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Diretores culpam Internet por crise da indústria cinematográfica

Os cineastas Neil Jordan, Kichitaro Negishi, Hur Jin-ho, Domenico Procacci e a atriz e cantora Judy Ongg na abertura do 23º Festival de Tóquio (23/10/2010) - Kiyoshi Ota/Getty Images
Os cineastas Neil Jordan, Kichitaro Negishi, Hur Jin-ho, Domenico Procacci e a atriz e cantora Judy Ongg na abertura do 23º Festival de Tóquio (23/10/2010) Imagem: Kiyoshi Ota/Getty Images

25/10/2010 14h54

Por Elaine Lies

TÓQUIO (Reuters Life!) - A indústria cinematográfica está atualmente em um estado de crise que deixou alguns diretores sem trabalho, muitos deles com problemas até para sobreviver.

A grande vilã dessa situação é a Internet, que ocupa o público tradicional e torna mais difícil para os diretores a produção de filmes, afirmou nesta segunda-feira o diretor irlandês Neil Jordan, membro do júri do Festival Internacional de Cinema de Tóquio.

"Há uma crise real na indústria neste momento, e isso fica claro para mim pelo fato de que todos os diretores que eu conheço estão desempregados. Ou quase todos", afirmou Jordan, que é vencedor do Oscar e dirigiu produções como "Traídos Pelo Desejo" e "A Companhia dos Lobos".

Jordan, que chefia o júri, acrescentou: "Acho que a crise no cinema é causada pela Internet. Como em qualquer outra indústria -- música, editoras, filmes. A Internet está mudando os hábitos das pessoas e tudo está em estado de fluxo."

Ironicamente, o festival foi aberto no sábado com a exibição de "A Rede Social", um filme sobre a fundação do Facebook. Há 15 competidores pelo maior prêmio, o Sakura, que distribui 50 mil dólares. As produções foram selecionadas em mais de 80 países e regiões.

Entre os filmes, estão duas produções chinesas, incluindo "Buddha Mountain", do diretor Li Yu, três do Oriente Médio, com destaque para "Flamingo No. 13", do diretor iraniano Hamid Reza Aligholian, e "Post Card", do diretor japonês Kaneto Shindo, que tem 98 anos de idade.

O Japão, que deu ao mundo gênios como Akira Kurosawa, cujo centésimo aniversário de seu nascimento será lembrado no festival, não está imune aos problemas do cinema, com o público em queda em relação à última década. O apetite da nação por filmes estrangeiros também caiu.

Produções de outros países foram responsáveis por 43 por cento dos 206 bilhões de ienes (2,53 bilhões de dólares) arrecadados nas bilheterias japonesas no ano passado. Esse número chegou a 73 por cento em 2002, de acordo com a Associação de Produtores de Filmes do Japão.

Jordan afirmou que, embora esteja certo de que o cinema vai reviver, no momento está extremamente difícil para os bons filmes saírem do "confinamento" do número cada vez maior de festivais.

"Acho muito importante que filmes não fiquem no 'gueto' dos festivais", afirmou. "Festivais são enormemente importantes, porque são uma das poucas vias que sobraram para a indústria séria, mas também é importante que os filmes cheguem além do circuito de festivais, para encontrar o público em todo o mundo."

O Festival Internacional de Cinema de Tóquio será encerrado até 31 de outubro e terá uma homenagem ao astro chinês Bruce Lee.