Como "Os Embalos de Sábado à Noite" salvou o Bee Gees há 40 anos
O que você vai fazer neste sábado (16) à noite? Há exatos 40 anos, a história de Tony Manero estreava nos cinemas norte-americanos para definir uma geração e apresentar um dos maiores hits musicais de todos os tempos.
Dirigido por John Badham, "Os Embalos de Sábado à Noite" popularizou a disco music, jogou para o estrelato um jovem galã da televisão, transformou em clássico a trilha sonora arquitetada pelos Bee Gees e ainda expôs a violenta cultura de Nova York nos anos 70.
O filme teve um orçamento de US$ 3,5 milhões, mas arrecadou, apenas nas bilheterias, mais de US$ 237 milhões. Conheça um pouco da história de "Os Embalos de Sábado à Noite", seu legado e algumas curiosidades sobre o aniversariante.
O rei da pista
Tony Manero é o cara! Bom, pelo menos nas pistas de dança. O filho de imigrantes italianos que ama Al Pacino só se diverte quando o final de semana chega -- o único momento em que não precisa dar as caras no trabalho maçante. A cena inicial dele passeando pelo bairro ao som do hit máximo de casamentos, formaturas e festas diversas "Stayin' Alive", dos Bee Gees, é a descrição do "cool", aquele cara descolado que você conhece e gostaria de copiar.
Sapatos vermelhos, combinando com a camisa, calça preta boca de sino, jaqueta de couro e uma correntinha de ouro no pescoço. A ginga, revelou Travolta para a "Vanity Fair" anos depois, foi baseada no que ele observava quando ainda estava na escola, onde os "negros andavam daquele jeito nos corredores".
O protagonista tinha seu grupo de amigos, que se reunia todo sábado na "2001 Odissey", a balada mais quente da cidade. O melhor caminho para lá era passando pela ponte Verrazano–Narrows, um dos pontos importantes do filme, considerada um símbolo para crescer na vida, um caminho para sair do lado marginalizado, onde eles moravam, e chegar na centrifuga cultural da "Big Apple".
Era mais um sábado à noite quando Tony prende os olhos na novata Stephanie, cuja habilidade na dança é muito maior do que a da sua atual pretendente, Annette. A dupla entra em um concurso de dança e, claro, são os primeiros colocados.
Muito além do que apenas disco music
Analisando mais profundamente, "Os Embalos de Sábado à Noite" não é apenas um filme de danças com hits da disco music. A cultura underground de Nova York é retratada com primor na produção, uma crítica à vida vazia e violenta dos jovens que não conseguiam ascender profissionalmente e viviam à margem da sociedade.
No meio disso tudo, entre coreografias icônicas e cenas da vida noturna, o filme aborda a violência contra as mulheres, o ambiente machista da sociedade norte-americana e o racismo. Depois de Tony acreditar que só levou o prêmio porque os jurados foram racistas com um casal hispânico, ele tenta se aproveitar de Stephanie, que sai correndo assustada. Por outro lado, seus amigos, logo na sequência, estupram a sua antiga namorada no banco de trás do carro -- e ele não faz absolutamente nada.
"John Badham e eu tivemos um desentendimento sobre essa cena", lembrou a atriz Donna Pescow para a "Vanity Fair". "Eu disse, 'Ela é virgem'. Ele disse, 'Não, não é'. Por isso que eu nunca interpretei como se ela realmente tivesse sido estuprada. Ela não foi, ela estava longe em seu próprio mundo, oferecendo a virgindade por Tony Manero".
A cena foi uma das mais difíceis de gravar, principalmente para o ator Paul Pape, que fez Double J. no filme: "O que Donna fez foi um trabalho incrível. A gente estava preocupado em como afetaria nossa amizade, acabamos conversando muito antes de fazer a cena. Tínhamos que essa situação coreografada onde você violenta sua amiga sem se preocupar com com os sentimentos dela".
Salvando uma banda do fundo do poço
"Os Bee Gees não estavam envolvidos no início da produção", lembra John Travolta. "Eu dançava para Steve Wonder e Boz Scaggs". Mas, então, tudo mudou. "Embalos de Sábado à Noite" salvou, literalmente, o trio de irmãos do fracasso.
Barry, Robin e Maurice tinham feito muito sucesso nos anos 60, mas em meados da década de seguinte eram considerados um grupo datado, coisa de tiozão. Em 1975, o grupo lançou o single "Jive Talkin'", que o colocou de volta às rádios, mesmo com muita gente estranhando a mudança sonora do trio, especialmente o falsete poderoso de Barry.
Assim que souberam dos planos da Paramount para fazer o filme, um produtor foi atrás da banda e recebeu cinco músicas, as primeiras que estão registradas na trilha sonora do filme. "Eu não sou fã de disco music, mas essas canções transcenderam o gênero", define Tom Priestley, então operador de câmera e que ficou responsável pela parte musical do filme.
Para resumo de história, o álbum vendeu apenas nos EUA 16 milhões de cópias, permanecendo dois anos na lista das músicas mais ouvidas. É a trilha sonora mais popular da história, além de ganhar um Emmy como o álbum do ano e ser considerado o 132º melhor disco de todos os tempos pela "Rolling Stone".
Curiosidades
. O filme foi baseado no artigo "Tribal Rites of the New Saturday Night", escrito por Nik Cohn na "New York". Um relato impressionante da subcultura disco em Nova York, em que o jornalista britânico acompanhou um grupo de amigos de Bay Ridge, no Brooklyn, que arrasavam nas pistas de dança para extravasar mais uma semana de trabalho puxado. O herói do grupo era Vincent, um cara violento e durão que era o melhor dançarino da cidade. Acontece que tudo isso foi inventado, como o próprio autor revelou 20 anos depois na mesma revista "New York".
. A distribuidora Paramount não foi muito com a cara de Tony Manero, ainda mais na cena inicial em que ele aparece de cueca se preparando para a balada de sábado. A imagem sensual e vibrante de Travolta colocou um aspecto "homossexual", consideraram o alto escalão da produtora, por isso um close no pôster da atriz e modelo Farrah Fawcett foi inserido para dar outro aspecto para a cena.
. As gravações aconteceram em um bairro não muito amigável no Brooklyn. Primeiro jogaram uma bomba pequeno na boate como aviso, em seguida dois rapazes chegaram com cara de poucos amigos explicando que eles só poderiam continuar filmando caso "Black Stan" -- o mafioso mais respeitado da região -- recebesse US$ 7 mil para garantir a segurança da equipe. Por via das dúvidas, a equipe pagou e as filmagens continuaram sem maiores problemas.
. As produção do filme foram interrompidas para John Travolta ir ao funeral da namorada, a atriz Diana Hyland, que morreu de câncer de mama.
. O protagonista não gostou nada de como sua dança solo foi cortada pelos editores do filme. O ator ficou revoltado que teve que aprender uma sequência de coreografia tão complexa e que foi editada sem dar ênfase ao seu rosto. A produção concordou com as alegações do astro, que pessoalmente ajudou a editar a cena.
. O chefão da Paramount, Michael Eisner, considerou o filme muito vulgar, sendo quem em algumas exibições de teste algumas pessoas saíram no meio da sessão por causa da linguagem e das cenas de sexo. O assistente do produtor musical Robert Stigwood entrou em confronto com Eisner para negociar as palavras de baixo calão. Resumo da ópera: dois "porras" foram retirados enquanto a palavra "boquete" foi usada pela primeira vez em um filme.
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