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"The Runaways" vai além da biografia da banda de rock

Dakota Fanning e Kristen Stewart são Cherie Currie e Kristen Stewart em ""The Runaways"" - Divulgação
Dakota Fanning e Kristen Stewart são Cherie Currie e Kristen Stewart em ''The Runaways'' Imagem: Divulgação

07/10/2010 14h04

Na adolescência, Joan Jett queria aprender a tocar guitarra, mas um professor de violão insistia: guitarra não é coisa de mulher. E, mais uma vez, tentava ensinar-lhe uma musiquinha quase infantil - para desespero da garota, que se revoltava e, mais tarde, se tornaria uma das maiores roqueiras do mundo. Ao menos essa é a história de "The Runaways - As Garotas do Rock", que estreia em circuito nacional.

Kristen Stewart - a Bella da série "Crepúsculo" - interpreta Joan. A personagem tem um papel importante no longa da diretora estreante Floria Sigismondi, mas o filme é mais sobre Cherie Curie, cantora e colega de Joan na banda The Runways, do que sobre a guitarrista, que acaba ficando para segundo plano na história. Cherie é interpretada por Dakota Fanning, que aliás também participa da série "Crepúsculo".

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O filme acompanha a ascensão da banda The Runaways - que teve seu auge entre 1975 e 1979 - um processo regado a drogas e sexo. Tudo isto é retratado de forma um tanto branda em se tratando da liberdade dos anos 1970. Por sua vez, o visual do filme, com diferentes texturas, cores e luzes, traduz bem o que era ser jovem naquela época, dominada pelos excessos da era pré-Aids.

No centro da trama estão Joan, Cherie e o homem que as uniu: o empresário Fowley (Michael Shannon, de "Foi apenas um sonho"). Ele teve a percepção de unir o talento musical de Joan com a beleza e a ferocidade de Cherie, criando logo o hit "Cherry Bomb".

As meninas eram o que se chama "jailbait" (em bom português, "chave de cadeia"). Menores de idade, elas transferiram para a música, coreografia e figurinos seus hormônios juvenis em ebulição. A combinação rendeu milhões e a fama repentina.

Há no filme um dilema entre ser a mulher-objeto que satisfaz as fantasias mais sórdidas (Cherie) ou manter-se fiel aos seus ideais e ao amor pela música (Joan). A escolha foi feita pelas personagens. Na vida real, como o filme mostra sem muita profundidade, Cherie mergulha num oceano de egolatria e autodestruição, que culmina em internações para desintoxicação.

O filme não procura fazer julgamentos, focando-se em retratar as artistas enquanto jovens. Neste sentido, "The Runaways" é mágico. Em sua época, a banda tornou-se uma febre mundial, como se observa numa apresentação delas em Tóquio, abarrotada de adolescentes histéricas que se vestem e maquiam como seus ídolos. Nada mal para duas garotas de 16 anos que, meses antes, contentavam-se em imitar David Bowie.

Há muito Dakota não surpreendia no cinema. Relegada ao posto de coadjuvante na série "Crepúsculo", em "The Runaways" ela volta a dar sinais do talento promissor demonstrado em filmes como "Uma Lição de Amor". Ela domina a cena ao encontrar a dimensão humana por trás da fama de Cherie.

Por isso, o filme é muito mais que apenas a biografia de uma banda de rock feminina. Kristen também mostra que seu talento é muito maior do que os suspiros e olhares perdidos no horizonte de Bella. Ainda assim, "The Runaways..." pertence a Dakota, até porque sua personagem é mais interessante e complexa.

Mais de três décadas depois, Joan provou que seu professor estava errado e que o rock seria sua vida. "Eu amo rock and roll" é o título e refrão de uma de suas músicas mais famosas. Cherie talvez não gostasse tanto assim de música e a fama pode ter sido obra do acaso. Independentemente disso, a história delas rendeu um filme bastante empolgante.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb