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5 partes excelentes em "It: A Coisa" e outras 5 que poderiam ser melhores

"It: A Coisa" (2017), de Andy Muschietti - Divulgação
"It: A Coisa" (2017), de Andy Muschietti Imagem: Divulgação

Rodolfo Vicentini

Do UOL, em São Paulo

08/09/2017 04h00

Spoilers! Caso você não queira saber alguns detalhes da história de "It: A Coisa", não continue a ler

"It: A Coisa" chegou aos cinemas na quinta (07) com uma expectativa gigantesca (e uma tremenda responsabilidade). A história da entidade que se transforma no pior medo das pessoas foi escrita por Stephen King em 1986 e ganhou uma adaptação para a televisão alguns anos depois. Tim Curry marcou uma geração com sua interpretação irônica e assustadora do palhaço protagonista e, agora, 27 anos depois, o icônico personagem volta na pele do "novato" Bill Skarsgard.

O diretor Andy Muschietti se aproveitou da expectativa que a produtora Warner Bros. criou ao divulgar a primeira imagem da nova versão do Pennywise, no começo do ano. O argentino garantiu que o filme seria uma adaptação que todos os fãs do livro iriam adorar e que não iria poupar nada, ou seja, o filme seria violento, grotesco e para adultos. Após tanto hype, finalmente podemos ver "It: A Coisa" nos cinemas.

O UOL selecionou cinco pontos excelentes da produção e outros cinco que poderiam ter sido melhores na nova adaptação. Mas quer um "spoiler amigo"? Vale a pena ir ao cinema.

Pontos positivos

1. Crianças

Andy e sua irmã, a produtora executiva Barbara, souberam retratar com maestria o relacionamento entre as crianças. O filme talvez seja o que melhor tenha se aproximado da proposta de King desde "Conte Comigo" (filme de Rob Reiner lançado em 1986), ao apresentar a amizade, as descobertas do primeiro amor e a transformação da infância para a vida adulta. Bill é o líder; Ben é o do grande coração e que sofre bullying na escola; Eddie é o hipocondríaco desesperado; Richie é aquele amigo chato que sempre faz piada mas que a gente adora; Stanley é o mais lógico; Mike é a força e o historiador; e Beverly é a garota moleca com uma força impressionante de vencer barreiras. Todas as cenas do elenco infantil -- e alguns diálogos hilários --são desenhadas captando um dos pontos-chave da obra original e fazem com que o público se apaixone pelo "Clube dos Perdedores".

2. Pennywise

O ator Bill Skarsgard convence como o palhaço demoníaco. Chega a ser melhor que Tim Curry? Não. Mas não que isso seja um problema. Se o personagem de Tim Curry assustava pela voz rasgada, aparência um tanto tosca e as feições perturbadoras, o novo Pennywise mostra que a Warner desembolsou uma bela grana. O palhaço é aliado da computação gráfica, seja para aumentar de tamanho ou para se contorcer ao tentar sair do esgoto. Mas as cenas mais assustadoras são justamente as mais simples, em que a atuação de Bill fica aparente. A cena inicial no bueiro com o pobre George é um retrato fantástico da descrição sangrenta e perturbadora que Stephen King fez. 

3. Foge dos clichês

De filmes de terror, a indústria cinematográfica está cheia. Já vimos milhares de "pseudodocumentários" como "A Bruxa de Blair" e a franquia "Atividade Paranormal", outros tantos bonecos e objetos possuídos e mais algumas centenas de crianças que precisam se virar contra criaturas malignas. Mas como "It: A Coisa" dribla tudo isso? É simples: menos é mais. Andy Muschietti apostou na antiga fórmula de horror que um filme para dar medo precisa ser visual e não uma sequência de sustos atrás de sustos. É igual aquela cena de "O Iluminado" em que Danny vira o corredor e encontra as gêmeas. Há o susto, mas há o medo da aparência. A imagem das meninas paradas acaba sendo macabra, mesmo situação do elevador que se abre e um rio de sangue invade o andar. Apesar de cair em alguns clichês (explicaremos melhor), o diretor apostou na figura de It para construir o medo da produção.

Diretor Andy Muschietti, produtora Barbara Muschietti e o elenco de "It: A Coisa" - Reprodução - Reprodução
Diretor Andy Muschietti, produtora Barbara Muschietti e o elenco de "It: A Coisa"
Imagem: Reprodução

4. Mudanças em relação ao livro

O principal acerto foi em colocar a trama durante os anos 80 -- no original, o enredo se passa em 1958. A brincadeira com o New Kids On The Block e a guerra de pedra ao som de "Antisocial", do "Anthrax", foram surpresas agradáveis, tal qual o caminho escolhido pela produção para mascarar a orgia infantil que chocou tantos leitores e relação de Bev com o pai. Claro que as 1300 páginas da obra original não seriam retratadas com precisão, afinal, não é uma série. É praticamente o oposto que Peter Jackson conseguiu ao parir três "Hobbit" de um livro com 300 páginas. 

5. Personalidade

É uma tremenda responsabilidade adaptar Stephen King. "A Torre Negra" teve um excelente elenco e não deu certo. Outra enrascada é fazer um filme que o público já tem em mente como seria o personagem principal, graças à minissérie da década de 90. Tanto Skarsgard quanto os produtores e diretor colocaram personalidade e não quiseram se apegar ao passado. Primeiro ao dividir o filme pela linha cronológica e não ficar entre o futuro e o passado como prega o livro. Depois para dar uma feição inédita ao demônio ícone da cultura pop e jogar a adaptação para os anos 80 -- lembrando que na "Parte 2", o filme será nos tempos atuais, já que Pennwyise volta a cada 27 anos. Muschietti já anunciou que deixou inúmeras partes de lado e que serão trabalhadas na sequência.

Pontos negativos

1. Lobisomem

Cada criança tem um medo e passa por uma situação traumática com a entidade antes de decidirem se reunir para acabar com a criatura. A do falastrão Richie é um lobisomem com uma jaqueta estudantil que tem seu nome gravado, já que ele viu no cinema "I Was a Teenage Werewolf" e ficou traumatizado. Pelo menos no livro. No filme, o garoto apenas responde que seu medo é de "palhaços". Já que na minissérie o tal lobisomem é um tanto ridículo e não mete medo em ninguém, seria curioso ver como a nova adaptação colocaria a cena nas telonas. Mas ficou apenas no quase mesmo.

Bill Skarsgard interpreta Pennywise no remake de It: A Coisa - Brooke Palmer/Warner Bros - Brooke Palmer/Warner Bros
Bill Skarsgard interpreta Pennywise no remake de It: A Coisa
Imagem: Brooke Palmer/Warner Bros

2. Amarrar a história

Faltou polir alguns trechos da história, como a relação entre Ben e o restante do grupo. O garoto é novo na escola e sofre bullying. Um dia, fugindo do valentão Henry Bowers, ele acaba encontrando Bill e Richie e aos poucos ficam amigos. Só que no filme isso acontece quase automaticamente, enquanto no livro demora um pouco mais. Claro que "It: a Coisa" tem 2h15 de duração e qualquer "enrolação" a mais aumentaria ainda mais esse tempo. Mas em alguns casos, talvez fosse necessário acrescentar alguns detalhes da história para fortalecer o todo, inclusive dar mais ênfase em como os moradores da cidade são afetados pela presença do demônio. 

3.  Escorrega em (poucos) clichês

Vamos com muita calma. O filme passa algumas barreiras dos filmes de terror, mas, infelizmente, acaba caindo em um momento ou outro. A tal cena do bueiro com o pequeno George pode servir de exemplo novamente. Todo mundo sabe que Pennywise iria aparecer, afinal o trailer viralizou nas redes sociais. Então não precisa subir o som para criar um susto desnecessário, sendo que as cenas seguintes são as responsáveis para causar medo. Em outros momentos, mesmo que pequenos (ainda bem), Muschietti caiu nessa situação, como na vez que as crianças entram na casa sinistra atrás do palhaço e portas fecham aqui e outros se perdem acolá. O engraçado é que uma das melhores cenas de "It: A Coisa" é um baita susto que não usa do artifício de subir som nem de dar "aquela pausa" na trilha sonora para soltar alguma nota aguda repentina. Preste atenção na cena em que Ben vai atrás do balão vermelho na biblioteca.

4. Algumas tomadas de Pennywise

No segundo trailer do filme, quando Richie se encontra em um quarto fechado cheio de palhaços até que, finalmente, Pennywise o ataca, reparou no efeito para mostrar que o It está se aproximando? A câmera fica parada e a figura do palhaço chega cada vez mais perto da lente de forma "paranormal". Em algumas ocasiões o diretor usa esse recurso no filme, mas não funciona. Não dá medo e fica estranho. Diversas outras partes do filme são tão mais aterrorizantes e, como dito nos "pontos positivos", em um formato simples, que aposta mais no visual do que na tecnologia.

5. Henry Bowers

O valentão de Derry é um dos personagens mais complexos da obra de Stephen King. Com um pai autoritário e violento, o garoto foi criado em um ambiente hostil e carrega uma raiva interna gigantesca. No livro, o personagem é muito pior do que o retratado na nova adaptação. Ele escreve com uma faca suas iniciais na barriga de Ben (no filme ele chega a escrever e depois o momento é esquecido), mata o cachorro de Mike e ainda assassina o próprio pai. Mas o é interessante ver a transformação psicológica que Henry é acometido pela influência de Pennywise. Talvez fosse melhor abordar mais esse segmento, em que o personagem acaba se transformando em um capacho da entidade e vira um ser ainda mais maligno, não apenas um valentão do interior. Henry será importantíssimo na segunda parte do filme e é bem possível que o diretor já tenha planejado uma abordagem grandiosa para uma peça fundamental na trama.