

29/05/2017 13h00

Foi preciso uma mulher para botar ordem no universo cinematográfico da DC. Aliás, uma não, várias. “Mulher-Maravilha”, dirigido por Patty Jenkins (“Monster: Desejo Assassino”), que chega aos cinemas nesta quinta (1º), é de longe o melhor que a DC e a Warner já produziram desde que Zack Snyder assumiu a tarefa de levar os heróis da editora ao cinema.

Antes que os fãs comecem a reclamar, vale lembrar: "Homem de Aço", o menos massacrado pela crítica (tem uma aprovação de 55% no Rotten Tomatoes, agregador de críticas), foi chamado de "viagem por um caminho esburacado"; "Batman vs Superman" (28%) recebeu "elogios" de "inflado e sem sentido", "desgraça das narrativas" e "nada divertido"; e "Esquadrão Suicida" (25%) foi acusado de não ter uma trama, "tropeçar nos próprios pés" e ser "caoticamente confuso".

“Mulher-Maravilha” não sofre de nenhum desses males, e, como não poderia deixar de ser no primeiro filme de uma heroína criada em 1941 já como um símbolo feminista, ainda traz um toque de frescor para o universo dos super-heróis no cinema: cada quadro do filme está marcado pela presença feminina.

A começar pela presença luminosa de Gal Gadot (“Velozes & Furiosos 6”). A israelense de 32 anos ainda pode ser considerada uma novata no cinema, mas sua atitude esperançosa e positiva, com um toque de ingenuidade, cai como uma luva para o papel da heroína que esperou 75 anos para chegar às telas. A interpretação de Gadot também não deixa a desejar nos momentos em que a personagem precisa mostrar toda sua força e poder, e é de se aplaudir que o estúdio tenha incluído como parte da história o sotaque da atriz, que não tem o inglês como língua materna, assim como a heroína, nascida em uma ilha grega.

Além disso, a construção da personagem consegue escapar de clichês como o da forasteira ingênua, que precisa de um mentor para guiá-la no mundo humano. Nesta versão, Diana apenas não conhece o funcionamento da nossa sociedade, mas é mais sábia que boa parte dos humanos, e profundamente culta, inclusive sobre sexo --o que ficamos sabendo em um diálogo hilário com seu par romântico, o espião americano Steve Trevor (Chris Pine), que arrancou muitas risadas na exibição para a imprensa.

Mulheres no comando

As cenas em Themyscira, a mítica ilha grega lar das Amazonas, também brilham com outras presenças femininas marcantes, com destaque para Robin Wright, tão convincente e destemida como a general Antíope, tia de Diana, quanto como a Claire da série “House of Cards”.

Neste mundo livre de homens, as semideusas guerreiras criadas por Zeus dão belos exemplos da força que as mulheres têm quando se unem, o que pode ser um pouco intimidador para o público masculino, assim como é para Trevor, quando seu avião cai na ilha.

Aliás, a trama é outro ponto forte que separa “Mulher-Maravilha” de seus antecessores: ela faz sentido! Brincadeiras à parte, a história de origem da heroína é desenvolvida de forma linear e coerente. Com algumas mudanças em relação aos quadrinhos originais, aqui ela toma conhecimento da Primeira Guerra Mundial quando Trevor chega a Themyscira, e se sente impelida a deixar sua idílica ilha para pôr fim ao conflito (que acredita ser causado pelo deus da guerra Ares). Fica claro o que move os personagens, e o conflito entre a heroína e o grande vilão tem certo grau de complexidade, assim como as motivações deste.

Ao contrário dos outros filmes sob a batuta de Snyder (como diretor ou produtor), parece que aqui diretora, roteiristas, produtores e executivos do estúdio conseguiram entrar em acordo e se ater a uma visão única do que deveria ser “Mulher-Maravilha”, levada a cabo do início a fim.

O tom é sim mais otimista e leve que em “Batman vs Superman” ou “Homem de Aço”, com várias sequências capazes de arrancar risadas, mas não menos dramático, especialmente quando Diana de fato vai para o front.

E o mérito é em boa parte da diretora Patty Jenkins, que, nesses momentos, consegue fazer um filme de guerra com uma perspectiva bem fora do comum, e, arrisco dizer, que apenas uma mulher poderia apresentar. Sem fazer julgamentos, ela contrapõe a empatia de Diana, preocupada unicamente com as vidas destruídas pela guerra (uma característica geralmente vista como feminina), ao pragmatismo “masculino” de Trevor, mais voltado para a estratégia que possa levar ao fim do conflito, e já quase insensível às mortes ao seu redor.

Mas antes que alguém tache o filme de "propaganda" feminista, vale destacar que a mensagem ali é de humanidade, determinação e força, algo que deveria tocar a todos, independentemente do gênero. Uma frase dita pela heroína ao vilão resume bem o espírito da história: "Não importa o que eles [humanos] merecem, importa o que você acredita. E eu acredito no amor".

É claro que as meninas e mulheres vão poder tirar algo a mais do longa, porque finalmente terão seu ponto de vista representado pela protagonista, mas “Mulher-Maravilha” tem diversão, emoção e ação para todos os gostos.