"Fluidos" procura desmistificar a magia de fazer cinema
SÃO PAULO - "Fluidos", que estreia em apenas uma sala em São Paulo, é mais do que um filme: é uma experiência sobre uma filmagem em tempo real, embora a história tenha elipses e não se passe nos apenas 70 minutos do longa.
O filme foi rodado três vezes: no Centro Cultural São Paulo, em maio de 2009; no Sesc Pompeia, em novembro de 2009; e no CineSesc, em maio passado, sendo esta a versão que chega ao cinema como a definitiva.
O projeto consistiu em filmar as cenas ao mesmo tempo em que eram exibidas numa sala. Por isso, as histórias acontecem no próprio local da exibição e sua vizinhança. Quem assistir a esse "Fluidos" facilmente reconhecerá ambientes do CineSesc paulistano, bem como fachadas e bares de seu entorno que também servem como cenário.
As histórias são simples, como os personagens. A graça toda está na habilidade do diretor Alexandre Carvalho e sua equipe em orquestrar equipamentos e atores e fazer parecer que a rodagem se desenvolveu ao longo de algumas semanas em pontos bem distantes da cidade de São Paulo.
O que "Fluidos" procura é fazer refletir sobre a tal magia do cinema.
A narrativa compreende três tramas que acontecem em paralelo e, eventualmente, se cruzam sem interferir muito uma na outra.
TRAILER DO FILME "FLUIDOS"
Suzie (Francine Souza) e Chico (Mário Ilha) formam um casal ninfomaníaco para quem o celular e o voyeurismo são ferramentas de sedução e desejo. Lucas (Gus Stevaux) expõe sua vida e seu problema físico num programa de televisão. Sua amizade com a produtora (Tatina Eivazian) torna-se ambígua, à medida em que eles se envolvem sexualmente. A terceira história envolve Raquel (Silvia Pecegueiro), cujo marido está fora do país e com quem ela se relaciona pela Internet. Suas conversas com sua professora de artesanato, a transexual Tâmara (Tânia Granussi), levam-na a cogitar outros caminhos para a sua vida.
Estas histórias sem grandes pretensões narrativas ou profundidade nos personagens servem muito bem ao propósito do filme. Carvalho brinca também com as possibilidades tecnológicas a as insere de forma coerente, caso dos vídeos feitos pelo em celular pelo casal ou as conversas de Raquel com o marido.
Há também algumas boas sacadas visuais, como no momento em que o casal conversa no bar do CineSesc e a imagem deles é reproduzida infinitas vezes na tela do cinema que está ao fundo.
Talvez assistir a "Fluidos" no cinema, nesta versão finalizada, não seja uma experiência tão completa e divertida quanto ver o filme enquanto estava sendo feito. Em todo caso, vale a experiência para se pensar no ofício e na arte de fazer cinema.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
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