"Dzi Croquettes" resgata memória da trupe musical
SÃO PAULO (Reuters) - Quem se interessava pelo cenário artístico brasileiro dos anos de 1970 certamente conhecia os Dzi Croquettes. Se não havia ido a uma apresentação deles ao menos, sabia quem eram, pois eram sinônimo de vanguarda.
Combinando teatro, música, dança, irreverência e escracho, os Dzi Croquettes deixaram a sua marca por onde passavam. No entanto, estranhamente, algumas décadas depois quase ninguém se lembra do grupo.
"Dzi Croquettes", o documentário dirigido por Tatiana Issa e Raphael Alvarez, vai fundo na ascensão e desintegração do grupo de artistas que deixaram suas marcas até hoje no cenário cultural. Mais do que buscar razões para seu esquecimento, o filme, que estreia em circuito nacional, investiga o papel desses artistas no momento histórico-social do Brasil nos anos mais duros da ditadura militar.
Tatiana Issa conheceu-os pessoalmente quando criança. Filha do cenógrafo Américo Issa, ela cresceu próxima aos Dzi - como são conhecidos os membros do grupo. Esse lado pessoal traz um tom sentimental muito bem colocado no filme, que, em alguns momentos, é narrado em primeira pessoa. A codiretora, que assina também o roteiro, a produção e até fez câmera no filme, diz que, para ela, esses homens coloridos, cheios de purpurina e cílios postiços enormes eram "como palhacinhos que enfeitavam sua vida".
As imagens de arquivo - algumas encontradas num canal de televisão alemão que filmou um espetáculo na íntegra em meados de 1980 - mostram por que eles eram fascinantes em suas apresentações, ao mesmo tempo bonitos, engraçados e irreverentes. "Dzi Croquettes" esmiúça a amizade desse grupo, que se transformou numa verdadeira família.
Eram os anos de 1970, o momento de manifestações, o auge da contracultura, o que favoreceu o surgimento do grupo. Mas a ascensão, certamente, como mostra o filme, não foi apenas o fruto de um momento propício. O filme sabiamente nunca destaca uma única figura, mas mostra os Dzi como um todo, investigando um a um seus membros, suas trajetórias e trazendo depoimentos daqueles que ainda estão vivos.
Além deles, atrizes como Marília Pêra, Maria Zilda e Claudia Raia contam suas experiências com eles. Um dos depoimentos mais calorosos é da cantora e atriz norte-america Liza Minelli, uma espécie de madrinha do grupo. Graças a ela, os Dzi tomaram Paris, transformando-se num grande sucesso na capital francesa, onde ainda são lembrados.
A influência deles está presente em nossa cultura até hoje, seja nas figuras que trabalharam com eles, como Miguel Fallabela e Jorge Fernando, mas também no vocabulário - é deles, por exemplo, a origem da palavra "tiete".
Membros originais do grupo, Claudio Tovar, Ciro Barcelos, Bayard Tonelli, Rogério de Poly e Benedito Lacerda relembram seus dias de Dzi e o que o grupo representou para a cultura brasileira.
Para algumas gerações, assistir ao documentário "Dzi Croquettes" é um mergulho num passado quase inimaginável - uma época de deboche, irreverência e criatividade. Para quem conheceu o grupo, o filme é uma viagem nostálgica no tempo.
Premiados em diversos festivais - entre eles a Mostra Internacional de São Paulo e o Festival do Rio - o filme de Tatiana e Alvarez é uma celebração do espírito artístico indomável, da força e da beleza que existe na arte de contestar com bom humor.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.