"Moscou, Bélgica" faz comédia romântica sem clichês
SÃO PAULO - "Moscou, Bélgica", que estreia em São Paulo, é uma comédia romântica. Mas uma comédia romântica belga. Por isso, esqueça os clichês hollywoodianos do gênero e pense mais num filme do diretor inglês Mike Leigh ("Segredos e Mentiras").
O filme não tem tanta angústia social, mas ainda assim é protagonizado por pessoas de classe trabalhadora, que dão duro o dia inteiro e que, quando chega a noite, não tiveram tempo de ir ao cabeleireiro para fazer escova, nem terão um jantarzinho à luz de velas numa doce Nova York coberta de neve.
Matty (Barbara Sarafian, de "8 1/2 Mulheres") foi abandonada pelo marido, um professor de arte que foi viver com uma menina de 20 e poucos anos, e cuida dos filhos sozinha. Morando num bairro proletário na cidade de Ghent, chamado Moscou, ela trabalha numa agência do correio. Agora, ela está resignada a passar o resto da vida sem um homem para chamar de seu.
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A filha mais velha, Vera (Anemone Valcke), está prestes a completar 17 anos e é rebelde. Namora uma garota de sua idade --o que não incomoda em nada Matty. Já a do meio, Fien (Sofia Ferri), lê tarô e a mãe parece dar-lhe mais crédito do que ela e suas cartas merecem. O caçula, Peter (Julian Borsani), diz que será piloto.
A vida de Matty muda apenas quando bate seu carro contra o caminhão de Johnny (Jurgen Delnaet). A batida termina numa série de insultos e muita discussão.
Quando, no dia seguinte, ela aparece na casa dela, a vida desses dois personagens sem rumo se transforma. Ela perdeu completamente a fé nos homens, ele foi abandonado pela namorada, que preferiu um sujeito melhor de vida.
Johnny vê nela a possibilidade da mudança. Ela pode ser uma mulher melhor do que todas as outras que conheceu. O fato de ser mais velha, mais experiente, pode ser o diferencial no relacionamento. O conto de fadas acaba, no entanto, quando se revelam os problemas do rapaz com o álcool.
O diretor Christophe Van Rompaey acompanha esses personagens, seus altos e baixos, com carinho, buscando o que há de mais humano neles, sem nunca transformá-los em figuras caricatas ou unidimensionais.
Os momentos banais da vida de qualquer pessoa ganham novas dimensões quando filtrados pelo prisma do diretor. As pessoas vêm e vão nas vidas de umas das outras, mas o cotidiano, e as necessidades diárias ficam.
Esteja sozinha ou namorando, com ou sem trabalho, Matty terá de dar um jeito de ter dinheiro para comprar comida. A vida não para.
O desenvolvimento dos personagens, aliado a boas performances, é o que desperta o interesse em "Moscou, Bélgica". Ao final, os personagens são humanos e fazem escolhas. Não há certo ou errado, há escolhas e as consequências de cada uma delas.
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
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