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"Black Mirror": "Metalhead" é um eficiente conto de terror pós-apocalíptico

Bella (Maxine Peake) foge de um robô em "Metalhead", episódio da quarta temporada de "Black Mirror" - Jonathan Prime/Netflix
Bella (Maxine Peake) foge de um robô em "Metalhead", episódio da quarta temporada de "Black Mirror" Imagem: Jonathan Prime/Netflix

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

06/01/2018 04h00

De todos os episódios da quarta temporada de “Black Mirror”, “Metalhead” é o mais curto – e o mais diferente. Filmado inteiramente em preto e branco, ele é um eficiente conto de terror que acompanha a caçada implacável de um cão robô a uma mulher no interior da Escócia.

A partir desse ponto, há spoilers no texto. Não leia se não quiser saber o que acontece.

Quando “Metalhead” começa, Bella (Maxine Peake) está em um carro com dois amigos, Anthony (Clint Dyer) e Clarke (Jake Davies). O trio está em uma missão para encontrar algo e levar para alguém que tem poucos dias de vida. O caminho que eles percorrem é um cenário pós-apocalíptico: carros abandonados, estradas vazias e a significativa ausência dos porcos que ficavam à margem delas. “Os cães acabaram com eles”, diz um dos personagens.

Não demora muito para a verdadeira natureza dos cães ser revelada. Quando os três chegam ao armazém para buscar o que pretendiam, eles acordam a criatura, que na verdade é um robô com instintos assassinos. Bella se torna a única sobrevivente do ataque, e daí em diante se segue um jogo de gato rato entre ela e a máquina, que transcorre quase inteiramente em silêncio.

Com um radar que consegue detectar humanos, o robô segue incansável atrás de Bella, com um criativo arsenal que envolve tiros, objetos cortantes e um rastreador – praticamente uma versão tecnológica dos demo-cães de “Stranger Things”. Mas ele também tem suas fraquezas, como a incapacidade de escalar coisas, o que acaba dando uma ajudinha à protagonista.

Apesar de não haver diálogos e nem uma história que sirva de pano de fundo, “Metalhead” não é cansativo. Primeiro, por sua duração: os 40 minutos do episódio são uma duração perfeita para a trama, que não se estende em momentos desnecessários e reviravoltas sem função. Ele poderia, inclusive, servir de exemplo para outros capítulos de “Black Mirror”, que se beneficiariam de uma duração mais enxuta.

A direção de David Slade, que criou algumas das melhores imagens da TV em 2017 com “American Gods”, também merece crédito pelo feito. As cenas fotografadas em preto e branco nas locações completamente vazias são impressionantes, e ressaltam o terror que cerca Bella sem a necessidade de apelar a toda hora para momentos sangrentos.

“Metalhead” gera uma série de questões intrigantes: o que aconteceu com os humanos? Há alguém controlando as máquinas ou elas se rebelaram? Onde estão as outras pessoas? Ao optar apenas pela simplicidade de uma trama de sobrevivência, porém, a história se mostra muito eficiente ao criar um clima de tensão constante.

Em um golpe final, é revelado o que os protagonistas foram buscar: uma caixa de ursinhos de pelúcia, uma alegoria do que sobrou de humanidade em meio a um futuro sombrio dominado pela frieza das máquinas.