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O que "Pantera Negra" tem a ver com o Brasil? Mais do que você imagina

Chadwick Boseman (esq.) e Michael B. Jordan em cena de "Pantera Negra" - Marvel Studios 2018
Chadwick Boseman (esq.) e Michael B. Jordan em cena de "Pantera Negra"
Imagem: Marvel Studios 2018

Natalia Engler

Do UOL, em Los Angeles*

31/01/2018 04h00

Antes que você comece a imaginar coisas, melhor já esclarecermos: não, “Pantera Negra” não se passa no Brasil, não tem nenhum personagem brasileiro nem estrela que fala português ou coisa parecida. Mas o filme de super-herói da Marvel tem sim uma relação com o país, e ela tem a ver principalmente com cinema e artes marciais.

Na verdade, a relação começou lá em 2016, quando as Cataratas do Iguaçu foram usadas para representar Wakanda, o fictício país africano do Pantera Negra, em uma cena pós-crédito de "Capitão América: Guerra Civil", quando Bucky Barnes (Sebastian Stan) é levado para lá para ser curado da lavagem cerebral que o transformou no Soldado Invernal. Mas tem mais.

Capoeira

A estrela do filme, Chadwick Boseman, bebeu em uma fonte brasileira para criar o estilo de luta de T’Challa, mesmo que indiretamente.

“Focamos no máximo de estilos de luta que pudemos, porque eu senti que o Pantera precisava ter um grau de versatilidade. Ele precisava poder lutar de perto e de longe, de pé e sentado, voando e se agarrando. E precisava ter uma influência africana. Então, focamos em dambe (boxe tradicional da Nigéria), luta de bastões zulu, luta livre senegalesa, capoeira de Angola e regional [baiana]”, explicou Boseman sobre seu treinamento de artes marciais, durante conversa com jornalistas.

Cena de "Pantera Negra" - Reprodução - Reprodução
Cena de "Pantera Negra"
Imagem: Reprodução

E por que o Pantera precisava saber golpes de capoeira? “Ele é um estrategista”, contou o ator ao UOL. “Ele faz certas coisas porque tem a habilidade física para isso, mas também porque pensa na estratégia, então ele precisa poder lutar de maneiras diferentes, a distâncias diferentes, níveis diferentes. Falando especificamente sobre capoeira, ela tem um elemento trapaceiro, de artimanhas, e de ritual, que eu acho que faz parte do estilo de luta dele”.

Você vai ter que esperar até o dia 15 de fevereiro para conferir, e, se estiver bem atento, vai conseguir identificar alguns golpes de capoeira no meio das cenas de ação.

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Fã de cinema brasileiro

Mas a relação do Pantera Negra com o Brasil não acaba por aí. Como o diretor Ryan Coogler já havia revelado durante sua participação na Comic Con Experience em dezembro, ele é fã de “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles e Kátia Lund, uma das produções nacionais mais conhecidas mundo a fora. Durante conversa com a imprensa internacional, Coogler explicou melhor sua relação com o filme.

“Muitos dos meus filmes preferidos são feitos a partir de uma perspectiva da qual o cineasta faz parte. Acho que muito do bom cinema internacional, filmes como 'Cidade de Deus', que eu amo, trazem uma perspectiva muito interna a um lugar, surgem a partir do amor por um lugar ou grupo de pessoas, em vez de ser alguém de fora olhando para aquilo. Fiquei animado de eles [Marvel] estarem procurando cineastas afrodescendentes para o filme ['Pantera Negra']. Acho que era a melhor coisa a se fazer”, contou o diretor, ao comentar sua reação ao convite da Marvel.

Cidade de Deus (2002) - Divulgação - Divulgação
"Cidade de Deus" (2002) é um dos filmes preferidos do diretor Ryan Coogler
Imagem: Divulgação

Para ele, que é de Oakland, próximo a São Francisco, na Califórnia, e nunca havia saído do país até o segundo ano da faculdade de cinema (quando seu primeiro filme "Fruitvale Station: A Última Parada" foi selecionado para o Festival de Cannes, na França), filmes como “Cidade de Deus” eram sua maneira de viajar.

“Através dos filmes, eu sentia que estava viajando para o Brasil, para o Reino Unido, para a França”, diz. “A coisa mais incrível de ‘Cidade de Deus’ é que parecia o meu bairro. Eu ouvi histórias como aquelas, conheci pessoas parecidas com o Zé Pequeno. Aquilo me fez pensar: 'Uau, o Brasil é igual a aqui'. Isso é incrível, as pessoas falam outra língua, mas parecia Oakland. Se eu posso assistir a um filme que é 100% em português e acompanhá-lo, vibrar com ele, sentir que estou lá e me reconhecer naqueles personagens, isso te dá um clique e você percebe que existe uma ligação universal”.

Ao entender que essa identificação é possível mesmo com filmes que foram feitos muito longe, Coogler aprendeu uma lição que está levando para "Pantera Negra": “[Essa identificação] é o que nós fazemos todos os dias quando assistimos a filmes sobre brancos, quando assistimos a 'Game of Thrones', O Senhor dos Anéis', 'Homem-Aranha', todos os 'Batman'... E não tem como argumentar que não funciona na direção contrária também. Acho que pode funcionar [para o público branco de ‘Pantera Negra’] do mesmo jeito que funcionou para mim quando estava vendo todos aqueles filmes”, acredita.

"Pantera Negra" se passa logo depois dos eventos de “Capitão América: Guerra Civil”, após a morte do rei de Wakanda, um país africano que esconde do mundo o fato de ser altamente desenvolvido. Ao voltar para sua terra, o herdeiro do trono tem que se mostrar um líder à altura de seu pai, ao mesmo tempo em que precisa enfrentar o traficante de armas Ulysses Klaue (Andy Serkis), que ameaça expor os segredos da nação africana para o mundo, auxiliado pelo misterioso Erik Killmonger (Michael B. Jordan).

O elenco conta ainda com Lupita Nyong’o, Danai Gurira, Angela Basset, Forrest Whitaker, Daniel Kaluuya, Martin Freeman e Letitia Wright.

Veja o trailer de "Pantera Negra"

UOL Entretenimento

* A jornalista viajou a convite da Walt Disney Pictures