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Handmaid's Tale é a melhor e mais assustadora série que você não está vendo

Elisabeth Moss em cena de "The Handmaid's Tale" - Divulgação - Divulgação
A atuação de Elisabeth Moss é um dos destaques da série
Imagem: Divulgação

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

04/08/2017 04h00

Em agosto, ainda pode parecer cedo para eleger a melhor série do ano. Mas há uma certeza: “The Handmaid’s Tale” já garantiu seu merecido posto entre as produções de 2017. Baseada no livro “O Conto da Aia”, lançado por Margaret Atwood em 1985, a série indicada a 13 Emmys mescla atuações de alto nível, uma estética de encher os olhos com um enredo perturbador que, apesar de distópico, não está tão distante assim da nossa realidade.

No universo de “Handmaid’s Tale“, não há mais Estados Unidos – pelo menos não como o conhecemos. Em meio a uma crise global de fertilidade, o país se transformou em uma teocracia totalitária totalmente comandada por homens, chamada Gilead. As mulheres perderam todos os direitos, incluindo os de ler, trabalhar e manter bens, e foram divididas, categorizadas e, em certos casos, transformadas em propriedades do governo.

As aias do título são as mulheres férteis designadas para carregar os filhos dos casais inférteis da elite do país. Nem o próprio nome elas mantêm: elas passam a ser designadas pelo nome do comandante ao qual servem. A protagonista vivida por Elisabeth Moss é chamada de Offred – ou seja, de Fred, em referência ao personagem de Joseph Fiennes. Tratadas como gado, as aias são rotineiramente estupradas para cumprir seu “propósito divino”. A elas, só cabe obedecer. Qualquer deslize é punido com castigos físicos – não importa o quão extremos eles sejam, contanto que as capacidades reprodutivas fiquem intactas.

Acompanhamos esse pesadelo pelos olhos de Offred, que dizem muito – às vezes até mais do que a narração que surge para nos esclarecer do que passa na mente dela. A rotina de uma aia é composta basicamente de frases feitas e um “sim, senhora” vez ou outra, mas o olhar de Elisabeth Moss – em uma atuação tão boa ou até melhor do que em “Mad Men” -- deixa claríssimo que os sentimentos por trás das palavras são outros, sejam de medo, surpresa ou, até, resistência.

A história de Offred é acompanhada, em menor escala, por outras, como a de sua melhor amiga, Moira (Samira Wiley, a Poussey de “Orange is the New Black”), a da mulher de seu comandante, Serena Joy (Yvonne Strahovski), e a da aia Ofglen (Alexis Bledel, de “Gilmore Girls”, em um destaque surpreendente). Peça a peça, elas vão revelando os horrores e os bastidores de uma sociedade fundamentalista e cruel, repleta de hipocrisias e contradições.

O horror, aliás, é uma constante na série, que não foge de cenas de estupros, mortes e sessões de punição – executadas de forma elegante, sem apelar ao sensacionalismo barato. O clima pesado da trama, entretanto, não depende só delas: do começo ao fim, o espectador é envolvido pelo mesmo estado de tensão permanente que aflige as personagens, presas em um Estado no qual são vigiadas por todos os lados e a menor transgressão pode levar à tortura e à morte.

Contribui para a sensação perturbadora criada por “The Handmaid’s Tale” – e para sua relevância – o fato de que a trama é assombrosamente atual. A autora Margaret Atwood afirmou em artigo recente para o “New York Times” que, ao escrever o livro, se baseou em coisas que aconteciam ou já haviam acontecido em algum momento da história. E elas continuam: da cultura de culpar vítimas de violência sexual à mutilação genital e ao assassinato de homossexuais, tudo é muito familiar. Não à toa, nos últimos meses várias mulheres americanas se vestiram como as aias, com longos robes vermelhos e toucas brancas, para protestar contra propostas de lei republicanas que diminuem o acesso a métodos contraceptivos e ao aborto, permitido nos Estados Unidos desde 1973.

Coroando o conjunto da obra, vem uma fotografia belíssima e uma trilha sonora bem colocada que faz questão de reforçar ao espectador que aquele não é um futuro distante. Lamentavelmente, a série ainda não está oficialmente disponível no Brasil – ela foi exibida originalmente pelo Hulu, serviço de streaming que ainda não opera por aqui. Veículos especializados chegaram a publicar que a série desembarcaria em terras tupiniquins pelo Fox Premium, mas a assessoria do canal, consultada pelo UOL, negou.