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Após falar sobre o inconsciente às crianças, Pixar aborda a morte em "Viva"

Miguel e o cachorro Dante são as estrelas de "Viva - A Vida É Uma Festa" - Reprodução
Miguel e o cachorro Dante são as estrelas de "Viva - A Vida É Uma Festa" Imagem: Reprodução

Rodolfo Vicentini

Do UOL, em São Paulo

04/01/2018 04h00

Prepare o lenço de papel, pois ele será usando em “Viva – A Vida É Uma Festa”. A nova produção da Pixar foi orquestrada pela mesma equipe que bolou “Toy Story”, “Procurando Nemo” e “Up – Altas Aventuras”, e acerta ao dialogar sobre a morte para um público pequeno e inocente. O passo recente da empresa de animação é muito mais complexo do que o arriscado “Divertida Mente”, que explorou as emoções humanas e o subconsciente para as crianças lá em 2015.

O filme caminha da mesma forma que você já está cansado de ver em qualquer animação da Pixar -- não que isso seja um ponto negativo. Tem a história fofinha, uma situação desesperadora, uma pequena tensão entre os “mocinhos” enquanto o vilão arquiteta seu plano e, por fim, tudo fica bem. Mas, mesmo sendo igual, por que ainda nos sentimos cativados por tudo isso?

A primeira parte desta resposta vem dos personagens. Miguel é um garoto cuja família se prepara para mais uma celebração do “Dia dos Mortos” no México, um Patrimônio Imaterial da Humanidade declarado pela UNESCO, em que a memória dos entes queridos que já se foram é lembrada.

Como é de praxe, fotos de quem as pessoas se lembram com carinho são expostas, um grande banquete é montado e a crença é de que os mortos fazem a transição entre os dois mundos durante a festança. Mas voltando a falar sobre o Miguel. O garoto é viciado em música, o que não é nada bom para uma família conhecida tradicionalmente pelo talento em fazer sapatos. Mas claro que o menino não vai desistir tão fácil e sonha em ser Ernesto de La Cruz, uma espécie de Elvis Presley ou até um Roberto Carlos mexicano.

Tentado por ser músico e abandonar as raízes familiares, o garoto rouba o violão do falecido músico e então é sugado para o mundo dos mortos, já que fez exatamente o oposto do que a tradição pede. E a única forma de volta para a família é conseguindo a bênção daqueles que já morreram.

O cachorro Dante de "Viva - A Vida É Uma Festa" - Reprodução - Reprodução
O cachorro Dante de "Viva - A Vida É Uma Festa"
Imagem: Reprodução

Seu braço direito nesta história é Dante, um cachorro atrapalhado que fica com a língua pendendo para fora da boca a todo momento. O animal é responsável pelas grandes risadas da produção e, novamente, é mais uma invenção certeira da Pixar, principalmente visando o marketing do filme – quem não gostaria de ter uma pelúcia do cãozinho, por exemplo?

Agora já “no Além”, Miguel passa por cenários embasbacantes feitos sob medida para representar a riqueza da cultura mexicana, além de animações de caveiras, mortos e decrépitos muito fofas. E nesse meio tempo, algumas figuras importantes do país que já foi considerado o “quintal dos Estados Unidos” dão suas caras -- não daremos spoilers, fique tranquilo!

A trama parece simplória explicando por cima, mas é o atrativo maior de “Viva – A Vida É Uma Festa”, que sabe pegar no ponto fraco do público: a família. Se em “Toy Story” a gente se apaixonou pelos brinquedos, em “Procurando Nemo” nos aterrorizamos com um desaparecimento e em “UP – Altas Aventuras” choramos com a história dos velhinhos mais fofos do cinema, em “Viva – A Vida É Uma Festa” é o lado familiar que fala mais alto para cativar o público.

E tudo é pensado com o maior carinho pelos diretores Adrian Molina e Lee Unkrich, também roteirista do filme. Muito se falou que não se passa de uma cópia de “Festa no Céu”, produzida por Guillermo del Toro em 2013, e realmente alguns detalhes são muito parecidos, mas “Viva” vai por outro lado para atingir um tema que é tão complexo e praticamente um tabu para os pequenos.

Se a Pixar revolucionou ao mostrar a psique humana em “Divertida Mente”, nada mais justo do que versar sobre a morte em uma realidade feita nos moldes de um conto de fadas para as crianças.