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"Dzi Croquettes" resgata memória da trupe musical

""Dzi Croquettes"" mostra a trajetória do irreverente grupo de dança carioca  - Divulgação
''Dzi Croquettes'' mostra a trajetória do irreverente grupo de dança carioca Imagem: Divulgação

15/07/2010 13h15

SÃO PAULO (Reuters) - Quem se interessava pelo cenário artístico brasileiro dos anos de 1970 certamente conhecia os Dzi Croquettes. Se não havia ido a uma apresentação deles ao menos, sabia quem eram, pois eram sinônimo de vanguarda.

Combinando teatro, música, dança, irreverência e escracho, os Dzi Croquettes deixaram a sua marca por onde passavam. No entanto, estranhamente, algumas décadas depois quase ninguém se lembra do grupo.

"Dzi Croquettes", o documentário dirigido por Tatiana Issa e Raphael Alvarez, vai fundo na ascensão e desintegração do grupo de artistas que deixaram suas marcas até hoje no cenário cultural. Mais do que buscar razões para seu esquecimento, o filme, que estreia em circuito nacional, investiga o papel desses artistas no momento histórico-social do Brasil nos anos mais duros da ditadura militar.

Tatiana Issa conheceu-os pessoalmente quando criança. Filha do cenógrafo Américo Issa, ela cresceu próxima aos Dzi - como são conhecidos os membros do grupo. Esse lado pessoal traz um tom sentimental muito bem colocado no filme, que, em alguns momentos, é narrado em primeira pessoa. A codiretora, que assina também o roteiro, a produção e até fez câmera no filme, diz que, para ela, esses homens coloridos, cheios de purpurina e cílios postiços enormes eram "como palhacinhos que enfeitavam sua vida".

As imagens de arquivo - algumas encontradas num canal de televisão alemão que filmou um espetáculo na íntegra em meados de 1980 - mostram por que eles eram fascinantes em suas apresentações, ao mesmo tempo bonitos, engraçados e irreverentes. "Dzi Croquettes" esmiúça a amizade desse grupo, que se transformou numa verdadeira família.

Eram os anos de 1970, o momento de manifestações, o auge da contracultura, o que favoreceu o surgimento do grupo. Mas a ascensão, certamente, como mostra o filme, não foi apenas o fruto de um momento propício. O filme sabiamente nunca destaca uma única figura, mas mostra os Dzi como um todo, investigando um a um seus membros, suas trajetórias e trazendo depoimentos daqueles que ainda estão vivos.

Além deles, atrizes como Marília Pêra, Maria Zilda e Claudia Raia contam suas experiências com eles. Um dos depoimentos mais calorosos é da cantora e atriz norte-america Liza Minelli, uma espécie de madrinha do grupo. Graças a ela, os Dzi tomaram Paris, transformando-se num grande sucesso na capital francesa, onde ainda são lembrados.

A influência deles está presente em nossa cultura até hoje, seja nas figuras que trabalharam com eles, como Miguel Fallabela e Jorge Fernando, mas também no vocabulário - é deles, por exemplo, a origem da palavra "tiete".

Membros originais do grupo, Claudio Tovar, Ciro Barcelos, Bayard Tonelli, Rogério de Poly e Benedito Lacerda relembram seus dias de Dzi e o que o grupo representou para a cultura brasileira.

Para algumas gerações, assistir ao documentário "Dzi Croquettes" é um mergulho num passado quase inimaginável - uma época de deboche, irreverência e criatividade. Para quem conheceu o grupo, o filme é uma viagem nostálgica no tempo.

Premiados em diversos festivais - entre eles a Mostra Internacional de São Paulo e o Festival do Rio - o filme de Tatiana e Alvarez é uma celebração do espírito artístico indomável, da força e da beleza que existe na arte de contestar com bom humor.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb