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Como chefão de Hollywood que admitiu assédio levou Cidade de Deus ao Oscar

Harvey Weinstein em festa do Globo de Ouro em 2014 - Getty Images
Harvey Weinstein em festa do Globo de Ouro em 2014 Imagem: Getty Images

Do UOL

Em São Paulo

06/10/2017 12h56

Um dos principais tubarões de Hollywood, o produtor Harvey Weinstein, alvo de uma reportagem bombástica do "The New York Times" desta quinta-feira (05) que revelou acusações de assédio sexual durante décadas, foi o responsável por levar o filme "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles, a concorrer ao Oscar em 2004 em quatro categorias (Diretor, Roteiro Adaptado, Edição e Fotografia). 

O envolvimento de Weinstein com "Cidade de Deus", começou em 2002, quando a Miramax, produtora que ele e o irmão Bob fundaram nos anos 70, compraram os direitos de distribuição internacional do filme. Após o longa, que havia sido escolhido como representante brasileiro ao Oscar de filme estrangeiro, não conseguir uma indicação em 2003, Weinstein decidiu fazer uma forte campanha para que ele disputasse as categorias principais da premiação no ano seguinte, uma vez que ainda não havia sido lançado comercialmente nos Estados Unidos, condição para concorrer aos prêmios principais.

Com um grande lobby, que incluiu o apoio de gente de peso como Quentin Tarantino e Matt Damon, Weinstein e a Miramax emplacaram quatro indicações para "Cidade de Deus", um feito inédito e até hoje não repetido por outro filme brasileiro. "Tenho orgulho de 'Cidade de Deus'", disse Weinstein em entrevista à agência Reuters logo após o anúncio dos indicados ao Oscar de 2004. 

Cidade de Deus  - Reprodução - Reprodução
Cena do filme "Cidade de Deus"
Imagem: Reprodução

Nascido em uma família de classe média baixa no bairro do Queens, em Nova York, Weinstein passou a infância morando em um conjunto habitacional do governo. "Não estou forçando um paralelo entre 'Cidade de Deus' e o cenário da minha infância. Mas sei de onde vim, e os temas do filme de Meirelles me importam muito", falou o produtor em entrevista à revista "Veja".

A força do lobby dos irmãos Weinstein já gerou muita polêmica em Hollywood. A maior delas foi a campanha vitoriosa de "Shakespeare Apaixonado", que faturou incríveis sete Oscars em 1999, incluindo Melhor Filme e Melhor Atriz (para Gwynet Paltrow). Além disso, Harvey sempre foi apontado como arrogante, centralizador e persuasivo. Em 1993, a revista "Fortune" o escolheu como um dos chefes mais estressados dos Estados Unidos.

No caso do assédio sexual revelado pelo "The New York Times", Harvey Weinstein reconheceu os casos e pediu desculpas. "Considero que o modo como me comportei com colegas no passado causou muita dor e peço minhas sinceras desculpas por isso", disse o magnata dos filmes em declaração ao Times após a história ser publicada. Ele acrescentou que contratou terapeutas e planeja tirar uma licença "para lidar com essa questão".

"Cresci nos anos 1960 e 1970 quando todas as regras sobre o comportamento e os lugares de trabalho eram diferentes", continuou o produtor de 65 anos. "Era a cultura dessa época, e aprendi desde então que não é uma desculpa, na companhia ou em outro lugar", acrescentou.

Entre as acusadoras, relatou o Times, estão celebridades como Rose McGowan e a atriz Ashley Judd. Esta última se lembra de ter sido convidada para a suíte de Weinstein em um elegante hotel de Beverly Hills há 20 anos, esperando ter um café da manhã de negócios.  Ao invés disso, contou a atriz, Weinstein apareceu usando um roupão e perguntando se ela queria fazer uma massagem nele ou vê-lo tomando banho.

Duas ex-assistentes e uma modelo italiana fizeram acusações semelhantes, e supostamente chegaram a um acordo. Uma das assistentes foi supostamente assediada por Weinstein para que lhe fizesse uma massagem enquanto estava nu, deixando-a "chorando e muito angustiada".

* com AFP