Topo

Ícone francês "O Pequeno Nicolau" chega aos cinemas

O protagonista (centro) de ""O Pequeno Nicolau"", filme francês baseado em obra infanto-juvenil - Divulgação
O protagonista (centro) de ''O Pequeno Nicolau'', filme francês baseado em obra infanto-juvenil Imagem: Divulgação

01/07/2010 16h49

SÃO PAULO (Reuters) - O personagem Pequeno Nicolau está para as crianças francesas como o Menino Maluquinho está para as brasileiras. Ou seja, foi, e ainda é, o companheiro de infância de muita gente. Por isso, é de se estranhar que tenha levado tanto tempo para chegar ao cinema - isso aconteceu porque a pessoa que detém os direitos do personagem não gostava de nenhuma das sugestões de adaptação.

Baseado nas histórias criadas no final dos anos de 1950, pelo escritor René Goscinny (um dos autores de "Astérix") e ilustrado por Jean-Jacques Sempé, o filme "O Pequeno Nicolau" estreou na França no ano passado e foi a maior bilheteria nacional do país. No Brasil, o longa chega em circuito nacional, em cópias dubladas e legendadas.

Dirigido por Laurent Tirard ("As Aventuras de Molière") - que assina o roteiro com o comediante Alain Chabat e Grégoire Vigneron -, o filme não é bem uma adaptação de nenhum dos livros da série, mas uma história original.

O que o longa mantém, além de todos os personagens, é o espírito e a personalidade do menino Nicolau e daqueles que o cercam, seus pais e amigos de escola. O fio condutor da narrativa aqui é a possível gravidez da mãe do protagonista, bem como as tramoias do menino e seus colegas para se livrar de seu irmão, que não nasceu ainda.

Na verdade, a suposta gravidez da mãe (Valérie Lemercier, de "Um Lugar na Platéia") é fruto dos delírios infantis de Nicolau, interpretado pelo estreante Maxime Godart. Ele é o reizinho de sua casa, fazendo e desfazendo as coisas como bem entende.

Por isso, a única ameaça seria a chegada de um irmão para tirar o seu posto de filho único. Segue-se uma comédia de erros, amparada nos medos do menino diante de situações corriqueiras, como a sugestão de um piquenique - o que ele imagina que poderia ser uma desculpa para que os pais o abandonem na floresta.

O que Tirard e seus corroteiristas fizeram muito bem foi capturar a essência dos personagens de Goscinny e Sempé. "O Pequeno Nicolau" é um filme que capta a nostalgia de uma infância delicada e um tanto ingênua, mas muito divertida, com este Nicolau de imaginação fértil e amigos atrapalhados. O longa usa dessa inocência diante das atribulações do mundo como a força que o impulsiona.

Como nos livros, a visão simples - mas não simplista, nem simplória - que as crianças têm do mundo dos adultos expõe as complicações desnecessárias que pais e professores são capazes de criar para suas próprias vidas. O filme segue a mesma linha ao observar a realidade do ponto de vista de uma criança, com sua ingenuidade e sinceridade, que pode ser assustadora.

Visualmente, o filme de Tirard às vezes faz lembrar as obras do norte-americano Wes Anderson, com suas cores pasteis, cenários estilizados e figurinos que nunca mudam.

Em cena, Nicolau veste seu indefectível colete vermelho, gravata azul e cabelo desgrenhado. Seus coleguinhas também assumem estereótipos físicos e de personalidade, como o gorducho comilão, o queridinho da professora que usa óculos e é fracote, ou o menino que vive com a cabeça nas nuvens.

O status de ícone pop na França garantiu a "O Pequeno Nicolau" o sucesso de bilheteria. Fora de seu país natal, no entanto, talvez o filme não tenha a mesma sorte - o que seria uma pena, pois o personagem e seus amigos merecem ser descobertos por crianças e adultos.

Alguns, com uma lembrança nostálgica de sua infância, os outros, com a possibilidade de descobrir como era crescer sem computadores ou qualquer bugiganga eletrônica.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb