Saga de brinquedos dá sinais de cansaço em "Toy Story 3"
SÃO PAULO (Reuters) - Quando o primeiro filme "Toy Story" chegou aos cinemas, em 1995, o estúdio de animação Pixar era um ilustre desconhecido. Quinze anos, alguns filmes e muitos milhões de dólares depois, o cenário é completamente outro.
Pixar é um dos nomes mais poderosos de Hollywood, tem toque de Midas e parece ser incapaz de fazer um filme ruim - alguns podem ser inferiores a outros, mas nenhum é ruim de verdade. Agora chega aos cinemas "Toy Story 3", que retoma a saga dos brinquedos falantes, vistos pela última vez no segundo segmento da série, em 1999.
A magia já não está intacta, o frescor da novidade acabou há um tempo. "Toy Story 3", que estreia no país em cópias convencionais, 3D e IMAX (todos em versões legendadas e dubladas em português), dá alguns sinais de cansaço. Não na animação que, aliás, faz uso bem satisfatório do 3D, mas no roteiro - assinado por quatro profissionais, entre eles John Lasseter e Andrew Stanton (criadores da série) e Lee Unkrich, diretor deste filme e codiretor de "Procurando Nemo".
A premissa básica nem é promissora a ponto de segurar um filme inteiro. Andy, o dono dos brinquedos, entre eles o caubói Woody e o astronauta Buzz, tem 17 anos, vai para a faculdade e tem de se desfazer deles. Resolve guardar todos no sótão, menos Woody, que levará com ele. Mas, por um engano da mãe de Andy, todos eles são doados a uma creche.
Para segurar uma hora e meia de filme, há os desencontros, mal-entendidos e brigas típicos de uma comédia de erros. A creche parece uma comunidade hippie, onde todos são felizes e governados por um urso cor-de-rosa com cheiro de morango. Woody, que quer voltar para casa, pois sabe que Andy não queria mesmo desfazer-se de seus brinquedos, não consegue convencer seus amigos e resolve voltar sozinho.
Quando os verdadeiros interesses vêm à tona, as verdades aparecem e nem todos são o que aparentam ser. Duas linhas narrativas correm em paralelo, Woody tentando voltar para a creche e os demais brinquedos tentando fugir do urso, que na verdade é tirano e dominador.
Alguns novos personagens trazem certo humor ao filme. É uma grande sacada a presença de Barbie e Ken - ela, uma loura não muito inteligente, e ele, um metrossexual exagerado. Fora o urso e um boneco bebê que parece um autômato saído de ficção científica, os novos brinquedos não deixam uma impressão mais marcante.
Talvez a Pixar tenha demorado muito para fazer esta sequência e isso pese um pouco. Ou talvez o filme perca em comparação a diversas outras produções bem-sucedidas do estúdio nos últimos dez anos, combinando bom roteiro com uma animação fascinante - como "Procurando Nemo", "Ratatouille" e "Wall-E". Diante deles, "Toy Story 3" parece às vezes simples demais. Embora não chegue à redundância das continuações de "Shrek", o filme nunca encontra o espírito dos dois primeiros.
O que falta em "Toy Story 3" é exatamente o que sobra em "Dia e Noite", curta de Teddy Newton que precede o longa e, em poucos minutos, sem qualquer diálogo, critica o preconceito e a intolerância e faz lembrar que temos dentro de nós tudo aquilo que admiramos ou detestamos no outro.
O bom uso do 3D serve para realçar cores, formas e volumes, ao invés de apenas dar a impressão de "atirar coisas contra o público". Mas, também, não é imprescindível que se veja o filme nesse formato, ou mesmo no IMAX. A projeção convencional está bem à altura do que é oferecido aqui. Pelo final de "Toy Story 3", a saga de Woody e Buzz deve ter se concluído. Começa uma nova fase na vida dos brinquedos da série - mas não deve ser muito diferente daquela que viveram com Andy. Por isso, é provável que essa seja a última aventura cinematográfica dos personagens.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
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