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Antecipamos: "Black Mirror" volta mais otimista e variada em nova temporada

Cena do episódio "USS Callister", da quarta temporada de "Black Mirror" - Reprodução/YouTube/Netflix
Cena do episódio "USS Callister", da quarta temporada de "Black Mirror"
Imagem: Reprodução/YouTube/Netflix

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

21/12/2017 04h00

Nos idos de 2011, "Black Mirror" estreou sem grande alarde na TV britânica para, aos poucos, se tornar cultuada na internet com suas histórias sombrias e angustiantes sobre a relação humana com a tecnologia. Um empurrãozinho da Netflix, que a adicionou a seus catálogos, a tornou mais popular do que nunca. A série foi tão bem-sucedida no serviço de streaming que ele adquiriu os direitos da produção. E a quarta temporada, que estreia no próximo dia 29, é o fruto mais maduro dessa parceria.

Assim como a terceira temporada, quando entrou sob a chancela da Netflix, o novo "Black Mirror" tem seis episódios com histórias próprias, o dobro da temporada de estreia. O número funciona para o bem e para o mal: é difícil manter a mesma qualidade em todos os capítulos e, invariavelmente, algum será mais esquecível. Ao mesmo tempo, a quantidade permite que eles sejam mais distintos entre si, transitando por gêneros diversos. Mas em ambos quesitos, a mais recente leva da série se sai melhor do que a anterior.

Os novos episódios, ainda que não estejam todos no mesmo patamar, são consistentes entre si e conseguem formar uma temporada sólida e de bom nível, transitando por gêneros que vão do terror à sátira e ao romance, na mão de diretores habilidosos como Jodie Foster, Toby Haynes ("Sherlock") e David Slade ("American Gods"). Todos são assinados pelo criador da série, Charlie Brooker.

Cena de "Hang the DJ", de "Black Mirror" - Divulgação - Divulgação
"Hang the DJ" é o novo "San Junipero"
Imagem: Divulgação

O que esperar dos episódios

Comandado por Foster, "Arkangel" é um bom drama familiar que explora a relação entre uma filha e uma mãe, que recorre à tecnologia como forma de aplacar as paranoias que afetam muitos pais. Poderia facilmente estar na tela dos cinemas. "Crocodile", um thriller tenso e perturbador estrelado pela ótima Andrea Riseborough ("Birdman"), se passa em um futuro no qual investigadores de seguros usam máquinas para ver a memória que as pessoas guardam de acidentes. As consequências, claro, não são simples.

"Metalhead", filmado em preto e branco, é um curta de terror no qual uma mulher é perseguida por uma criatura misteriosa na Escócia, em um mundo pós-apocalíptico. O mais fraco é "Black Museum", que se passa em um museu dedicado a crimes cometidos com artefatos tecnológicos e comprime, de forma arrastada, três histórias com toque de humor satírico, recheado de fan service. 

A temporada ganhou até um "San Junipero" para chamar de seu: o romântico "Hang the DJ", que brinca com o uso de aplicativos de namoro ao colocar os dois carismáticos protagonistas, vividos por Georgina Campbell e Joe Cole, tendo suas vidas amorosas ditadas por um sistema, que diz até quanto tempo eles devem ficar com cada pretendente. Assim como seu antecessor, que ganhou o Emmy, ele representa um raro fio de esperança na série. 

O maior destaque é o ótimo "USS Callister", que faz uma referência explícita à fase clássica de "Star Trek". Não é possível revelar muito da trama sem estragar as surpresas, mas acredite: é muito mais do que uma paródia da série. E acena a uma importante discussão sobre machismo e masculinidade no ambiente de trabalho. "Callister" ainda conta com as boas atuações de Jesse Plemons, Cristin Milioti e Jimmi Simpson, além de uma das mais belas fotografias da série.

Em comum, as novas histórias carregam o principal ponto da série: o problema não é a tecnologia em si, mas o uso que as pessoas fazem dela, individualmente ou dentro de suas relações. No geral, no entanto, o tom da temporada é mais otimista e com mais espaço para o humor e a descontração, ainda que haja cenas extremamente perturbadoras.

Para os fãs obcecados pela série, certos momentos soarão como déjà vu --"The Entire Story of You" e "White Christmas" são referenciados mais de uma vez. Isso não é necessariamente um problema, já que cada uma das tramas tem suas próprias reviravoltas e as pequenas coincidências ajudam a estabelecer um universo reconhecível. Mas, se a série tiver vida mais longa, como é bem possível, é um detalhe que terá que ser tratado com cuidado.