"Os Homens que Não Amavam as Mulheres" mostra suspense instigante com reviravoltas
SÃO PAULO (Reuters) - Editorialmente falando, a Trilogia Milênio, do sueco Stieg Larsson (1954-2004) representa para os adultos o que as séries "Crepúsculo" e "Harry Potter" estão para o público infanto-juvenil, ou seja, um fenômeno de vendas - embora nem tanto quanto os livros para os jovens. Era inevitável que mais cedo ou mais tarde, os romances de suspense chegariam às telas - em dose dupla. Na Suécia, os três livros já foram adaptados para o cinema e renderam uma série de televisão.
O inevitável remake norte-americano já está a caminho e, possivelmente será dirigido por David Fincher ("O curioso caso de Benjamin Button", "Clube da Luta") - mas, apesar da afinidade que o diretor possa ter por personagens bizarros e situações idem e pelo lado obscuro do ser humano, é bem provável que a nova adaptação deixará de lado a perversão sexual da trama, o que é uma pena, pois ambos têm um papel central na história da primeira parte da trilogia, "Os Homens que Não Amavam as Mulheres", que chega aos cinemas brasileiros na sexta-feira.
Dirigido pelo dinamarquês Niels Arden Oplev, "Os Homens que Não Amavam as Mulheres" é suspense com uma carga dramática calculada, e reviravoltas plausíveis e instigantes. Mas o que há de melhor no filme - melhor até do que o filme em si - é a sua heroína, uma hacker tatuada e coberta de piercings que, dados os seus conhecimentos de informática, poderia ter feito um download do próprio longa antes mesmo que esse chegasse aos cinemas.
TRAILER DO FILME ''OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES''
Ela é Lisbeth Salander (Noomi Rapace), órfã de passado nebuloso, mais ou menos explicado em flashbacks, que trabalha incógnita numa empresa de investigação. Quando perguntam o que ela faz, responde: 'tiro cópias e faço café'. Que acreditem os ingênuos. Noomi agarra esse personagem com tanta intensidade que fica difícil imaginar a sua carreira antes e/ou depois de "Os homens que não amavam as mulheres".
A princípio, ela parece ter sido contratada para investigar a vida do editor de uma respeitada revista econômica que acaba de ser condenado por uma reportagem que publicou. Ele é Mikael Blomkvist (Michael Nyqvist), que pede demissão antes de cumprir sua pena de seis meses.
Antes de ir para a cadeia, no entanto, ele é contratado por um milionário para investigar o assassinato de sua sobrinha, há quatro décadas. O corpo nunca foi achado e o patriarca, Henrik Vanger (Sven-Bertil Taube), desconfia que o assassino seja um membro de sua família. Um clã, aliás, que não faria feio em qualquer folhetim televisivo, pois é um catálogo das perversões humanas, incluindo ganância, disputa de poder e alguns membros com passado nazista.
Antigamente, os investigadores contavam com recursos limitados para os seus trabalhos, como muitas entrevistas, e arquivos de jornal. Atualmente, uma ferramenta bastante útil entra em cena: a internet. E é aí que Lisbeth começa a ajudar Mikael. Inicialmente, sob seu pseudônimo profissional, mas depois acaba contratada formalmente pelo jornalista.
Investigação de assassinatos, listagem de possíveis suspeitos e reviravoltas não são nenhuma novidade no universo da ficção. Desde muito antes de Agatha Christie esse tipo de narrativa já existia. E o diretor não está nem um pouco interessado em reinventar o gênero, mas trabalhar com as ferramentas que possui. E isso ele faz muito bem.
"Os Homens Que Não Amavam as Mulheres" poderia ser mais curto - 152 minutos é um pouco demais para o gênero, mas ainda assim o filme mantém o ritmo e a tensão e se destaca da leva de suspense dos últimos tempos, em que sustos e correrias parecem ser a regra.
Em certos momentos, o longa é um estudo de personagem, é a luta de Lisbeth pela sua sobrevivência em um mundo hostil e dominado por homens. As suas tatuagens, piercings e o visual sempre escuro e carregado na maquiagem parecem ser uma proteção cobrindo uma garota frágil em busca de uma figura paterna que Mikael pode representar muito bem. Enfim, é um filme que vale a pena ser visto, antes que Hollywood o estrague.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
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