"O Justiceiro" é grata surpresa em ano fraco da Marvel na Netflix
2017 não foi um ano particularmente feliz para as séries da Marvel na Netflix. “Punho de Ferro“ foi massacrada pela crítica e dividiu a opinião dos fãs, enquanto “Os Defensores” teve uma recepção morna e não provocou o entusiasmo esperado. Mas o estúdio e a plataforma de streaming podem ficar tranquilos neste fim de ano. “O Justiceiro”, que estreia nesta sexta-feira (17), corrige o rumo das coisas com uma produção que já se coloca como a mais madura da parceria.
A série começa do ponto em que a história de Frank Castle (Jon Berthal) parou após ser introduzida na segunda temporada de “Demolidor”: o Justiceiro ainda está atrás dos criminosos responsáveis pela morte de sua mulher e seus filhos. Após o contato de um ex-agente da NSA que se identifica como Micro (Ebon Moss-Bachrach), entretanto, ele descobre que forças ainda maiores estão envolvidas no caso – e elas se relacionam diretamente à sua temporada com o exército norte-americano no Afeganistão.
Castle retoma, então, sua jornada de vingança ao lado do improvável parceiro que, assim como ele, foi privado de sua família – a diferença é que a de Micro está viva, mas acredita que ele morreu. O resultado desse caminho é uma história ainda mais sombria e pesada do que as que já foram apresentadas pela Marvel na Netflix até o momento (e note que as empresas já haviam estabelecido um nível bem alto nesse quesito com “Demolidor” e “Jessica Jones”).
Assim como seus antecessores trataram de culpa católica e a violência psicológica, “O Justiceiro” não foge de assuntos espinhosos. Além do dilema ético por trás das ações de Castle, já explorados, a série criada por Steve Lightfoot (“Hanniball” e “Narcos”) aborda as operações militares questionáveis realizadas pelo exército norte-americano, o transtorno de estresse pós-traumático sofrido por muitos combatentes e a questão do acesso às armas – ainda fresca no noticiário após o ataque em Las Vegas que deixou mais de 50 mortos.
Talvez pelo fato de Castle não ter as mesmas habilidades especiais de seus colegas superpoderosos, o drama é não só mais realista, como também mais intenso – e o mesmo vale para a violência, mais explícita. As empolgantes cenas de ação não economizam na brutalidade e nem no sangue, que não é atenuado como em tantas outras produções hollywoodianas.
Jon Berthal, que já havia se destacado com sua participação em “Demolidor”, mais uma vez se sai bem como o anti-herói atormentado pelo luto, alternando momentos de dureza e vulnerabilidade. Mas algumas de suas melhores cenas vêm da dupla com Ebon Moss-Bachrach, que abre espaço para alguns dos poucos momentos de descontração da série. Ben Barnes, que vive o babaca Logan em “Westworld”, também ganha um bom tempo em cena como o ambíguo Billy Russo, que nos quadrinhos é o vilão Retalho (Jigsaw, em inglês). Completam o elenco principal Amber Rose Revah, como a investigadora Dinah Madani, e Paul Schulze, como o misterioso vilão da série -- que, infelizmente, não chega ao patamar de Kilgrave ou Wilson Fisk.
O maior acerto da série é certamente a independência dela em relação às suas “primas”. O universo ainda é o mesmo, o que se nota pelos easter-eggs deixados aqui e ali e pela presença de personagens como Karen Page (Deborah Ann Woll), mas a história segue seu curso próprio sem a necessidade de servir a um arco maior – o que foi um dos problemas de “Punho de Ferro”, encarregada de preparar o terreno para “Os Defensores”.
Isso não impede que ela tenha um problema em comum com as outras: o número de episódios. São treze, o que torna algumas sequências arrastadas e prejudica o ritmo da trama, principalmente em sua primeira metade. Esse detalhe a ser corrigido, porém, não tira o brilho da série, que mostra outro caminho a ser seguido pelas produções da Marvel na Netflix.
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