"Ter dividido com o público que sou gay me transformou", diz Ellen Page
Em “Além da Morte”, que estreia nesta quinta-feira nos cinemas, Ellen Page vive a protagonista Courtney, a mais decidida de um grupo de estudantes de medicina que busca desafiar as barreiras da morte. A investigação sobre os riscos de se passear pelo mundo dos mortos - no caso da Courtney de Page, por motivação pra lá de dramática - e de como as experiências vividas pelos jovens futuros médicos afetam decididamente suas vidas segue como o mote da história. O filme, um remake de "Linha Mortal" (um mix de horror e drama psicológico dirigido por Joel Schumacher em 1990, com Julia Roberts e Kiefer Sutherland no elenco) é o primeiro de um grande estúdio (a Sony) protagonizado por Page desde que a Kitty Pride da franquia "X-Men" assumiu publicamente ser lésbica e se dedicou a um impressionante trabalho de militância pelos direitos LBGTQ.
"Aquele momento específico, em que decidi dividir com o público, com os fãs, com quem acompanha meu trabalho, quem de fato eu era, me transformou completamente. A sensação que eu tenho hoje é de enorme felicidade, por poder dizer que sou gay, que tenho orgulho de ser quem sou, e de ter podido investir em produções como "Gaycation"", diz a atriz de 30 anos, que assumiu publicamente ser lésbica em 2014.
A série "Gaycation", produzida pela Vice no canal Viceland e disponível no YouTube, contou inclusive com um episódio dedicado ao Brasil. A atriz se encontrou com o deputado-federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que aparece em segundo lugar em várias pesquisas para a sucessão de Michel Temer (PMDB-SP) nas eleições do ano que vem. Na ocasião, ela afirmou que ouvir o congressista foi "uma agonia sem fim" e ter sido "duro encarar um político interessado em perpetuar um status quo - no que diz respeito à criminalização da homofobia - discriminatório e com consequências fatais para tanta gente".
""Gaycation" me fez perceber como tantas pessoas são tratadas de forma horrenda simplesmente por serem homoafetiva, mas mundo afora. Pois é importante lembrar que a homossexualidade era considerada ilegal na maior parte dos países até muito pouco tempo", diz a atriz canadense indicada ao Oscar há nove anos, por "Juno", que segue a reflexão ao pensar nos que defendem a "cura gay", tema especialmente pertinente no Brasil de hoje. "A homossexualidade era vista como um transtorno mental, um distúrbio psiquiátrico, que deveria mesmo ser tratada, não apenas em países distantes do Atlântico Norte, mas aqui nos EUA também, até os anos 1970. Por isso os retrocessos gerados por esta onda populista conservadora, são especialmente assustadores. É uma narrativa de uma crueldade imensa, que pode resultar na morte de pessoas".
Desde que assumiu publicamente ser gay, Page vem falando abertamente sobre o tema e produziu e atuou em filmes com personagens lésbicos, notadamente "Amor por Direito" (2015), com Julianne Moore, e "My Days of Mercy" (2017), em que faz par romântico com Kate Mara, e ainda sem título ou distribuição assegurados no Brasil. "É importante para mim dar espaço para vozes relacionadas ao universo queer. É ao mesmo tempo um privilégio e, de certa forma, me sinto representando parte da comunidade gay que, como eu, anteriormente, ainda não saiu do armário, pelos mais variados motivos. Espero que eles se vejam na tela através de meus trabalhos", afirma Page.
A atriz diz amar a vida calma com a companheira (a bailarina Emma Portner, também canadense, 21 anos) e seu cachorro e jura escolher seus papéis do mesmo jeito que antes de ter sua própria produtora e sua atenção mais voltada para a militância LGBTQ. “Leio o roteiro e estudo o personagem. A Courtney, por exemplo. Era alguém com quem eu poderia me divertir, enfrentar desafios e trabalhar determinadas emoções, tudo ao mesmo tempo, e é raro isso. Por isso topei o remake".
Embora não siga uma religião específica nem tenha uma filosofia para ajudá-la a imaginar o que pode ocorrer após a morte, o filme, dirigido pelo dinamarquês Niels Arden Oplev (do primeiro "Os Homens Que Não Amavam as Mulheres", de 2009), de fato assustou a atriz. "Viver alguém que morre, filosoficamente, é riquíssimo, claro, e tenho crises existenciais sobre o tema toda semana (risos). Mas não sou uma pessoa crente, não acredito em nada especificamente após a morte. Na hora das filmagens, busquei me preocupar mais com detalhes técnicos, em de fato parecer não estar viva em vez de ficar pensando sobre a morte naqueles momentos, do meu, do nosso medo de não saber o que vem depois", diz.
Curiosamente, ela conta, a única vez em que teve de lidar com ameaças de morte foi quando boatos nas revistas de fofoca davam conta de um possível - e inverídico - romance com o galã sueco Alexander Skasrgard, 41, e não quando ela decidiu transformar sua saída do armário em um ato político. No segundo caso, o ódio foi derrotado de goleado pelas mensagens de apoio. "O Alexander é um homem belíssimo e as fãs se incomodaram. Parece pueril, mas mas não é algo agradável de se lidar. Mas acho que me tornei, também, de lá para cá, uma pessoa mais corajosa. Lembro de pouco tempo antes de me assumir gay em pensar, comigo mesma, é impossível, jamais vou conseguir fazer isso. Pois conseguir superar algo assim, que você não encara por conta de uma noção de vergonha ou da quantidade de baboseiras que você escuta sobre o tema, definitivamente me fez sentir uma pessoa mais valente, e isso é ótimo".
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