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Homofobia, estupros e até suicídio: Ellen Page revela podridão de Hollywood

A atriz Ellen Page no Festival de Toronto - Jeremy Chan/Getty Images
A atriz Ellen Page no Festival de Toronto Imagem: Jeremy Chan/Getty Images

Do UOL, em São Paulo

10/11/2017 19h00

Em uma comovente e sincera carta aberta, Ellen Page revelou diversas situações graves e desagradáveis que passou durante seus 20 anos de carreira. A atriz e ativista de 30 anos, que começou na carreira aos 10, também fez questão de lembrar alguns casos vividos por suas colegas e dar nome aos abusadores.

"Eu quero ver esses homens enfrentarem o que eles fizeram. Eu não quero que eles tenham mais poder. Quero que eles parem e pensem quem são, sem seus advogados ao lado, sem seus milhões, seus carros incríveis, diversas mansões e status de fodões."

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Ellen Page diz ter noção de seu privilégio como atriz reconhecida e pretende fazer uso dele para ajudar aqueles não têm força suficiente para lutar contra os poderosos que seguem protegidos, mesmo com seus crimes já revelados.

Entre as maiores decepções de sua carreira, Ellen aponta Brett Ratner, diretor com quem ela trabalhou em "X-Men: O Confronto Final" (2006) e acusa de homofobia, e Woody Allen, que a dirigiu em "Para Roma, Com Amor" (2012). O cineasta é acusado há 25 anos pela sua ex-mulher, Mia Farrow, de ter abusado sexualmente da filha adotiva do casal, Dylan, quando a menina tinha 7 anos. Mais tarde Allen acabou se casando com Soon-Yi Previn, outra filha adotiva de Farrow, e está com ela até hoje.

Em sua carta, Ellen Page também fez questão de lembrar de Misty Upham, atriz encontrada morta em 2014. O caso foi tratado como suicídio. Page conta que o pai de Misty, Charles Upham revelou que sua filha foi estuprada "por um executivo da Miramax". Um dos últimos trabalhos de Misty foi no filme "Django Livre" (2012), dirigido por Quentin Tarantino e produzido por Harvey Weinstein, principal nome ligado ao escândalo de abusos em Hollywood, e ex-executivo da Miramax.

Veja a seguir alguns dos principais trechos da carta de Ellen Page:

Brett Ratner

O diretor Brett Ratner, acusado por seis mulheres de assédio sexual - Willy Sanjuan/Invision/AP - Willy Sanjuan/Invision/AP
Brett Ratner
Imagem: Willy Sanjuan/Invision/AP

Ellen diz que era uma jovem adulta de 18 anos que sabia que era gay, mas ainda não tinha se aberto nem para ela, quando o diretor Brett Ratner a discriminou nos bastidores de "X-Men: O Confronto Final", mais de uma vez. "Você deveria transar com ela para que ela se descubra gay" é a frase que dá início a carta de Page. Ela explica que o diretor falou isso para uma mulher 10 anos mais velha que ela durante uma convivência com a equipe do filme antes mesmo de as filmagens começarem."Me senti violada. Olhei para baixo e não disse uma palavra. Ninguém disse". A atriz revela que ficou desconfortável com as atitudes homofóbicas e machistas do diretor durante todo o período de filmagens. Ela ainda relata ter escutado ele falar sobre a vagina de uma das mulheres do set. "O comentário de Ratner se repetia na minha cabeça muitas vezes ao longo dos anos sempre que eu me deparava com homofobia e tinha de lidar com sentimentos de relutância e incerteza quanto à indústria e meu futuro nela."

Woddy Allen

11.mai.2016 - O diretor Woody Allen pensativo após ser alvo de piada sobre estupro durante a cerimônia de abertura da 69ª edição do Festival de Cannes, que exibiu seu mais recente filme, "Café Society" -  REUTERS/Yves Herman -  REUTERS/Yves Herman
Woody Allen
Imagem: REUTERS/Yves Herman

"Eu fiz um filme do Woody Allen e esse é o maior arrependimento da minha carreira. Eu tenho vergonha de ter feito isso. Eu ainda estava buscando minha voz e ela não era definitivamente da mesma forma que é hoje, me senti pressionada, afinal "é claro que você tem que dizer sim para um filme de Woody Allen". No entanto, os filmes que eu faço são exclusivamente minha escolha e eu fiz uma escolha errada. Cometi um erro terrível", admite a atriz sobre seu papel em "Para Roma, Com Amor", de 2012.

Propostas indecentes aos 16

"Quando eu tinha dezesseis um diretor me levou para jantar (uma obrigação profissional e muito comum). Ele acariciou minha perna por baixo da mesa e disse: 'Você tem que tomar a iniciativa, eu não posso.' Eu não tomei a iniciativa e tive a sorte de conseguir fugir dessa situação. Foi uma constatação dolorosa: minha segurança não estava garantida nem no trabalho. Uma figura de autoridade adulta para quem eu trabalhava tinha a intenção de me explorar fisicamente. Fui assediada meses depois com uma apalpada. Um diretor me pediu para dormir com um cara de vinte e poucos anos e depois contar para ele como foi. Eu não fui. Isso é exatamente o que aconteceu comigo quando eu tinha 16 anos e era uma adolescente na indústria do entretenimento."

Harvey Weinstein, Bill Cosby e Roman Polanski

"Bill Cosby era um predador. Os crimes eram dele, mas muitos eram cúmplices. Muitos outros escolheram apenas fingir que não viram. Harvey era um predador. Os crimes eram dele, mas muitos eram cúmplices. Muitos outros escolheram apenas fingir que não viram. Continuamos a celebrar o cineasta Roman Polanski, que foi condenado por drogar e violentar uma jovem e que fugiu após sua sentença. Um fugitivo da justiça."

Donald Trump e Clarence Thomas

"Não vamos esquecer do cara que está sentado na Suprema Corte e do presidente dos Estados Unidos. Um é acusado de assédio sexual por Anita Hill, cujo testemunho foi desacreditado. O outro descreve com orgulho sua técnica de assédio a uma repórter de entretenimento. Quantos homens na mídia - os titãs da indústria - precisam ser expostos para que se compreenda a gravidade da situação e se exija a segurança e o respeito fundamentais que é o nosso direito?", questiona Ellen Page lembrando do juiz Clarence Thomas e de Donald Trump.