Topo

Versão em 3D de "Thriller" melhora dança de Michael Jackson com zumbis

Michael Jackson em cena do clipe "Thriller" - Divulgação
Michael Jackson em cena do clipe "Thriller" Imagem: Divulgação

Bruno Ghetti

Colaboração para o UOL, em Veneza (Itália)

04/09/2017 11h13

Oito anos depois de sua morte, Michael Jackson continua garantindo o espetáculo. Na noite de domingo, no Festival de Veneza, uma programação especial em homenagem ao rei do pop contou com uma das sessões mais animadas do evento: a exibição do famoso videoclipe “Thriller” (1983) em 3D, seguida da projeção de uma versão restaurada do documentário “Making of Michael Jackson’s Thriller” (1983), de Jerry Kramer, que traz bastidores das filmagens do clipe.

Os filmes deverão ser lançado em circuito mundo afora em breve. Na primeira sessão, para os jornalistas, o clima era antes de algazarra. Quando, na tela, o Michael tridimensional dava sustos em sua namorada (a atriz Ola Ray), os repórteres reagiam junto, descontraidamente e com muitos aplausos e gritos de “u-hu”; foi sem dúvida a sessão com reações mais empolgadas até agora no festival.

“‘Thriller’ é algo de que eu tenho é um enorme orgulho”, disse o diretor do videoclipe, John Landis, em conversa com a imprensa. “Eu e Michael queríamos que o filme fosse apresentado no cinema. Na verdade, foi isso que me interessou ao ser convertido para o 3D: assim teria a chance de levar o filme ao cinema mais uma vez”. “Thriller” foi lançado em sala de cinema nos EUA, em 1983, e se tornou um dos grandes eventos de público de massa do começo daquela década. Michael, que já era um astro conhecidíssimo em carreira solo (após anos de um êxito também estrondoso no grupo The Jackson 5) e ali se consolidou de vez como o rei do pop.

O videoclipe foi um grande marco do formato. A historinha de 14 minutos traz Michael no cinema vendo um filme de terror com a namorada – ele próprio se transfigura em morto-vivo e, pouco depois, faz uma icônica dança com zumbis no cemitério. O ponto alto é a famosa gargalhada final, que fazia medo e fascínio a toda uma geração que foi criança na década de 1980. Landis ficou satisfeito com a passagem para o 3D. “Durante o processo de conversão, pensei: ‘Uau, é incrível!’. Foi trabalho de quadro a quadro. Acho que a dança melhorou muito com o 3D. Meu único desapontamento é que Michael não pôde ver o resultado.”

Mesmo que não ajude muito em tornar o clipe mais assustador, a aplicação da tecnologia 3D ao vídeo torna a imersão na fantasia de horror algo mais divertido. A tridimensionalidade de “Thriller” não tem nada de revolucionária – às vezes, praticamente se limita a tornar as imagens do fundo um pouco embaçadas, de forma que o que está à frente ganhe destaque. Mas quando Michael dança com os zumbis, o efeito 3D se torna mais efetivo, tornando a energia da versão bidimensional ainda maior.

Landis relembrou a gênese do projeto. A ideia do videoclipe surgiu quando Michael assistia ao filme “Um Lobisomem Americano em Londres” (1981), de John Landis, e queria algo parecido no vídeo. Ele próprio convidou Landis e, após conversas, surgiu o conceito e projeto. “O clipe é o produto de uma vaidade: Michael o fez porque queria se transformar em um monstro”. Na época, Michael tinha 24 anos. “Eu jurava que ele tinha 18. Tínhamos uma ótima relação [no set]. Ele era uma pessoa muito determinada a fazer sempre o melhor. Michael era uma criança, mas não era infantil. Não teve infância, a perseguia quando adulto”, diz o diretor.

“No nosso primeiro encontro, ele ficava me perguntando como eu tinha feito uma cena ou outra. Mostrei imagens de diversos filmes de terror – e ali percebi que, na realidade, ele nem tinha assistido a tantos assim em sua vida”. Landis voltaria a trabalhar com Michael em 1991, no clipe “Black or White”, que se tornaria outro marco. “Tive um desacordo financeiro com Jackson [em relação a ‘Thriller’]. Quando ele me convidou para dirigir ‘Black or White’, eu disse: ‘Mas Michael, eu estou processando vocês!’. Mas houve um acordo”.

Segundo Landis, no entanto, o Michael de "Black or White" visivelmente era outra pessoa. “Quando trabalhamos juntos pela primeira vez, Michael estava no ápice, era uma alegria. Ali, ele veio a mim, era meu. Mas em ‘Black or White’, era eu que trabalhava para ele”, distingue o diretor. “Foi diferente. Nós nos dávamos bem, mas ele estava uma pessoa mais reservada. Eu não o invejava ali”.

Na conversa, Landis contou algumas lembranças saborosas de momentos com Jackson. “Vou dizer a única vez que realmente tive medo na vida: foi quando fomos à Disney, logo depois de ‘Thriller’. Michael queria tirar uma foto ao lado de Mickey”, disse Landis. “De repente, estávamos ali [para a foto] e, ao nosso redor, já havia milhares de pessoas, que gritavam, choravam, desmaiavam. Pensei que iam devorar a gente. O Mickey viu aquilo e disse ‘Meu Deus!’ [imita a voz do ratinho]. Mas Michael sorria e acenava calmamente”, relembrou Landis. “O que eu pergunto é: como se pode viver assim?”.

John Landis, diretor do clipe "Thriller"  - Alessandro Bianchi/Reuters - Alessandro Bianchi/Reuters
John Landis, diretor do clipe "Thriller"
Imagem: Alessandro Bianchi/Reuters
Landis disse que se lembra bem de quando soube da morte de Jackson. “Eu estava indo para o aeroporto para uma viagem a Londres. De repente, começaram a surgir carros de veículos da imprensa na porta de casa. No caminho para o aeroporto, uma até me seguiu. Não entendi mas aí meu motorista avisou: ‘Michael Jackson morreu’. Acho que foi uma tragédia para a família, os amigos, o mundo. Porque é raro que surjam pessoas realmente talentosas, e ele era uma.”

O documentário “Making of Michael Jackson’s Thriller”, exibido após o videoclipe, complementa essa imagem do Michael talentoso e mais “normal” que a figura estranha que ele foi no fim da vida. Há várias cenas de bastidores, de instantes felizes, com Landis carregando Michael no colo, ensaios para danças e trechos com entrevistas em que Jackson se mostra uma pessoa bastante tímida e frágil. “O mais importante: ali temos uma imagem de um Jackson alegre”, diz Landis.