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Cineasta iraniano vai a julgamento e rejeita acusações

16/11/2010 15h52

ROMA, Itália - O aclamado cineasta Jafar Panahi foi a julgamento no Irã, acusado de fazer um filme sem autorização e de incitar protestos oposicionistas, segundo comunicado divulgado na Itália.

Depois de ser preso em março e passar 88 dias em detenção, durante os quais fez greve de fome, Panahi foi impedido de comparecer ao festival de cinema de Veneza em setembro.

O cineasta norte-americano Steven Spielberg e a atriz francesa Juliette Binoche estiveram entre as personalidades do cinema que se manifestaram em apoio a ele.

Panahi, 50 anos, desagradou às autoridades iranianas por apoiar um candidato oposicionista na eleição presidencial do ano passado, na qual Mahmoud Ahmadinejad, de linha dura, conquistou um segundo mandato presidencial, num resultado que suscitou protestos de rua em grande escala.

Em sua declaração ao tribunal, transmitida à Reuters pelos organizadores de um dos eventos do festival de Veneza, Panahi se disse vítima de injustiça e qualificou como "piada" uma das acusações feitas contra ele.

O diretor disse que já tinha começado a produzir seu filme mais recente quando sua casa foi invadida e sua coleção de filmes foi tachada de "obscena" e apreendida.

"Não compreendo a acusação de obscenidade dirigida contra clássicos da história do cinema, nem compreendo o crime do qual sou acusado", teria dito Panahi, segundo a tradução inglesa de sua declaração à corte.

A mídia iraniana não divulgou o julgamento nem as acusações.

Muitos filmes são proibidos no Irã se não obedecem o código moral rígido do governo, embora a maioria dos filmes, mesmo os lançamentos mais recentes de Hollywood, possa ser encontrada em DVDs piratas.

As autoridades iranianas regularmente acusam governos e mídia ocidentais de fazerem propaganda política contra a República Islâmica.

Panahi recebeu o prêmio da Câmera de Ouro de Cannes por seu filme de 1995 "O Balão Branco" e, cinco anos depois, o Leão de Ouro de melhor filme no festival de Veneza por "O Círculo", que trata das dificuldades de mulheres que vivem sob as restrições impostas pelo Estado islâmico.