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Jim Carrey é gay trambiqueiro em "O golpista do ano"

03/06/2010 13h10

SÃO PAULO (Reuters) - "O golpista do ano", que estreia em circuito nacional, não é uma típica comédia ao estilo de Jim Carrey, como as que o tornaram famoso ("O mentiroso", "O Máscara" ou "Débi e Lóide"). O longa também não se encaixa na categoria de drama, gênero em que o ator também tem uma carreira bastante relevante como "O Mundo de Andy" e "Brilho eterno de uma mente sem lembranças".

O novo filme, um tanto ousado para os padrões americanos, é uma combinação de comédia de humor negro com policial - mas o que realmente pode assustar o público de Carrey é que seu personagem é notoriamente gay e vive um romance com o personagem de Rodrigo Santoro ("Cinturão Vermelho") e depois com o de Ewan McGregor ("O escritor fantasma").

Quando o filme começa, o personagem de Carrey, Steven, está em seu leito de morte. Boa parte do filme transcorre como um longo flashback. Primeiro, ele conta como foi um policial que abandonou a mulher e a filha, assumiu sua homossexualidade (até então vivia "dentro do armário"), e caiu no mundo com namorado (Santoro) a tiracolo. Um acidente de carro que quase o mata faz o protagonista repensar sua vida.

Mas ele logo descobre que ser gay, fashion e viver uma vida de luxo não é nada barato. Ele começa a dar pequenos golpes que, num efeito bola de neve, vão se tornando cada vez maiores até levá-lo à prisão - onde ele irá conhecer seu grande amor: Philip Morris (McGregor), um sujeito doce e um tanto ingênuo. O amor é à primeira vista. Mas nem com o novo namorado Steven consegue manter sob controle seu impulso mentiroso, o que só complica a situação.

Fora da prisão e com uma vida repleta de mentiras dos mais variados tamanhos, Steven consegue manter um alto padrão de vida. Obtém bons empregos, salários gigantescos e uma vida de luxo, dando um golpe depois do outro. Quando a verdade vier à tona, poderá ser tarde demais.

O humor em "O golpista do ano" vem mais do absurdo das situações, cada vez mais insólitas, do que das caretas de que Carrey não abre mão quando faz comédia. A ideia do filme não é que seu personagem seja engraçado. A graça reside na bola de neve, nas mentiras cada vez maiores e nas situações nada convencionais do romance entre Phillip e Steven.

Como já haviam revelado no roteiro de "Papai Noel às avessas", Glenn Ficarra e John Recqua mostram em "O golpista do ano" um gosto pelo politicamente incorreto. Não há limites para o romance dos dois personagens, que já na cadeia vivem uma paixão ardente.

Se Carrey é careteiro em boa parte do tempo, McGregor, pela terceira vez nos últimos meses, encarna o ingênuo útil - as outras duas foram em "O escritor fantasma" e "Os homens que encaravam cabras". McGregor faz o personagem com honestidade, sem nunca cair na caricatura ou na vulgaridade.

Nos Estados Unidos, "O golpista do ano" ainda está inédito em circuito comercial, embora já tenha sido exibido em festivais. Cogitou-se até em lançar o filme direto em DVD. Talvez seja um sinal dos tempos em que a sociedade norte-americana mostra-se mais conservadora. Em todo caso, é de se aplaudir a coragem e ousadia do ator em aceitar um papel tão controverso.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb