Dilma sofreu golpe? Investigadores do filme sobre Lava Jato respondem
Há um ano, 61 senadores selaram em votação o fim do mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, em um processo de impeachment que ainda hoje suscita o debate. Enquanto defensores da deposição argumentam que ela cometeu, sim, graves crimes de responsabilidade, críticos partem da tese de que o processo tem apenas viés político, no que seria uma espécie de golpe de Estado articulado pela Câmara dos Deputados.
Aproveitando a estreia do filme “Polícia Federal - A Lei É para Todos”, sobre a operação Lava Jato, que também coloca Dilma na berlinda, fizemos uma pergunta direta ao diretor, produtor e atores que interpretam os investigadores da maior ação anticorrupção do país: “Afinal, foi ou não foi golpe?”. As opiniões divergem, como esperado. Veja abaixo.
"Questão de nomenclatura"
"A referência que a gente tem de golpe é o de 1964, que foi completamente diferente do que aconteceu agora. Eu não tenho dúvida de que houve tramoia, traições, complôs. Você pode chamar isso de golpe ou não, não me interessa. Eu quero saber o cerne da questão, o que tem de profundo nisso. Teve a legitimação da Câmara, do Senado. É difícil você falar em golpe, mas, ao mesmo tempo, se você tomar conhecimento de tudo o que aconteceu, os conchavos, aí você pode falar que foi. É só questão de nomenclatura. Mas que a coisa foi estranha, foi.", diz Antonio Calloni.
"Falou articulação da Dilma"
"O que aconteceu, para mim, não tem a ver exatamente com um golpe de Estado. Acontece que a Dilma abriu mão de articular politicamente. Concordo, sim, que, se ela tivesse a articulação política que o Temer tem, ela não teria saído do governo. Eu acho que ela acabou se garantindo demais e deixou a linha de frente. O golpe, talvez, tenha acontecido mais nesse sentido. Dentro dos trâmites processuais, tudo foi realizado dentro do rigor da lei. O que faltou de fato foi articulação dela", entende a atriz Flávia Alessandra.
"Foi golpe legislativo"
"Acho, sim que, foi golpe. Um golpe legislativo, desse péssimo legislativo que a gente tem para nos representar. Isso não tem discussão. Mas, por outro lado, a questão que para mim é mais complexa é que parte da discussão está muito em cima da vitimização da Dilma. De ela vir e dizer 'eu sofri um golpe'. Não concordo com essa atitude porque, no fim das contas, quem colocou o PMDB no poder foi o próprio PT. No fim das contas, acho que tudo o que temos hoje é um grande golpe, de todos os lados", afirma o ator Bruce Gomlevsky.
"Golpe não é melhor palavra"
"Costumo dizer que não tenho arcabouço jurídico para julgar se ela cometeu ou não cometeu o que disseram. Mas, independentemente de qualquer coisa, acho que houve um conjunto de situações que estavam na mão do congresso decidir. Naquele momento, não havia entendimento entre os poderes. Deu no que deu. No governo Temer, também está acontecendo algo parecido. Eu não sei se a palavra golpe é a melhor palavra para ser usada neste caso. Sei é que houve interesses de várias partes, mas não cabe a mim julgar. Não faço política, não entendo de direito e nem sou especialista de Facebook", diz o cineasta Marcelo Antunez.
"Não cabe a nós dizer"
"Tenho a mesma opinião que o Marcelo. Não cabe a nós dizer se foi golpe ou não. Hoje, o que me move mais é perceber a quantidade de partidos envolvidos em todos esses esquemas de corrupção. É algo assustador. Claro que nem todos os políticos são corruptos, mas, pelos cálculos que fizemos no filme, 80% dos partidos estão envolvidos com alguma coisa. Você fica assustado. Quem é meu líder e me representa? Só espero que tudo isso que está acontecendo não acabe em pizza", afirma o produtor Tomislav Blazic.
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