Como bom millennial, Kylo Ren é um vilão que ainda tenta se encontrar
Eram tempos mais simples quando Darth Vader, o grande vilão da saga “Star Wars”, caminhava pela Estrela da Morte com suas botas pesadas e máscara assustadora. Tanto numa galáxia muito distante quanto bem aqui na Terra, era União Soviética versus Estados Unidos, comunismo contra capitalismo, Império contra Aliança Rebelde, luz versus sombra --e os tons de cinza no meio do caminho ainda não estavam na moda.
Assim como para os nossos pais e avôs a vida parecia ter menos opções e ser menos confusa em 1977 (estudar, casar, trabalhar, ter filhos, ter netos, se aposentar), para aquele que um dia fora chamado de Anakin Skywalker, o destino de grande vilão também não lhe colocava grandes dilemas além de que planeta explodir primeiro (OK, na adolescência ele teve suas dúvidas, mas só o normal da idade, e no fim da vida ele teve seu grande dilema, mas foi só para poder se redimir).
Talvez seja por saudosismo desses tempos mais simples que o neto de Vader, Kylon Ren (também conhecido como Ben Solo), introduzido na retomada da saga em 2015 com “O Despertar da Força”, guarda a máscara do avô como relíquia.
Mas a verdade é que, como um bom millenial, ele ainda não tem muita certeza do que realmente quer fazer da vida --nada muito diferente de qualquer jovem da vida real (30 e poucos ainda é jovem, certo?), que sem um império (ou empresa, ou casa própria, ou qualquer bem de valor) para chamar de seu, ainda questiona se seguiu o melhor caminho e muitas vezes tem vontade de largar tudo e mudar de vida. Ou, seguindo outra tendência dessa geração, talvez ele apenas ainda não tenha amadurecido.
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“Eu acho que faz parte do que está acontecendo com o personagem”, afirma Adam Driver, 34, o rosto por trás da máscara de Ren, em entrevista ao UOL. “Com Darth Vader você encontra uma pessoa que já é mais velha, que, ao menos no começo, é muito decidido, e tem mais bagagem que o meu personagem. Acho que eles partem de pontos totalmente diferentes, então, inevitavelmente, a maneira como respondem às coisas será totalmente diferente”.
E com certeza são. Se Vader ficou marcado pela frieza (além da voz rouca de James Earl Jones, claro) e não hesitava em matar um subordinado que fracassasse em uma missão sem dizer muita coisa, Ren é mais afeito a ataques de raiva em que destrói tudo a sua volta com seu sabre de luz vermelho, mas em geral poupa a vida dos mensageiros de más notícias.
É claro que as questões de Ren (que ele certamente estaria tratando com a boa e velha psicanálise se fosse um millenial na Terra, e não em algum sistema intergaláctico que não conseguimos pronunciar o nome) não se resumem apenas a ataques de raiva. Pelo que Driver indica, ele pode estar passando pela tal crise dos 25 (aquele período em que as pessoas entre 20 e 30 anos questionam todas sua vida e querem “se encontrar”).
“É alguém tridimensional. É mais divertido para mim interpretar alguém que está meio que passando por uma crise de fé. Eu posso me identificar com isso”, conta.
A explicação que o ator tem para o comportamento do filho de Han Solo e Leia Organa também não passa longe do que está nas cabeças dos jovens-adultos da nossa geração. “Nada é tão simples quanto apenas você decidir ser ator vários anos atrás e tudo na sua vida está resolvido porque você tomou esta decisão”, acredita.
“Você envelhece, tem outras experiências, e as coisas que acontecem desafiam sua decisão. E você tem que reavaliar suas escolhas. E às vezes isso faz você redobrar seus esforços, e reforça por que você queria fazer isso, para começo de conversa. E às vezes abala o que você achava acreditar. Acho que é onde esse personagem está”, argumenta Driver, dando pistas de que a ideia de jogar tudo para o alto e abandonar o lado sombrio da Força ainda está viva na cabeça de Ren em “Os Últimos Jedi”, oitavo episódio da saga “Star Wars”, que estreia nesta quinta (14).
* A jornalista viajou a convite da Walt Disney Company
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