"Titanic" é plágio? Conheça o obscuro telefilme que inspirou James Cameron
Vencedor de 11 Oscars e a segunda maior bilheteria da história, “Titanic” (1997) poderia ter naufragado caso uma obscura produção da rede americana CBS não tivesse vindo à luz. Exibida como minissérie de dois capítulos, estrelada por jovens Catherine Zeta-Jones e Peter Gallagher, “Titanic” foi lançado em novembro de 1996, um ano antes do longa que mudaria a maneira como assistimos e compreendemos o cinema.
Figurino, direção de arte, trama e até algumas cenas famosas de “Titanic” já estavam na versão da história dirigida por Robert Lieberman, que precisou afundar algo que "nem Deus" seria capaz sob um orçamento nada celestial: US$ 7 milhões —US$ 193 milhões a menos do que gastou James Cameron.
“A CBS me disse quando assinei o contrato que me daria US$ 11 milhões, mas veio menos. Criar a ilusão de um grande naufrágio com US$ 7 milhões foi uma insanidade. Usamos um tanque pequeno em Vancouver e íamos construindo todo o navio dentro dele. Como já tinha assinado, não poderia sair do projeto. Bolamos várias ideias para criar a ilusão”, diz ao UOL Robert Lieberman.
Após patinar com a audiência, o filme e ganhou um Emmy de mixagem de som. No Brasil, chegou a ser exibido na TV aberta pelo SBT no início dos anos 2000. Qualquer comparação é cruel. Enquanto James Cameron virou o “rei do mundo”, um dos cineastas mais bem-sucedidos da história, Lieberman voltou a dirigir projetos para a TV.
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“Sinceramente, é justo dizer que o James Cameron me copiou. Mas eu não o julgo por isso. Ele olhou para o meu filme, assim como olhei para outros para pegar ideias. É um jogo justo. O diretor precisa assistir a muitos filmes para poder assimilar referências”, pondera o diretor, que nunca conseguiu conversar com Cameron a respeito das semelhanças.
Vale lembrar, no entanto, que tanto Robert quanto James Cameron se basearam em relatos reais de livros e em outros filmes que abordam a tragédia —antes de 1996, dez produções haviam sido lançadas. Uma delas, a britânica “Só Deus por Testemunha”, de Roy Ward Baker, chegou a vencer um Globo de Ouro em 1959.
“Meu sentimento quando vi o filme do James Cameron foi de desapontamento. Porque foi um trabalho que eu fiz com muito menos dinheiro, ao qual me debrucei por um ano. Li todos os livros e vi tudo sobre o assunto. Pensei que estava fazendo o grande filme sobre o Titanic”, diz Lieberman.
Hoje, o cineasta se orgulha menos do filme e mais de ter apresentar Catherine Zeta-Jones ao mercado americano. “Mas tem coisas que gosto mais no meu. O momento em que a família pobre fica presa no convés e não consegue pegar um bote, por exemplo, é muito comovente. Toda atuação ali é perfeita. É um momento que eu realmente amo no filme.”
O UOL entrou em contato com o diretor James Cameron por meio de sua produtora, a A Lightstorm Entertainment, para comentar sobre as semelhanças dos filmes, mas empresa não havia respondido aos pedidos de entrevista até a publicação destes texto.
Veja abaixo as semelhanças (e algumas diferenças) entre os "Titanics".
Trama
Assim como no longa de James Cameron, “Titanic” (1996) também é conduzido por uma história de amor proibido, a dos aristocratas Isabella Paradine (Catherine Zeta-Jones) e Wynn Park (Peter Gallagher) —ela é casada; ele, um ex-namorado de quem esconde uma filha. Os dois revivem intensamente o amor por quatro dias, assim como fazem Rose Bukater (Kate Winslet) e Jack Dawson (Leonardo DiCaprio). Outra semelhança, Park morre no naufrágio, devolvendo a amada voltar à vida normal. No telefime, há ainda um casal formado na terceira classe: o trapaceiro Jamie Perse (Mike Doyle), que furta um homem para conseguir a passagem —Jack Dawson a ganha no jogo—, e a missionária Aase Ludvigsen (Sonsee Ahray). Em ambas as produções, tanto Jamie quanto Jack conseguem se infiltrar na primeira classe, sendo vítimas de preconceito e armação. A principal diferença nas tramas: apenas no filme de James Cameron o amor acontece entre pessoas de classes diferentes.
Cenas
Baseadas em relatos reais ou não, várias cenas são praticamente idênticas nos filmes (veja vídeo no topo da página). Três delas, em especial, chamam a atenção: 1) Após o choque no iceberg, as mocinhas dos dois filmes são colocadas em bote salva-vidas, descendo lentamente enquanto observam seus pares no convés. A diferença é que Rose, mais rebelde que Isabella, salta para dentro do navio antes de chegar ao mar; 2) Em meio ao caos do naufrágio, um oficial do Titanic tenta conter a multidão e atira em um homem. Arrependido, ele se mata em seguida com um tiro na cabeça; 3) Tanto Jamie quanto Jack tentam ajudar suas amadas em situações extremas —Aase é estuprada, enquanto Rose tenta se matar—, mas acabam mal-interpretados e repreendidos pelo ato. “Gosto de pensar que tudo isso foi uma homenagem”, diz Robert Lieberman.
Direção de arte
Apesar da gigantesca diferença no orçamento, os dois longas têm direção de arte parecida. É inegável, por exemplo, a semelhança entre os figurinos dos personagens, inspirados nos da época, principalmente os de Jamie Perse e Jack Dawson (Leonardo DiCaprio) e os de Isabella e Rose. Os dois filmes tentaram recriar o mais fielmente possível o interior do Titanic, com seus salões de luxo e a escadaria com relógio. Segundo Rob Lieberman, os guarda-roupas usados em seu filme, alugados de uma loja no Reino Unido, foram reutilizados um ano depois por James Cameron. “Devolvemos o mobiliário nos Estados Unidos, para economizar o frete, e eles acabaram usando vários dos nossos armários depois.”
Inspiração no real
Os dois “Titanics” se basearam em relatos e personagens reais, restringindo a ficção aos protagonistas. O quarteto de cordas que tocou até o momento do naufrágio é retratado, assim como as conhecidas festas da terceira classe. Outro fato: a vaidade da tripulação, que esquentou as caldeiras para tentar encurtar a viagem. Vários personagens históricos também aparecem nas duas histórias, como emergente a Molly Brown, o empresário Bruce Ismay e o capitão Edward John Smith. Lieberman, por sinal, foi o primeiro diretor de ficção a mostrar o Titanic se partindo em dois pedaços, conforme indicaram os destroços do navio, descobertos apenas em 1985.
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